Os Vai de Roda surgiram em finais de 1978. A primeira apresentação ao vivo foi em Fevereiro de 1979. |
A fase seguinte é um pouco turbulenta (pouco tempo depois do primeiro disco).
As pessoas nem sempre estão de acordo, sobretudo num grupo numeroso, como era o caso... Os compadres e as comadres zangaram-se... O Tentúgal foi embora. A pessoa mais influente do grupo... Há métodos e maneiras de fazer, de agir. Chocávamos com atitudes... Embora hoje pense que não fomos muito razoáveis na maneira de agir...
O Vai de Roda mudou, alguns partiram, outros ficaram, e outros vieram .
... Para mim o projecto ficou, mas o grupo mudou. Veio o Quiné Teles, o Miguel Ralha, a Paula Sousa (com uma curta passagem), o Zé Rangel, o Alfredo Teixeira, o Manuel Salselas, a Menuxa, o Bino e o João Lorga (técnicos de som e Luz)... O Eduardo Brandão também foi embora... E nunca soube porquê!...
Nesta fase o disco previsto nunca viu luz.
Na minha opinião, o projecto do grupo teve seguimento, embora com alguns retoques a nível instrumental: introdução de baixo eléctrico e tumbadoras por exemplo...
Lembro alguns temas que foram executados em concertos, mas nunca foram editados em disco:
- José embala o menino, Vai-te embora mês de Maio (chula de Paus), Primavera, Vitorina, Pingacho, do nosso Nordeste, terras de Miranda, mais concretamente de Paradela e da cabeça do Tiu Lérias. E outras...
Os Concertos mais lembrados :
Tondela, onde participou também a Brigada Victor Jara, um grupo de que tanto gostei, e gosto... Para mim é como um irmão, um cachico mais velho. Foi um grupo que produziu muito, que durou e está pra durar... E mesmo entre irmãos, às vezes, há uma pontica de ciúmes...
Silves, onde estivemos só quatro ou cinco, mas o público gostou... Estivemos em Albufeira, tocámos na rua... Era a nossa fase de Saltimbancos... Não houve muita televisão nesta altura, e o dinheiro era pouco... Lembro-me que fomos comer a um restaurante, e foi a minha namorada dessa altura, que aliás conheci nesse dia, que pagou a conta... Pagou para o grupo... É claro que ainda hoje lhe estou grato... E somos sempre amigos, e para sempre. A nossa casa está sempre aberta... E ela vem de vez em quando.
Uma digressão em França (Picardie)
Laon, Beauvais, Saint Quentin, Amiens (a região de Macron- ainda garoto nessa altura, devia estar a entrar para a escola primária... E olhai o que nos faz !...)
Mas esses 15 dias, em Picardie, foram bonitos...
O Bino (chofer), a entrar em Paris:
- Ajudai-me... Isto é muito grande!...
- Bino, tu és profissional, és o condutor, de sinais não percebo patavina... Ainda por cima em francês...
Era Dezembro, a estrada gelada, mas por fim lá chegámos na nossa carrinha vermelha, já sem marca, á qual, o Carlos lhe pôs o nome de Marylin...
Teatro Municipal de Vila Real- Trás-os-Montes:
Concerto muito bonito... E fiquei tão contente quando encontrei gente da minha terra (de Outeiro)... E apetece-me citar a Lurdinhas (Lurdes Fernandes)... É verdade, foi um sentimento de grande satisfação... Foi como sentir o eco da terra.
Festival Intercéltico, no Porto, no Rivoli, onde participou também o Alan Stivell. Lembro-me de uma peripécia, pediu-nos o bombo emprestado para tocar um tema. Ele não conhecia o instrumento assim, tão" simples "...
Mas para um Bretão é muito mais fácil tocar bodhran...
Mesmo que não estejamos de acordo, o Vai de Roda teve um belo percurso... Não posso compará-lo ao Douro...Esse é eterno...
E um grupo nasce e morre...
Mas esta fase do grupo foi tão importante para mim... E muito rica em termos de aprendizagem.
O Carlos Adolfo, grande poeta da vida, saltimbanco por convicção, duma sensibilidade rara...Não era pianista, e tocava piano, não era guitarrista e tocava guitarra, não era percussionista e fazia ritmos com uma grande certeza... Bate certo, e para isso estava o nosso Conde... Maravilha, esse era o hino do trabalho...Uma abelha-mestra. Desde a praça da Liberdade, descia a rua Mouzinho da Silveira, até chegar à rua dos mercadores, onde ficava a nossa sede... Sempre a tocar trancanholas... Sempre, sempre, sem parar... Nem que houvesse a rapariga mais bonita a olhar, o nosso Carapinha continuava sempre... Sempre sem parar. E assim conseguiu ser grande. Ainda há pouco fez um grande disco: O Sótão da velha.
Em 1987, depois... Também zangado parti.
Havia decisões a tomar, e não houve acordo... E democraticamente, com outros perdi...
E vim embora, foi o meu "fim"...
O fim, não... Sempre estive com eles, com todos, desde o princípio... Sim.
P. S. As gravações são obra do José Martins, do grupo de teatro "O Realejo", do Porto. Num ambiente de cafés concerto, que se faziam nessa altura. Executámos esses temas a quatro ou cinco elementos. Grupo reduzido, a que o Alfredo Teixeira chamava "Vai de Rodinhas".
Normalmente era o Carlos Adolfo (guitarra clássica), Alfredo Teixeira (bandolim e tantos outros instrumentos), José Rangel (flautas), Quiné Teles (percussões)... Mas nesta gravação não esteve, e já não me lembra porquê... E eu próprio (voz).
Podes ler a 1ª parte das memórias do "Vai de Roda" AQUI.
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