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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 20 de março de 2021

O que procurar na Primavera: a cila

 Ainda que no calendário faltem alguns dias para a chegada da primavera, os sinais da estação já são visíveis.

Foto: Xemenendura / Wiki Commons

O chilrear dos pássaros, o desabrochar de flores de quase todas as cores, o aparecimento dos polinizadores, os aromas e as temperaturas amenas ao longo do dia são características da primavera. As paisagens enchem-se de cores, alegria e vida, transportando-nos para aquela que é para mim a estação mais alegre e contemplativa.

E é por isso que em todas as minhas caminhadas, em todas as minhas explorações, procuro o que há de novo na natureza. Esta semana os campos estão ainda mais floridos e em destaque estão umas pequenas flores azuladas – as cilas (Scilla monophyllos). 

E para que não tenham dúvidas sobre o significado de alguns termos usados, podem ver a sua explicação no final do texto, num pequeno glossário preparado para vocês.

A cila

A cila é uma pequena planta bolbosa da família das Asparagaceae, que inclui outras espécies bolbosas bem conhecidas e que também se encontram em flor nesta época do ano, como é o caso dos muscaris e dos jacintos.

A cila é uma planta vivaz, com cerca de 10 a 15 centímetros de altura, e com um bolbo mais ou menos globoso, de 8 a 25 milímetros de diâmetro, com uma túnica externa amarelada. 

Vulgarmente, também é conhecida como cila-de-uma-folha. E como o nome sugere, a cila tem apenas uma folha, linear a lanceolada, com cerca de 10 a 25 cm de comprimento e 2 a 2,5 cm de largura. É também canaliculada, ou seja, na base, a folha forma um canal estreito. 

É por causa desta característica particular de só ter uma folha que tem a designação científica Scilla monophyllos. O nome do género Scilla é a palavra latina para este tipo de plantas bolbosas e monophyllos deriva do grego monos- e -phyllon, que significa “só uma folha”.

Contudo, e embora esta seja a forma mais frequente, nem sempre a folha surge solitária, havendo exemplares em que surgem duas folhas.

A floração ocorre entre fevereiro e maio. Da base da folha surge uma única haste floral, com cerca de 30 cm, que sustenta na sua extremidade uma inflorescência. 

As flores são pequenas, actinomorfas e hermafroditas e surgem dispostas em cachos, em grupos de 4 a 12. São também campanuladas, eretas com tépalas azul-violeta brilhantes. Cada flor é protegida por uma bráctea esbranquiçada ou levemente azulada, menor que o pedicelo. As anteras apresentam uma cor azul violácea e o pólen amarelo. O fruto é uma cápsula globosa, com poucas sementes, escuras.

Espécie nativa

A cila é uma espécie nativa da região mediterrânica. Nasce espontaneamente em Portugal, sul de Espanha e em Marrocos. Sendo uma espécie com uma distribuição bastante restrita, trata-se de uma planta endémica da Península Ibérica e do Norte de África. 

Em Portugal encontra-se um pouco por todo o país, em zonas arenosas ou rochosas, charnecas, pinhais, clareiras de matos xerófilos e no subcoberto de bosques de carvalho e sobreiro.

É uma planta de sombra, que se desenvolve muito bem no subcoberto de outras espécies arbóreas. É muito resistente e tolerante à sombra e prefere solos ácidos, argilosos ou arenosos. Não se desenvolve bem em locais secos, com pouca disponibilidade de humidade atmosférica e do solo.

Sendo uma planta bolbosa, a cila pode viver muitos anos, no entanto passa grande parte do ano debaixo de terra. A parte aérea desta planta é renovada anualmente e é entre janeiro e junho que podemos observar a sua folha e as flores. Passada esta fase, e depois de libertadas as sementes, a cila volta a desaparecer, ficando escondida no solo até que se volte a repetir este ciclo.

Pela beleza das suas flores, é uma espécie muito apreciada como planta ornamental, sendo muito utilizada em jardinagem.

Outras Scilla nativas em Portugal

O género Scilla tem outras espécies nativas representativas em Portugal Continental, algumas das quais são muito parecidas com a Scilla monophyllos.

O jacinto-do-algarve (Scilla odorata), por exemplo, é uma espécie endémica da Península Ibérica. Como o seu nome indica tem uma distribuição muito restrita em Portugal, podendo encontrar-se apenas na região do Algarve, sendo a sua área de ocupação e extensão de ocorrência bastante reduzidas.

