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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 27 de março de 2021

O que procurar na Primavera: o carvalho-português

 São muitas as espécies arbóreas que constituem a nossa floresta, mas hoje escolhi falar do carvalho-português (Quercus faginea), a árvore mal-amada dos portugueses. As suas flores surgem entre Março e Abril.

Foto: Alfonso San Miguel/WikiCommons

Portugal tem a lei mais antiga da Europa no que se refere à proteção das árvores. Desatualizada face à realidade atual, esta lei, datada de 1565, já pedia que se plantassem e se protegessem muitas das espécies nativas da floresta portuguesa. Naquela época, a procura por madeira para a construção naval, sobretudo de carvalho, foi tão intensa que esta passou a ser um bem escasso, obrigando a medidas de regulamentação do corte de árvores e de proteção da floresta. A lei de proteção das árvores promoveu a reflorestação com carvalhos, pinheiros e castanheiros. Desde então pouco mais foi feito.

É importante lembrar que as árvores começam a vida como minúsculas plantas nascidas por semente, podendo acabar os seus dias como gigantes centenários. São dos seres vivos mais antigos e maiores do globo terrestre.

São muitas as espécies arbóreas que constituem a nossa floresta. Mas hoje escolhi falar do carvalho-português (Quercus faginea), a árvore mal-amada dos portugueses. É uma das espécies que tem perdido mais área de ocupação nos últimos séculos, ora para a agricultura, ora para a reflorestação com outras espécies exóticas, ora motivado pelos incêndios florestais.

O carvalho-português 

O carvalho-português – também conhecido como carvalho-cerquinho, cerquinho, carvalho-lusitano ou pedamarro – é uma árvore da família das Fagaceae, uma das famílias mais representativas da floresta nativa nacional. São três os géneros presentes em Portugal continental, o género Quercus, com nove espécies nativas e os géneros Castanea e Fagus, ambos com uma espécie.

O carvalho-português é uma árvore de porte médio que pode atingir 25 metros de altura. A sua copa é ampla e arredondada e o tronco é geralmente direito, cinzento e fendido. Os ramos são cinzentos-avermelhados e pubescentes.

As folhas são marcescentes, abundantes e ligeiramente convolutas. São simples, coriáceas, verde-lustrosas na página superior e acinzentadas na página inferior, devido à pilosidade densa, junto às nervuras.  

As flores surgem entre março e abril. As flores masculinas são numerosas, de cor verde amarelado e surgem dispostas em amentilhos ciliados, pendurados, pouco firmes. As flores femininas surgem solitárias, dentro de uma cúpula. 

O fruto é uma glande, quase cilíndrica, com 15 a 30 mm de diâmetro, vulgarmente designada como bolota. Apresenta um pecíolo curto e é protegida por uma cúpula, revestida de escamas aplicadas (não levantadas) e tomentosas, que cobre ⅓ da bolota. Os frutos surgem em grupos, no meio das folhas e formam-se e amadurecem no mesmo ano. Amadurecem nos meses de setembro e outubro.

Foto: Guillermo César Ruiz/WikiCommons

O carvalho-português é uma espécie de crescimento lento, que pode viver até aos 300 anos e tem uma elevada capacidade de renovação basal. 

A origem científica desta espécie é fácil de interpretar. O nome do género Quercus é o nome clássico, em Latim, dado aos carvalhos, azinheira e sobreiro e faginea, também deriva do Latim, de fagineus-a-um, que significa “semelhante à faia”, espécie do género Fagus. 

Habitat rico em biodiversidade

O carvalho-português é originário da Península Ibérica e do norte de África. Em Portugal distribui-se um pouco por todo o país, sendo mais comum no centro e sul, em povoamentos mistos com outras espécies do género Quercus (sobreiros e azinheiras), em pequenas manchas isoladas ou como árvore individual.

Árvore de meia-luz, o carvalho-português tem preferência por climas suaves e quentes, com alguma humidade atmosférica. Suporta grandes amplitudes térmicas e temperaturas até -12ºc. Adaptado a todo o tipo de solo, tem preferência por solos ricos em bases. 

Como os restantes carvalhais, as florestas de carvalho-português são habitats bastante ricos em biodiversidade e têm uma elevada importância ecológica, sendo o habitat preferencial de inúmeras espécies animais, desde pequenos insetos, anfíbios e aves como o gaio a pequenos e grandes mamíferos como os veados e o lince-ibérico.

Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Esta é uma espécie que ocupa áreas limitantes para a maioria das espécies arbóreas e arbustivas e também desempenha um papel fundamental na regulação do ciclo da água, no controlo da erosão e na recuperação de solos degradados. O carvalho-português apresenta um grande valor ornamental e paisagístico e as suas folhas e frutos são utilizados na alimentação animal.  

