Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Contava meu pai, que certa ocasião, estando no escritório, recebeu a visita de amigo e sua filha.
Ao deparar sobre mesinha, de pé de galo, livro de versos de Camões, abriu-o, e começou a declamar com ênfase, fazendo profunda pausa no fim de cada verso.
Nisto entra a filha eufórica, e ao ouvir certa expressão, que lhe pareceu ridícula, Desatou a gargalhar.
Furioso, o pai, por ser interrompido, berra-lhe:
- “De que te ris, estúpida. Isto é Camões!”
Perante a revelação, o riso desapareceu, e numa atitude de respeito profundo, exprimiu um “Ah!” reverente e convicto.
Como o nosso velho Raposão, perante o douto Topsius, não compreendeu, mas venerou.
E concluía meu pai: que se admira, não o autor, mas o mito.
A grande Amália Rodrigues, dizia, muitas vezes, ao ler os versos que o empresário lhe entregava: - “Ficava encantada com a letra, e pedia-lhe, o favor, de apresentar-me o poeta.”
Uma vez, frente a frente, Amália tinha grande desilusão. Era feio, tímido, sem dotes físicos, que o favorecesse e ainda insípido conversador. O poeta, para ela, de excepcional, passava a homem vulgar.
O mesmo aconteceu à menina Clarissa, de Erico Veríssimo, ao conhecer o seu poeta preferido, Antilóquio Madrigal…
É por esse “fenómeno” que muitos intelectuais se resguardam no interior dos seus escritórios e raras vezes surgem em publico.
Recomendava S. Tomás o pouco convívio, pois a familiaridade demasiada gera o desprezo. Por vezes nem é preciso familiaridade: basta ver o ídolo…
Mal vai o professor, quando não é um mito para seus alunos; o escritor, para seus leitores; o artista, para seus admiradores. Admira-se o mito. Certa vez gabava a José Régio a celebridade, a fama que alcançara, ao que este respondeu, que para quem com ele trabalhava, era apenas “o senhor doutor.”
Certos médicos, certos escritores, certos artistas plásticos, são apreciados porque ao redor deles criou-se áurea de glória, muitas vezes mantida pela publicidade e correligionários.
Certas obras admiradas, de artistas plásticos, não merecem um chavo; mas são vendidas por milhões, devido à assinatura, ao mito, que se criou.
Muitos adquirem livros, não porque sejam valiosos, sob aspecto literário ou conteúdo, mas apenas porque a critica o acarinhou (quantas vezes paga pelo editor,) assegurando que é bom; que vale a pena ser lido. Entretanto, há monos, esquecidos nas prateleiras do livreiro, que ninguém lê, e são preciosos: no estilo e nos pareceres revelados.
A velha história do rei vai nu, repete-se todos os dias… até na politica…
Todavia a sociedade necessita dessa dose de mitologia, para o vulgo acreditar, e não veja o que vê, mas o que querem que veja.
Sem o mito, muitos desabavam…porque têm pés e barro…Vive-se de ilusões…De palavras ocas…
Ao deparar sobre mesinha, de pé de galo, livro de versos de Camões, abriu-o, e começou a declamar com ênfase, fazendo profunda pausa no fim de cada verso.
Nisto entra a filha eufórica, e ao ouvir certa expressão, que lhe pareceu ridícula, Desatou a gargalhar.
Furioso, o pai, por ser interrompido, berra-lhe:
- “De que te ris, estúpida. Isto é Camões!”
Perante a revelação, o riso desapareceu, e numa atitude de respeito profundo, exprimiu um “Ah!” reverente e convicto.
Como o nosso velho Raposão, perante o douto Topsius, não compreendeu, mas venerou.
E concluía meu pai: que se admira, não o autor, mas o mito.
A grande Amália Rodrigues, dizia, muitas vezes, ao ler os versos que o empresário lhe entregava: - “Ficava encantada com a letra, e pedia-lhe, o favor, de apresentar-me o poeta.”
Uma vez, frente a frente, Amália tinha grande desilusão. Era feio, tímido, sem dotes físicos, que o favorecesse e ainda insípido conversador. O poeta, para ela, de excepcional, passava a homem vulgar.
O mesmo aconteceu à menina Clarissa, de Erico Veríssimo, ao conhecer o seu poeta preferido, Antilóquio Madrigal…
É por esse “fenómeno” que muitos intelectuais se resguardam no interior dos seus escritórios e raras vezes surgem em publico.
Recomendava S. Tomás o pouco convívio, pois a familiaridade demasiada gera o desprezo. Por vezes nem é preciso familiaridade: basta ver o ídolo…
Mal vai o professor, quando não é um mito para seus alunos; o escritor, para seus leitores; o artista, para seus admiradores. Admira-se o mito. Certa vez gabava a José Régio a celebridade, a fama que alcançara, ao que este respondeu, que para quem com ele trabalhava, era apenas “o senhor doutor.”
Certos médicos, certos escritores, certos artistas plásticos, são apreciados porque ao redor deles criou-se áurea de glória, muitas vezes mantida pela publicidade e correligionários.
Certas obras admiradas, de artistas plásticos, não merecem um chavo; mas são vendidas por milhões, devido à assinatura, ao mito, que se criou.
Muitos adquirem livros, não porque sejam valiosos, sob aspecto literário ou conteúdo, mas apenas porque a critica o acarinhou (quantas vezes paga pelo editor,) assegurando que é bom; que vale a pena ser lido. Entretanto, há monos, esquecidos nas prateleiras do livreiro, que ninguém lê, e são preciosos: no estilo e nos pareceres revelados.
A velha história do rei vai nu, repete-se todos os dias… até na politica…
Todavia a sociedade necessita dessa dose de mitologia, para o vulgo acreditar, e não veja o que vê, mas o que querem que veja.
Sem o mito, muitos desabavam…porque têm pés e barro…Vive-se de ilusões…De palavras ocas…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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