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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

É segredo, mas estas aldeias estão a pedir para serem exploradas

 Portugal está mesmo a pedi-las (perceberá isso no fim deste artigo). E estas aldeias secretas também. Eis um roteiro alternativo por dez aldeias pouco conhecidas mas que vale a pena serem descobertas.


Gostamos do que é diferente, do que não é percorrido, dos sítios onde ninguém ousa ir, ora porque fica longe, ora porque (bom… introduzir qualquer razão válida). São esses que pedem para ser explorados, são esses que pedem o nosso olhar curioso, vontade de desbravar localizações remotas. São esses que nos deixam entusiasmados no momento do regresso, sabendo que, para a próxima, não hesitamos em arriscar no que não é tão conhecido. Portugal está a pedi-las, está a pedir uma roadtrip pelas aldeias top secret do nosso país. Já estamos à sua espera, vai apanhar a boleia?

Comecemos pelo extremo Norte do país, ali pertinho da terra de “nuestros hermanos”. Perdida no coração do Parque Natural de Montesinho, uma área protegida no concelho de Bragança, é a mais de 1000 metros de altitude que encontramos a aldeia comunitária de Montesinho, a mais carismática da região. Uma viagem até Montesinho está a pedir que reparemos nas casas construídas em granito com os telhados em lousa e nas varandas em madeira, que olham o verde das pastagens e da serra. Assim é, Portugal está a pedi-las, assim como os trilhos do Parque Natural de Montesinho, um dos maiores do nosso país. É aí que partimos para desbravar e explorar o património natural da misteriosa Terra Fria Transmontana. Portugal está à espera que coloquemos as nossas melhores botas, enchamos o cantil de água, snacks na mochila e que façamos uma expedição pela Rota desta terra maravilhosa. Regresse às origens, inspire a tranquilidade, desfrute dos encantos de Montesinho. A serra está cheia de segredos e só quem lá vai, sabe deles.

Portugal está a pedi-las porque é no nosso país que está Estorãos, uma das aldeias mais bonitas do Minho, e não em qualquer outro sítio. Esto-quê? Sim, Estorãos. Localizada no concelho de Ponte de Lima, esta pitoresca aldeia, no sopé da Serra de Arga, pode não ser primeira opção do seu roteiro, mas garantimos que encanta qualquer visitante. A beleza desta aldeia minhota, onde corre uma ribeira desde o alto da serra, não deixa ninguém indiferente, não fosse a paisagem belíssima, como aquelas dos filmes que ganham todos os prémios importantes do cinema.

Ora, imagine: neste museu ao ar livre, as águas calmas da serra de Arga chegam cá a baixo, ao rio Estorãos, e envolvem a aldeia, formam pequenos lagos e represas, entre pontes, moinhos, casas rústicas, vinhas e vegetação muito verde. Percebe-nos agora? Portugal está a pedi-las e por isso queremos avisar agora e não depois: leve a máquina fotográfica, traga até baterias extra, demore-se neste lugar mágico e descubra o os tesouros desta terra, como a antiga azenha da aldeia ou a ponte romana, que conta histórias de outros tempos. Sem querer convencê-lo, já está convencido?

Escreva Vilarinho de Negrões em qualquer motor de busca. Está a pensar no mesmo que nós? Como é que o nosso país consegue surpreender-nos desta forma? Ainda vamos no início deste texto mas é por isto que Portugal está mesmo a pedi-las. Mais ainda: é por isso que Portugal está a pedir que exploremos os seus recantos mais escondidos, como esta aldeia no concelho de Montalegre. É rara a beleza de Vilarinho de Negrões, uma aldeia encaixada numa estreita península (repare como a serra e o céu ficam bonitos refletidos nas águas da albufeira do Alto Rabagão). Outro parêntesis: depois de perder-se pelas ruelas da aldeia, depois de observar as aves aquáticas que sobrevoam a península, depois de ver as casas tradicionais de granito e as construções antigas, afaste-se. Observe a aldeia de longe e repare como a água parece crescer pelas casas adentro. É importante vir aqui pelo menos uma vez na vida. Apresse-se, até agora a natureza tem poupado Vilarinho de Negrões à subida das águas do rio. Por via das dúvidas, ponha-se já a caminho…

Drave é para os aventureiros, é para os que não têm medo de caminhar perdidos pela montanha, é para os amantes da tranquilidade da natureza, é para os que entendem que Portugal está mesmo a pedi-las, e, por isso, arriscam pelos percursos que quase ninguém conhece. Drave, a aldeia mágica da Serra da Freira, que integra o Geoparque de Arouca, faz juz a tudo isso e mais ainda. Sem habitantes, isolada da civilização, sem eletricidade. Aqui não há água canalizada, correio, gás, saneamento, cobertura móvel, mas há tudo o resto: há serenidade e estrelas no céu, de tal forma que parece que estamos no Planetário. Há trilhos com vegetação majestosa, cascatas e piscinas naturais com água muito clara, e tanto silêncio que nos faz sentir pequenos. A aventura começa antes de chegar à aldeia: existem apenas dois acessos para fazê-lo e nenhum inclui o carro, pelo que terá, necessariamente, de fazer parte do percurso a pé, através do trilho pedestre PR 14. Portugal está mesmo a pedi-las. Agora até merecia um brinde: é que Drave é nosso e de mais ninguém.