Esta é uma espécie protegida pelo Anexo IV da Directiva Habitats, que engloba “Espécies animais e vegetais de interesse comunitário que exigem uma proteção rigorosa”. Consta também da lista das espécies Quase Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, segundo a lista vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. 

Esta planta possui uma única folha, entre linear a largamente lanceolada, e uma haste floral com 5 a 30 cm. Floresce entre fevereiro e março e as suas flores são campanulada e azuladas e surgem dispostas em cachos de 4 a 12 flores.

Por sua vez, a cila-do-peru (Scilla peruviana), também conhecida por cila-portuguesa, é uma espécie nativa do sul de Portugal. É aí que podemos vê-la em maior abundância, mas conseguimos também encontrá-la mais a norte, sobretudo na região Centro. 

As folhas desta planta são lineares, compridas, e surgem da base em conjuntos de 5 a 15. A haste floral tem cerca de 15 a 40 cm de altura e forma uma inflorescência densa em forma de corimbo, multifloral, com 40 a 100 flores azuis-violeta escuras, que florescem entre março e maio.

Já nas zonas montanhosas do norte e centro de Portugal ocorre principalmente uma outra planta do mesmo género: a Scilla ramburei, que pode surgir de modo pontual mais a sul. Esta planta tem preferência por locais húmidos e está muitas vezes associada a comunidades de vegetação higrófila.

Esta espécie possui um escapo com cerca de 10 a 60 cm de altura, flores campanuladas, azul-violáceas, dispostas em cachos com 25 a 45 flores. A floração ocorre entre abril e junho. As folhas surgem da base, são finas, cinza-esverdeadas, lineares a lanceoladas e agrupadas em conjuntos de 3. 


Quanto à cila-de-primavera (Scilla verna) – ou spring squill como é conhecida nas ilhas britânicas – é uma das outras espécies nativas em Portugal. Podemos encontrá-la nalgumas regiões do Norte e Centro.

Trata-se de uma planta pequena, com folhas longas e finas, que surgem da sua base agrupadas em conjuntos de 2 a 7. A floração ocorre entre abril e maio. A haste floral atinge geralmente de 5 a 15 cm de altura e as flores, azul-violeta, surgem em cachos de 2 a 12 flores. 

Scilla hyacinthoides. Foto: ניר אוהד / Wiki Commons

Outra espécie de cila que também surge de forma espontânea em Portugal Continental, mas tem uma origem um pouco controversa, é chamada de mosqueira (Scilla hyacinthoides). Alguns autores sugerem que terá sido introduzida na Península Ibérica, tendo-se naturalizado.

Esta espécie floresce de fevereiro a maio e forma uma roseta de folhas de onde surge ao centro uma haste floral piramidal, com 50 a 80 cm de altura. As flores são estreladas, roxo-azuladas, e surgem agrupadas em conjuntos de cerca de 100 flores.

Por fim, diferente de todas as outras é a cila-de-outono (Scilla autumnalis): é a única espécie do género que floresce, tal como o nome indica, no outono – entre os meses de setembro e outubro. Tem uma distribuição alargada, podendo encontrar-se um pouco por todo o país.

A haste floral da cila-de-outono mede entre 10 a 15 cm de altura, e surge geralmente antes das folhas. Quanto às flores, surgem em cachos de 3 a 15 flores, de cor azul ou violeta, com uma nervura central ligeiramente mais escura. As folhas são basais, lineares e em número variável.  

Este género é sem dúvidas muito comum em Portugal e as espécies muito parecidas, no entanto existem algumas características que facilitam a sua distinção. 

Scillas há muitas, mas todas são únicas. Aproveitem o sol e explorem a natureza, procurem estas pequenas flores e tentem descobrir de que espécie se trata.

Dicionário informal do mundo vegetal: 

Bolbosa – planta que produz um bolbo
Túnica – membrana que reveste o bolbo
Lanceolada – forma da folha é semelhante a uma lança
Actinomorfa – flor com simetria radial, ou seja, a flor pode ser dividida em várias partes iguais
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames)
Tépala – peça floral não diferenciada em pétala ou sépala
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada
Pedicelo – “pé” que sustenta a flor
Endémica – espécie nativa de uma região, com uma distribuição muito restrita
Corimbo – inflorescência em que as flores se elevam mais ao menos ao mesmo plano, ainda que os seus “pés” possam ter tamanhos diferentes
Vegetação higrófila – vegetação adaptada a ambientes húmidos
Escapo – Haste floral

Carine Azevedo

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