No entanto, passam os dias, os meses e os anos, sucedem-se programas ditos de incentivo ao investimento, anunciam-se medidas e mais medidas e as curvas estatísticas não invertem o sentido, continuando num percurso vertiginoso sem fundo à vista onde bater.
A ruralidade, como ainda a conhecemos neste país até há meio século, era o resto nada empolgante de uma história triste de séculos, que nos conduziu à vida em tons de cinza, sulcada de rugas, cabisbaixa, seguindo os ritmos das trindades, tomada pela miserável comiseração de quem se afunda nas trevas.
O olhar romântico sobre tal realidade, de alguns privilegiados que puderam saltar para fora, ainda anima serões de saudosismo efémero, que não passa de cócegas agradáveis na alma, muito de vez em quando, porque chegaria o momento de ficarem transidos de dor e de vergonha.
Os aglomerados rurais, na sua grande maioria, não terão condições de permanecer, por razões económicas, mas também psicológicas e de dignidade cívica.
Seria estultícia aceitar que as potencialidades produtivas do território fossem desprezadas. Mas, naturalmente, nunca mais suportará níveis de população como os que se conheceram, com todo o rosário de pobreza, subnutrição, baixa esperança de vida e condenação ao êxodo.
Esperar-se-ia, então, que nalgumas vilas e cidades se pudessem encontrar condições para travar a sangria, mas os sinais não anunciam nada de bom. Os indicadores demográficos de Bragança e Mirandela expressam graves perdas nos últimos anos, apesar dos contributos positivos das escolas do IPB e de algumas unidades industriais.
As gerações que frequentam o ensino superior ou que o completaram recentemente, tendem a ficar pelo litoral ou a procurar, ainda mais longe, soluções para as suas vidas, porque continuam sem possibilidade de emprego na região, muito menos de aceder à prosperidade que merecem.
Mesmo quando queremos ver indicações de que não está tudo perdido, logo nos confrontamos com outros dados inquietantes. Em Bragança cidade verificou-se, de 2017 para 2019, um aumento de 700 eleitores. Talvez tivessem origem em concelhos vizinhos ou na deslocação de gente para o interior. Ou talvez não. Poderão simplesmente ser pessoas que atingiram a condição de cidadania mas, em breve, integrarão os cadernos eleitorais da grande Lisboa ou do grande Porto para toda a vida, filhos e netos incluídos.
Se não houver concertação de vontades para fazer o último combate pelo nosso direito ao futuro, garantindo a reversão de medidas que prejudicaram o território, a reposição de serviços e a instalação de outros para sermos tratados como o resto do país, a história cobrirá com páginas de vergonha os cidadãos, os deputados e os responsáveis municipais.
Caro Teófilo Vaz,
ResponderEliminarFoi com muita emoção que li seu artigo/crônica sobre o presente e o futuro da região nordeste da península, mormente da região de Bragança. Fico triste, pois embora nunca tenha ido a Portugal, aprendi a amar o povo das terras altas.
Lamento que os políticos, atuais e antigos, não encontrem uma oportunidade para que as aldeias não desapareçam.
Pena que somente os intelectuais se manifestem, ainda que as pessoas que trabalham na zona rural gostariam de também se manifestarem.
Daqui, do meu recanto, nesse interminável isolamento social, verte de meus olhos uma lágrima brasuca.
Fico triste que isso aconteça!
Quero crer que um paliativo para a situação, já centenária, seria os próprios (aqui não se diz pro'pio), habitantes tentarem atrair turistas.
Aqui no Brasil, todos os anos temos notícias de fazendas agrícolas que mantém 50% de sua produção, e reciclam antigas construções em pousadas, hostess, hotéis e pensões que aceitam hóspedes que se interessem a viver alguns dias no campo, participando das colheitas de amêndoas, azeitonas, castanhas, mel; para aprenderem a fazer queijos e pães. ......
Quisera eu pudesse ajudar!!!!!
Um afago desse brasuca que tanto ama esse povo maravilhoso.
Como dizem os em dialeto Caipires,
"Inte' carque' dia ".