Isto é um aviso à navegação: altere a rota que colocou no GPS, ponha mais combustível e comece a conduzir em direção à Serra do Açor. Envie mensagem aos amigos que estão nos carros de trás: “todos os caminhos vão dar a Foz d’Égua”. Portugal está a pedi-las e esta é uma paragem obrigatória. Com menos de 50 habitantes, que vivem em pequenas casas de xisto, diz-se que estaria esquecida não fosse a proximidade com Piódão, a quatro quilómetros, o que lhe dá ainda mais encanto. Comparada frequentemente com Hobbiton, a aldeia do filme “Senhor dos Anéis”, este tesouro rural, faz-nos sentir dentro de um conto de fadas (e está tudo bem apelar ao romantismo, quando equilibrado faz bem ao ânimo). Procure: a praia fluvial no centro da aldeia e mergulhe naquelas águas frescas, o açor esculpido e o altar que estão no alto da colina.

Talasnal, Talasnal. Continuamos a desbravar o centro de Portugal e a viagem prossegue por esta aldeia pitoresca, no coração da Serra da Lousã, concelho da Lousã. É uma das mais bonitas da área, pela alma que mantém e pela forma como as poucas dezenas de casas estão alinhadas na encosta, criando a ilusão de que sempre estiveram ali e que fazem parte da paisagem. Perder-mo-nos no Talasnal será difícil, visto que a aldeia tem apenas uma grande rua principal, que acompanha as casas todas costa acima, mas depois há os becos, e esses levam-nos a sítios encantadores como a Alminha ou os lagares de azeite. Depois de tanta viagem, já precisa de uma pausa para restabelecer energias? É esse o momento ideal para se sentar num dos cafés da aldeia e provar retalhinhos, talaniscos e outros petiscos locais.

Já ouviu falar da península encantada, à beira do rio Zêzere? Falamos de Dornes, a mítica aldeia dos Templários em Ferreira de Zêzere, em Santarém. Portugal está a pedi-las, está a pedir que continuemos a explorar os seus recantos mais secretos, como esta aldeia ribeirinha, que tem tanto de história como de beleza. Não precisamos de mais de uma hora para percorrer o centro de Dornes, mas espere mais um pouco, demore-se: Dornes está a pedi-las, está a pedir que descubramos a Torre Templária de Dornes, a praia fluvial, enquanto descansamos dos quilómetros ao volante.

Estamos na mítica Nacional 2, a terceira rodovia mais longa do mundo que é, em cada paragem, um convite aos sentidos. E já que estamos por aqui, que tal uma visita ao centro, literal, de Portugal? É perto de Vila de Rei que encontra o Centro Geodésico do nosso país, lá do cimo tem uma vista deslumbrante que vale a pena espreitar. Esta aldeia, no distrito de Castelo Branco, é o destino perfeito para os amantes de desportos de natureza como TT/BTT, desportos náuticos (é aqui, em Vila de Rei que existe uma das cinco primeiras estâncias de wakeboard do mundo), e trilhos pedestres. E porque todos os aventureiros, a dada altura, precisam de comer: fique a saber que os melhores petiscos estão aqui. Falamos do afamado bucho, dos maranhos. Não muito longe da aldeia, encontra ainda a Praia Fluvial do Penedo Furado. Aqui entre nós: a visita vale mesmo a pena.

É (possivelmente) a aldeia mais bonita do Alentejo. Santa Susana, em Alcácer do Sal, espanta pela tranquilidade, pela beleza das pequenas casas brancas, emolduradas por faixas muito azuis nas janelas e nas portas, se este não é o contraste mais bonito da nossa ruralidade, então o que será? É que Portugal está a pedi-las, está a pedir que nos percamos pelos montes alentejanos e que façamos uma paragem intencional por aqui: o momento pede que deixemos o relógio no carro e que descubramos as seis ruas que compõem esta pequena aldeia, e as pessoas que lá vivem, e as histórias que guardam. Não se visita Santa Susana para fazer “check” na lista, esta aldeia pede mais: pede que viajemos no tempo, sem pressa de regressar ao presente.

Ora, o carro já merecia descanso, as suas costas já estão tensas de tanta condução, não se assuste: a roadtrip está quase no fim, mas quando Portugal está a pedi-las, não podemos não ir, adiar o inevitável, que é conhecer as aldeias mais secretas do nosso país. São Cristóvão, em Montemor-o-Novo, uma aldeia na planície, com pequenas casas caiadas a branco e as famosas faixas azuis, onde a história da sua fundação merece uma visita. Muito serena, é um prazer observar a arquitetura desta aldeia, e reparar nos seus detalhes, especialmente na forma como o posicionamento das casas criam sombras mágicas no chão de pedra.

Temos tudo, sabe? Temos os montes e as serras, temos o mar, e temos as aldeias secretas mais bonitas do mundo. Portugal está a pedi-las, e nós, portugueses, sabemos disso. E sabemos também que temos sorte: porque estas aldeias são nossas e todos os anos nos esperam. Seguimos viagem?

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