sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Pode abrir uma mina espanhola a "céu aberto" às portas de Portugal

 A empresa Valtreixal Resources Spain prevê criar 600 postos de trabalho.
Termina esta sexta-feira o prazo para a consulta pública do Estudo de Impacto Ambiental para a abertura de uma mina de volfrâmio, em Espanha, a cerca de cinco quilómetros da fronteira portuguesa, no distrito de Bragança.

Entidades públicas e privadas portuguesas já se manifestaram contra a exploração a "céu aberto" deste empreendimento que promete criar cerca de 600 postos de trabalho, 200 diretos e 400 indiretos, naquela zona do interior espanhol.

A exploração será feita em cerca de 250 hectares na zona de Valtreixal, Pedralva de la Pradéria, no limite da proteção ambiental da Serra da Culebra, na Sanábria, a cerca de cinco quilómetros da fronteira portuguesa e do Parque Natural de Montesinho.

Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança defende que o projeto deve ser revisto. "Porque não foram avaliados os reais efeitos na redução de caudais nas linhas de água, que neste caso, são transfronteiriças. Também não foram acautelados os impactos no rio Calabor que passa para o lado português (aldeia da Aveleda) nem se identificou qualquer sistema de alerta nas medidas de mitigação que estão preconizadas no estudo de impacte ambiental".

O município colocou na plataforma de consulta pública um documento, extenso, fundamentando todas as preocupações, principalmente ambientais, em relação à reabertura da mina.

Também a Associação Transfronteiriça RIONOR - Rede Ibérica Ocidental para uma Nova Ordenação Raiana tem razões para se opor à reativação da exploração mineira naquele local." Os impactes ambientais são terríveis", assinala Francisco Alves, presidente da RIONOR, que acrescenta que "os territórios de Portugal vão levar com materiais que são tóxicos e depois, as intempéries vão levar esses produtos para as águas, para as camadas freáticas e acabamos com isto tudo poluído".

Francisco Alves acrescenta que a exploração do volfrâmio vai trazer mais prejuízos que lucros e que será o fim daquele território classificado pela UNESCO, tal como se conhece. "É a morte! Arranjamos emprego para 220 pessoas e evitaremos que milhares venham visitar-nos. Perante a UNESCO, perante a União Europeia somos Meseta Ibérica para umas coisas e não somos para outras? Não bate a bota com a perdigota. O nosso rio, aqui de Varge, nasce em Espanha, não tem poluição e a partir deste momento com a mina, não vamos ter um rio como tínhamos até aqui", salienta.

A mesma opinião não tem o alcalde de Pedralba de la Pradéria. Francisco Guerra Gomez diz que "o empreendimento será muito bom para toda a região, quer de Espanha (Sanábria) quer de Portugal (Bragança), e que os empregos que a empresa vai criar vão fazer crescer a economia dos dois lados da fronteira".

Naquele local, há mais de 130 anos que começaram explorações de volfrâmio e estanho. A mina teve o ponto alto na segunda guerra mundial, por causa da economia bélica e encerrou em definitivo em 1974. Agora a Valtreixal Resources Spain, que pertence a um grupo Canadiano, prepara-se para investir ali cerca de 35 milhões de euros, a cerca de 5 quilómetros da fronteira portuguesa.

Afonso de Sousa

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