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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de agosto de 2020

Continuação: Memórias do Vai de Roda (confissão)...

Os Vai de Roda surgiram em finais de 1978. A primeira apresentação ao vivo foi em Fevereiro de 1979.

A fase seguinte é um pouco turbulenta (pouco tempo depois do primeiro disco).

Em grupos pode haver zangas...

As pessoas nem sempre estão de acordo, sobretudo num grupo numeroso, como era o caso... Os compadres e as comadres zangaram-se... O Tentúgal foi embora. A pessoa mais influente do grupo... Há métodos e maneiras de fazer, de agir. Chocávamos com atitudes... Embora hoje pense que não fomos muito razoáveis na maneira de agir...

O Vai de Roda mudou, alguns partiram, outros ficaram, e outros vieram .

... Para mim o projecto ficou, mas o grupo mudou. Veio o Quiné Teles, o Miguel Ralha, a Paula Sousa (com uma curta passagem), o Zé Rangel, o Alfredo Teixeira, o Manuel Salselas, a Menuxa, o Bino e o João Lorga (técnicos de som e Luz)... O Eduardo Brandão também foi embora... E nunca soube porquê!...

Nesta fase o disco previsto nunca viu luz.

Na minha opinião, o projecto do grupo teve seguimento, embora com alguns retoques a nível instrumental: introdução de baixo eléctrico e tumbadoras por exemplo...

Lembro alguns temas que foram executados em concertos, mas nunca foram editados em disco:

- José embala o menino, Vai-te embora mês de Maio (chula de Paus), Primavera, Vitorina, Pingacho, do nosso Nordeste, terras de Miranda, mais concretamente de Paradela e da cabeça do Tiu Lérias. E outras...

Os Concertos mais lembrados :

Tondela, onde participou também a Brigada Victor Jara, um grupo de que tanto gostei, e gosto... Para mim é como um irmão, um cachico mais velho. Foi um grupo que produziu muito, que durou e está pra durar... E mesmo entre irmãos, às vezes, há uma pontica de ciúmes... 

Silves, onde estivemos só quatro ou cinco, mas o público gostou... Estivemos em Albufeira, tocámos na rua... Era a nossa fase de Saltimbancos... Não houve muita televisão nesta altura, e o dinheiro era pouco... Lembro-me que fomos comer a um restaurante, e foi a minha namorada dessa altura, que aliás conheci nesse dia, que pagou a conta... Pagou para o grupo... É claro que ainda hoje lhe estou grato... E somos sempre amigos, e para sempre. A nossa casa está sempre aberta... E ela vem de vez em quando.

Uma digressão em França (Picardie)

Laon, Beauvais, Saint Quentin, Amiens (a região de Macron- ainda garoto nessa altura, devia estar a entrar para a escola primária... E olhai o que nos faz !...)

Mas esses 15 dias, em Picardie, foram bonitos...

O Bino (chofer), a entrar em Paris:

- Ajudai-me... Isto é muito grande!...

- Bino, tu és profissional, és o condutor, de sinais não percebo patavina... Ainda por cima em francês...

Era Dezembro, a estrada gelada, mas por fim lá chegámos na nossa carrinha vermelha, já sem marca, á qual, o Carlos lhe pôs o nome de Marylin...

Teatro Municipal de Vila Real- Trás-os-Montes:

Concerto muito bonito... E fiquei tão contente quando encontrei gente da minha terra (de Outeiro)... E apetece-me citar a Lurdinhas (Lurdes Fernandes)... É verdade, foi um sentimento de grande satisfação... Foi como sentir o eco da terra.

Festival Intercéltico, no Porto, no Rivoli, onde participou também o Alan Stivell. Lembro-me de uma peripécia, pediu-nos o bombo emprestado para tocar um tema. Ele não conhecia o instrumento assim, tão" simples "...

Mas para um Bretão é muito mais fácil tocar bodhran...

Mesmo que não estejamos de acordo, o Vai de Roda teve um belo percurso... Não posso compará-lo ao Douro...Esse é eterno...

Em 1983 gravaram, nos estúdios da Rádio Triunfo, o disco "Vai de Roda". Nesta altura, o grupo era composto por treze músicos. Trata-se do primeiro disco em que entra a sanfona portuguesa. Nas gravações participaram Tentúgal, Abi, Agostinho Couto, Amílcar Sardinha, Carlos Adolfo, Fernando Carvalho, Gi, Isabel Leal, Nanda, Né Santelmo, Paula, Preciosa Branco, Raul e também Isabel Afonso, Mina, Zé Vitor

E um grupo nasce e morre...

Mas esta fase do grupo foi tão importante para mim... E muito rica em termos de aprendizagem.

O Carlos Adolfo, grande poeta da vida, saltimbanco por convicção, duma sensibilidade rara...Não era pianista, e tocava piano, não era guitarrista e tocava guitarra, não era percussionista e fazia ritmos com uma grande certeza... Bate certo, e para isso estava o nosso Conde... Maravilha, esse era o hino do trabalho...Uma abelha-mestra. Desde a praça da Liberdade, descia a rua Mouzinho da Silveira, até chegar à rua dos mercadores, onde ficava a nossa sede... Sempre a tocar trancanholas... Sempre, sempre, sem parar... Nem que houvesse a rapariga mais bonita a olhar, o nosso Carapinha continuava sempre... Sempre sem parar. E assim conseguiu ser grande. Ainda há pouco fez um grande disco: O Sótão da velha.

Em 1987, depois... Também zangado parti.

Havia decisões a tomar, e não houve acordo... E democraticamente, com outros perdi...

E vim embora, foi o meu "fim"...

O fim, não... Sempre estive com eles, com todos, desde o princípio... Sim.

P. S. As gravações são obra do José Martins, do grupo de teatro "O Realejo", do Porto. Num ambiente de cafés concerto, que se faziam nessa altura. Executámos esses temas a quatro ou cinco elementos. Grupo reduzido, a que o Alfredo Teixeira chamava "Vai de Rodinhas".

Normalmente era o Carlos Adolfo (guitarra clássica), Alfredo Teixeira (bandolim e tantos outros instrumentos), José Rangel (flautas), Quiné Teles (percussões)... Mas nesta gravação não esteve, e já não me lembra porquê... E eu próprio (voz).

Podes ler a 1ª parte das memórias do "Vai de Roda" AQUI.

Amílcar Dias Sardinha

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