quinta-feira, 19 de maio de 2022

𝐎 𝐋𝐈𝐍𝐇𝐎

 A nossa querida Mestre Emília deixou-nos as suas memórias e testemunhos dos modos de vida de antigamente. Com ela aprendemos o ciclo do linho.

“𝐸𝑟𝑎 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑟 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑏𝑒𝑚 𝑎 𝑡𝑒𝑟𝑟𝑎, 𝑡𝑖𝑟𝑎𝑟 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑝𝑒𝑑𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑠 𝑠𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑜 𝑒𝑟𝑎𝑚 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑝𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑎𝑠. 𝑆𝑒 𝑎 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎𝑐̧𝑎 𝑓𝑖𝑐𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑗𝑢𝑛𝑡𝑎, 𝑓𝑖𝑐𝑎𝑣𝑎 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑓𝑖𝑛𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑣𝑎-𝑠𝑒 𝑚𝑒𝑙ℎ𝑜𝑟, 𝑠𝑒 𝑓𝑖𝑐𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑟𝑎𝑟𝑎 𝑎 𝑠𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑠𝑎𝑖́𝑎 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠𝑎.” Mestre Emília Pires, 2016

O ciclo do linho passa pelas seguintes fases:

1 – O terreno era preparado e semeado o linho em Março e/ou Abril. Depois nos meses seguintes era regado e mondado. Em Julho estava pronto para ser arrancado inteiro com as mãos e colhido.

2 - O linho era ripado. Sacudia-se o linho para separar os caules das sementes. As melhores sementes eram guardadas para semear no ano seguinte.

3 - Com o linho faziam-se molhos para curtimento. Os molhos eram colocados no rio Baceiro e deixados de molho uma semana ou quinze dias para curar. Seguravam-se os molhos com pedras grandes para não fugirem com as correntes do rio.

4 - Os molhos eram retirados do rio e colocados a secar ao sol. O linho estendia-se nas pedras, nos amieiros. Passados dois ou três dias ia-se buscar.

5 - Os homens da aldeia juntavam-se e maçavam o linho. O linho ia para os maçadoiros, que são grandes pedras onde o linho era maçado. Colocava-se o linho nas pedras e depois era batido com um pau de madeira para ficar mole/macio, quebrando a parte lenhosa.

6 - Depois de maçado, as mulheres juntavam-se para espadar o linho. O linho era espadado em cima de um cortiço. Esta fase consistia em limpar e purificar o linho. Eram retiradas as partes grosseiras, lenhosas e partidas do linho. Limpas as arestas. O linho tinha de estar bem seco para se tirar o tasco grosso.

“𝑆𝑒 𝑜𝑠 𝑟𝑎𝑝𝑎𝑧𝑒𝑠 𝑠𝑜𝑢𝑏𝑒𝑠𝑠𝑒𝑚, 𝑎𝑝𝑎𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎𝑚 𝑒 𝑓𝑎𝑧𝑖𝑎𝑚 𝑓𝑜𝑔𝑜 𝑎𝑜𝑠 𝑡𝑎𝑠𝑐𝑜𝑠. 𝑁𝑜́𝑠 𝑖́𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑎𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟 𝑐𝑜𝑚 𝑢𝑚 𝑝𝑎𝑢 𝑒 𝑎𝑡𝑖𝑐̧𝑎́𝑣𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑎𝑖𝑛𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑜 𝑓𝑜𝑔𝑜.” Mestre Emília Pires, 2016

7- O linho era passado pelo sedeiro. Uma “escova” com dentes de aço, que separava o linho da estopa. A estopa caía ao chão e o linho ficava no sedeiro. O linho é uma fibra fina. A estopa é mais escura, grossa e de menor qualidade. Com o linho faziam-se coisas mais delicadas e finas, a estopa servia para confecionar coisas mais grosseiras como panos, lençóis, colchões. A estopinha é a estopa mais fina.

8 - O linho era fiado nas rocas e fusos pelas mulheres, transformando-se em fios. Deste processo resultavam as maçarocas. As maçarocas cresciam no fuso à medida que as mulheres fiavam.

9 - As maçarocas eram transformadas em meadas através do sarilho. Do processo de passagem do linho do fuso (as maçarocas) para o sarilho, faziam-se as meadas. As meadas iam a cozer com cinza e sabão para corar/branquear. Eram batidas, lavadas e depois penduradas para secar.

10 - Depois de clareado e seco, dobava-se o linho numa dobadoira para fazer os novelos. O linho estava pronto para ser trabalhado.

11 - Levavam-se então os novelos a uma tecedeira. No tear faziam lençóis, toalhas de mesa, colchas, entre outros.

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