Se o interior significa desertificação, também significa agora, mais do que nunca, segurança e tranquilidade. Actualmente, as regiões de Trás-os-Montes, do Minho e Douro têm uma taxa de ocupação a rondar os 80% confirmam os proprietários de alojamentos rurais no distrito de Bragança.
Contrariamente ao que perspectivavam, dizem estar a ter bastante procura e houve até quem se aventurasse a abrir um negócio nesta altura. Foi o caso de Manuel Batista. Estava a reabilitar uma casa para se lançar no sector de alojamento quando a pandemia chegou ao país e ao distrito. Pensou que tudo estaria perdido, mas mesmo assim, depois do estado de emergência decidiu avançar e abriu o alojamento em Formil, concelho de Bragança.
Com a estreia em plena pandemia revelou que tem uma taxa de ocupação de 80%. “Acreditávamos que o interior fosse privilegiado na opção de férias, pelo menos, dos turistas nacionais e assim tem acontecido e até muito mais do que aquilo que estávamos à espera”, contou.
A segurança e desinfecção do espaço é uma das atracções dos clientes. Manuel Batista referiu ainda que a afluência de turistas estrangeiros diminuiu e, pelo contrário, os turistas nacionais aumentaram. “Os turistas nacionais estão a vir mais ao Nordeste Transmontano, porque não conheciam e têm saído bastante agradados inclusivamente com a promessa de voltar noutras épocas do ano”, explicou, adiantando que alguns deixaram reserva para outra altura. Já Domingos Raposo não é novo neste negócio. Tem um alojamento há cinco anos, na localidade Aldeia Nova, concelho de Miranda do Douro. Disse também não se queixar da afluência e frisou ainda que tem recusado reservas porque não tem espaço para receber tanta gente.
Apesar de não estar surpreendido com a elevada taxa de ocupação, que é idêntica à que tinha antes da pandemia, agora os clientes são outros. Se até então eram os turistas espanhóis que procuravam este alojamento perto da fronteira, agora são os portugueses, maioritariamente da zona metropolitana de Lisboa, que fazem as reservas. “Neste momento o público maioritário vem de Lisboa e arredores, mas também vêm de todo o país, do Porto, de Gaia, de Famalicão, do Algarve”, contou. Aderiu ao selo “Clean&Safe” como forma de dar alguma segurança e garantia aos clientes.
Mas Domingos Raposo sublinhou que os entraves são outros. A falta de rede móvel e também de internet são o obstáculo para muitos visitantes. “Pagamos os pacotes tal como no litoral e não temos o serviço. Por exemplo, num alojamento local em Miranda do Douro queria pôr internet com fibra e a única internet que há nessa rua, que é um ex-libris, é fibra rural, ou seja, tem pouca capacidade, não satisfaz, e é muito mais cara”, referiu.
O proprietário relatou ainda que os visitantes “não entendem” e que isso se reflecte na “avaliação” que fazem do alojamento. “A maior parte das penalizações na avaliação depende desse factor e é um facto que nos ultrapassa”. Em Macedo de Cavaleiros, mais concretamente na aldeia de Chacim, os turistas também têm onde ficar. O solar de João S a r a i v a está a ser a escolha para muitos turistas. “O nosso pós confinamento, a partir do mês de Junho, foi positivo, tem vindo sempre a crescer”, disse, acrescentando que, inicialmente, estava “apreensivo”, mas que as expectativas foram superadas.
Tal como para os restantes proprietários, o mercado é essencialmente nacional e o mercado estrangeiro “desapareceu”. “Há muito pouco mercado estrangeiro, há um ou outro espanhol e um ou outro europeu, mas muito aquém daquilo que seria expectável e daquilo que eram as nossas taxas de ocupação em termos de turismo internacional”, salientou. Ainda assim, a incerteza de como vai ser daqui para frente, na época baixa, é uma preocupação. João Saraiva disse haver uma “grande angústia” e “ansiedade” relativamente ao que possa ser o futuro. “Estes meses acabaram por ser bons, mas é prematuro fazer contas em relação aos meses de paragem e inactividade que tivemos”, acrescentou.
As medidas de segurança, como o uso de máscara, distribuição de gel desinfectante e ainda a higienização frequente permite que os clientes se sintam mais tranquilos.
Os proprietários de alojamento rural acreditam que os turistas estão a conseguir lidar com a situação e que isso se reflecte nas taxas de ocupação elevadas.
Jornalista: Ângela Pais
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