Giovani estava com mais três amigos, também estudantes cabo-verdianos do politécnico de Bragança, que na madrugada de 21 de dezembro de 2019 se terão envolvido numa contenda que levou à morte do jovem e à acusação de homicídio qualificado a sete outros jovens de Bragança.
Em mais uma sessão do julgamento, que decorreu hoje, acabou de testemunhar o primeiro e começou a ser ouvido o segundo dos três cabo-verdianos que dizem ter sido também agredidos, e ficaram as interrogações do juiz-presidente do coletivo e do procurador do Ministério Público sobre as versões dos acontecimentos.
“Continuo sem perceber como perdeu o Giovani”, insistiu o juiz-presidente perante o testemunho do amigo que disse ter ficado com a vítima, enquanto outros dois voltaram atrás para ir buscar uma carteira e um telemóvel perdidos no local das alegadas agressões.
A testemunha disse que Giovani estava sentado na rua e que desapareceu sem se aperceber, o que para o juiz “não tem lógica”, ainda para mais quando diz que o jovem se queixava da cabeça e tinha sangue.
“Mais uma razão para o senhor não fazer isto, como é que o perde de vista”, insistiu o magistrado, obtendo como resposta: “Não sei”.
“Isso está mal contado”, concluiu o juiz, que questionou também o facto de nenhum dos amigos ter ligado para o telemóvel de Giovani, apesar de alegarem que o procuraram.
A vítima foi encontrada por alguém que passava e chamou a PSP a vários metros de distância dos factos, na outra ponta da Av. Sá Carneiro, em Bragança, sozinha e caída na rua inconsciente.
Os amigos dizem ter ido à procura dele e que passaram no local, o que levou o procurador a perguntar a outro elemento do grupo como é que não viram Giovani e não telefonaram à Polícia quando desapareceu ou não pediram ajuda ao carro patrulha que passou pouco depois dos acontecimentos por eles.
“Não sei”, foi mais uma vez a resposta.
Nenhum dos jovens cabo-verdianos identificou, até ao momento, qualquer um dos sete arguidos como intervenientes nos factos, alegando que não reconhecem os presentes, nem os conseguem associar àqueles que terão participado nos acontecimentos da madrugada de 21 de dezembro de 2019.
As alegadas contradições dos depoimentos destas testemunhas motivaram, na sessão de hoje, dois requerimentos das defesas dos arguidos.
Um deles teve como propósito a visualização de imagens das câmaras do bar onde tudo terá começado que mostram que os queixosos saíram “quatro minutos” depois dos alegados agressores, contrariando a alegação de que estes terão feito uma espera de cerca de “30 minutos”.
Outro requerimento levou à leitura das primeiras declarações prestadas à Polícia Judiciária (PJ), nas quais os jovens cabo-verdianos dizem que Giovani caiu numas escadas quando fugiam dos alegados agressores.
Em tribunal, a versão apresentada tem sido de que Giovani não caiu, apenas tropeçou e quando confrontados com a alteração do depoimento, justificaram que o “tropeçar” é uma palavra que não tem equivalente na linga materna (crioulo) e só mais tarde se aperceberam da diferença.
As defesas têm apontado a questão da queda como fundamental para este julgamento, alegando que a lesão que levou à morte tanto pode ter sido causada por agressões como ao cair, a mesma conclusão da autópsia.
Os relatos sobre a madrugada de 21 de dezembro 2019 coincidem nos momentos com os dos arguidos, com uma desavença que começou num bar e ficou sanada e um segundo episódio junto ao viaduto da Av. Sá Carneiro, junto a outro bar.
Nas duas versões, Giovani nunca aparece no início das contendas, mas sim um dos amigos e um rapaz de Bragança que nem consta do processo.
O confronto físico começa na rua entre esses dois e acaba por envolver os quatro cabo-verdianos e os sete arguidos.
No tribunal já foram admitidas agressões mútuas, mas nenhum arguido confessou ter atacado Giovani, concretamente em conjunto. Já os ofendidos dizem ter sido agredidos, mas negam ter batido.
O julgamento prossegue na sexta-feira ainda com a audição do segundo jovem cabo-verdiano.
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