Exploração na localidade de Calabor, a dois quilómetros da fronteira portuguesa, deixa apreensivos autarcas e residentes, sobretudo porque há muito silêncio sobre o projeto
Foi com espanto que a população da fronteira em Bragança soube que a cinco quilómetros de Rio de Onor, na área de Calabor (Espanha) a dois quilómetros do Parque de Montesinho, poderá surgir uma exploração de volfrâmio e estanho, com extração a céu aberto e lavagem de inertes. O estudo de impacto ambiental (EIA) do projeto espanhol está em consulta pública até dia 21.
Se a possibilidade de criar postos de trabalho à porta de casa não desagrada, existe apreensão perante uma extração a descoberto e eventuais impactos que poderão acarretar nas aldeias, nomeadamente, Rio de Onor, uma das Sete Maravilhas portuguesas, Aveleda e Varge, em área protegida. Manuel Preto, residente na freguesia, nunca ouvir falar de tal projeto, mas não lhe parece “grande coisa”.
A mina, que ocupará uma grande área de terreno, tem sido muito contestada por associações ambientalistas espanholas, já que está projetada para uma zona de alto valor ecológico na Rede Natura 2000 e dentro da Zona Especial de Conservação da Serra da Culebra, pondo em causa o habitat de espécies como o lobo ibérico e aves de rapina. Do lado português, tem passado despercebida.
O presidente da União das Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, Mário Gomes, tem conhecimento de que o EIA está na fase final da consulta pública, mas admite que não tem conhecimentos para analisar com rigor o documento “que é muito técnico”, salienta.
16 PONTOS NEGATIVOS
O EIA revela impactos positivos, ao nível do emprego, mas aponta diversos negativos. São 16, só ao nível da vegetação, que poderão ir de moderados a severos, mas sobretudo ao nível da fauna, onde “o efeito mais óbvio é produzido pela destruição do habitat [de várias espécies], refere o documento.
João Branco, do núcleo de Vila Real da Associação Ambientalista Quercus, nota que o estudo confirma a presença da toupeira de água “que é muito rara” e do lobo ibérico que também é protegido em Portugal e a espécie emblemática do Montesinho. “Trata-se de uma área muito grande a ser escavacada”, acrescentou João Branco, lembrando que Montesinho é um território de passagem de muitos animais “e até um urso lá foi detetado”. A mina está planeada para a bacia hidrográfica do Douro. “Prevê-se que os cursos de água e as subterrâneas venham a ter alguma contaminação”, sublinhou o ambientalista. Há ainda a questão do arrastamento de poeiras.
O projeto implica a instalação de uma linha de alta tensão “que pode ter influência em aves em vias de extinção, como a águia-real e a de bonelli”, diz, lamentando que o EIA seja pouco clarificador. O ambientalista sugere que os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Ambiente “façam pressão diplomática sobre o Governo espanhol para impedir a instalação da mina”.
Empresa ligada às minas da Panasqueira
A concessão é detida pela Valtreixal Ressources, uma empresa espanhola associada a um dos gigantes das minas, o grupo empresarial Almonty Industries INC que tem vários projetos pelo Mundo, nomeadamente nas minas da Panasqueira (Covilhã), que labora há 120 anos, sendo uma referência no setor. O grupo empresarial é especialista na pesquisa e prospeção de jazigos minerais de volfrâmio. Em Alto Calabor, mais a norte, houve exploração mineira já no século XIX e, em 1942, ainda trabalhava, mas foi desativada com o fim da II Guerra Mundial. Não há evidências de prospeção desde 1969.
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