Era uma vez uma princesa. Quer dizer, não era uma princesa, pois seria rainha caso o regime fosse desses. Como no país de sua residência vigora desde o início o regime republicano, era uma vez uma Primeira-dama que parecia uma boneca de porcelana e tinha um ar quase real.
Quase não se mexia, ou se o fazia, era assim muito direita e muito senhora do seu porte, que não sendo altivo, era de meter respeito. Era bonita e sempre bem aperaltada. Mas diziam que era muito infeliz e quase não falava, não se sabe se por opção se por obrigação.
O marido tinha ido longe na carreira, depois de andar aos solavancos entre negócios e ócios, e perdia-se por um rabo saia, como se costuma dizer. Ela não era a sua primeira esposa e muito possivelmente não seria a última, a não ser que ele se finasse antes dela.
A senhora era oriunda de um daqueles países ditos de leste, e veio governar a vida na grande América à procura de um grande sonho. Não se sabe ainda se o concretizou, mas alcançou alto na escadaria social. Nunca perdeu foi um certo ar de costureirinha fina, que faz arranjinhos e fatos à medida, mas não sabe de computadores que é emprego com saída, como canta um certo trovador.
Quando o excelso esposo foi eleito para a governação e se mudou para o palácio noutra cidade, ela ficou no seu lar, suspirando e gemendo pelo seu amado, como é timbre de extremosa esposa. Não se lhe conheciam grandes saídas nem escapadelas, por lhe não serem de feição se calhar, e porque era vigiada por mil atentos olhos.
Ficou-se na redoma, rodeada de luxos a preceito. Era só querer uma coisa para comer ou vestir e ela aparecia. Mas tinha um olhar triste. Quase não falava. Quem não temesse ser injusto até diria que ela não tinha opinião a não ser acerca da temperatura ambiente do enorme apartamento situado uma alta e horripilante torre edificada e fortificada.
Mas um belo dia falou. Alinhou muito bem as frases e mesmo as ideias, durante pelo menos cinco minutos. Estava-se no princípio da campanha eleitoral, e ela apelou ao voto no seu marido como lhe pediram e lhe competia. Também aqui não se sabe se foi por amor, por convicção ou por obrigação, mas cumpriu.
Que ou era a continuação dele ao leme, disse, ou seria um descalabro, pois não vislumbrava ninguém com a pujança, a visão e o saber fazer bem do seu homem. Falou dele, como se ele fosse um santo e não usasse a mentira como arma e a intolerância como argumento. Fez dele um bezerro de ouro a ser adorado ali e em todo o lado.
No momento em que se faz este narrar, ainda se não sabe o resultado das eleições que sendo naquele país influenciam em todo o mundo. Mas há fortes possibilidades de a senhora dona Melania continuar a ser a primeira entre as últimas do seu Donald. Mereceu porque falou.
Se ele vai ou não continuar a saga das diabruras insanas, não se sabe, pois em democracia, mesmo que manipulada e adulterada, ninguém consegue adivinhar. Só calcular e deduzir.
Quanto a mim, parece-me cada vez mais que no dia quatro de novembro, ela vai saltar para o colo do seu mais que tudo. Salvo seja, pois ela fogosa, mas ele já não vai para novo. Poderá ser que a deixem falar mais um pouco outra vez.
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