A madeira de carvalho-português é de alta qualidade, resistente e fácil de trabalhar. Muito boa para construção, nomeadamente para vigas, carpintaria, soalhos e marcenaria. Apresenta um elevado poder calorífico, sendo também utilizada para lenha e carvão.

Espécie em declínio 

A procura elevada de madeira de carvalho-português – a partir do século XV, época dos Descobrimentos – foi a principal responsável pelo declínio das populações desta espécie em território nacional. Esta madeira foi muito utilizada para a construção de naus e caravelas.

Mais tarde, já nos séculos XIX e XX, as áreas de carvalho-português voltaram a sofrer um grave decréscimo, devido ao interesse agrícola das terras e para instalação de outras espécies, nomeadamente exóticas. Esta é uma espécie característica de locais com solos ricos e bem desenvolvidos.

Foto: Xemenendura/WikiCommons

Devido a estas e a outras ameaças (alteração do uso do solo, mau planeamento florestal, incêndios, abate, trânsito de pessoas e veículos), atualmente esta espécie ocorre somente em pequenas manchas isoladas, essencialmente em alguns distritos do centro, como Coimbra, Leiria, Lisboa e Santarém. Os bosques bem conservados desta espécie são habitats protegidos e correspondem ao Habitat 9240 – “Carvalhais ibéricos de Quercus faginea” do Anexo I da Directiva Habitats nº92/43/CEE, que engloba os “Tipos de habitats naturais de interesse comunitário cuja conservação exige a designação de zonas especiais de conservação.”

O carvalho-português é considerado uma espécie de transição entre os carvalhos de folha caduca a norte de Portugal – o carvalho-roble (Quercus robur) e carvalho-negral (Quercus pyrenaica) – e os carvalhos de folha persistente a sul, o sobreiro (Quercus suber) e a azinheira (Quercus rotundifolia).

As subespécies de carvalho-português

O carvalho-português é uma espécie extremamente polimórfica e plástica, pelo que foram descritos numerosos taxa de âmbito específico quanto intraespecífico.

Existem três subespécies de carvalho-português em território nacional: 

O Quercus faginea subsp. faginea, espécie endémica da Península Ibérica, que ocorre predominantemente no nordeste de Portugal, em zonas de maior altitude e secura, sobretudo na região de Trás-os-Montes. O Quercus faginea subsp. broteroi, mais comum na região oeste do centro e sul de Portugal, em zonas húmidas de menor altitude, nomeadamente na Estremadura, Ribatejo e Beira Litoral. E o Quercus faginea subsp. alpestres que ocorre apenas no Barrocal Algarvio.

O carvalho-português tem uma elevada capacidade de produzir híbridos naturais quando se cruza com outras espécies do género Quercus. Com o carvalho-alvarinho (Q. robur) forma o híbrido Quercusx coutinhoi, com o carvalho negral (Q. pyrenaica) forma o Quercusx neomairei, com o carvalho-das-canárias (Q. canadienses) forma o híbrido Quercusx marianica e com a azinheira (Q. rotundifolia) forma o híbrido Quercusx senneniana.

Estes carvalhais de carvalho-português são locais únicos, fazem parte da paisagem da floresta portuguesa. No entanto, aos poucos estas áreas estão a desaparecer. As manchas que ainda existem resultam de regeneração natural.

É urgente a preservação e recuperação desta espécie tão mal amada pelos portugueses, mas com uma importância única, indispensável para a biodiversidade. 

Dicionário informal do mundo vegetal: 
Folha marcescente – folha que persiste na árvore, mesmo depois de murcha ou seca. Geralmente fica pendurada na árvore até a formação das novas folhas, na estação mais favorável.
Folha convoluta – folha que se enrola sobre si mesma. As margens enrolam ligeiramente para dentro.
Amentilho ciliado – amentilho coberto de cílios.
Cílios – pelos finos e curtos, geralmente inseridos na margem de órgãos laminares.
Tomentoso – coberto de pêlos moles e muito finos que formam um infiltrado mais ou menos denso e que reveste o órgão.
Taxon (no plural, taxa) – nível taxonómico de um sistema de classificação científica de seres vivos (Ex. Família, Género, Espécie, Subespécie).
Taxon infraespecífico – classificação abaixo da espécie (Ex. Subespécie, Variedade). Exige a utilização de uma nomenclatura trinomial (Ex. Quercus faginea subsp. faginea)
Taxon específico – classificação até à espécie 

Carine Azevedo

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