Instituto Politécnico de Bragança ADRIANO MIRANDA |
Neste politécnico, mais de 2000 dos cerca de 9000 alunos que ali estudam são lusófonos, particularmente de Cabo Verde, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. Apesar de alguns estarem a estudar ao abrigo de bolsas, a maioria chegou através de protocolos e às suas custas, contando com a ajuda de familiares e amigos para o seu sustento e pagamento de propinas. Alguns acabaram por arranjar um emprego que ajudava a equilibrar as contas.
Com a chegada da pandemia, não só estes estudantes perderam os empregos que tinham encontrado na cidade, como os seus familiares foram igualmente atingidos e, por isso, impedidos de os continuar a ajudar. “Acontece que muitos pais de alunos perderam os salários ou os seus rendimentos diminuíram drasticamente, pondo em causa a sua subsistência. Os governos [dos países de origem dos estudantes] podiam ter uma palavra, mas não o fazem”, disse.
Segundo Wanderley Antunes, alguns dos alunos já estão a pensar desistir do curso, pois têm ainda de assegurar o pagamento das propinas, por mais que o IPB se tenha revelado compreensivo com a situação destes alunos. O presidente da AEAB referiu que alguns destes estudantes já têm mesmo as propinas em atraso. Sobre o IPB, Wanderley Antunes sublinha as iniciativas de apoio - em conjugação com alunos e organizações de beneficência -, como um banco alimentar e de roupa.
Mas a associação e os estudantes que representa gostariam que as embaixadas, em representação dos seus países de origem, se mostrassem mais preocupadas e presentes nesta altura. No entanto, e apesar dos pedidos que associação formulou, “não se dignaram a responder”, com excepção para a de Cabo Verde, que tem “apoiado como pode, não só com ajudas, como estando sempre presentes e preocupados com os alunos cabo-verdianos”. Para Wanderley Antunes, “as embaixadas deviam mostrar que se preocupam com estes estudantes, futuros quadros do país, nem que fosse através de uma palavra amiga”. “A situação é difícil para todos e estes estudantes sentem-se abandonados pelo Estado [dos seus países] e sem ter a quem recorrer”, acrescentou.
Cabo Verde é o país de origem da maior parte destes alunos lusófonos neste Politécnico, cerca de 1200. Segue-se São Tomé, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. No IPB estudam ainda alunos provenientes de outros países africanos, não lusófonos, como a Nigéria. Em declarações à Lusa, o presidente do IPB, Orlando Rodrigues, revelou que têm existido situações de incumprimento no pagamento das propinas, mas nada de preocupante.
Neste Politécnico, onde estudam alunos de 70 nacionalidades diferentes, os alunos podem solicitar o pagamento das propinas em dez prestações, desde o anterior ano lectivo, já afectado pela pandemia. Orlando Rodrigues reconheceu que os alunos nacionais têm mais mecanismos de apoio social para mobilizar, enquanto em relação aos internacionais é preciso “desenvolver outras soluções”. A aposta do IPB tem sido no “desenvolvimento de soluções mais criativas, apelando ao sentido solidário dos alunos que contribuam para a evolução da sua formação”, disse. E enumerou o banco alimentar e a loja de roupas usadas como exemplos de mobilização social promovidos pela instituição com os estudantes.
A instituição desenvolveu ainda campanhas de solidariedade para oferta de computadores a quem deles necessitava para ter acesso ao ensino à distância, devido ao confinamento imposto pelas medidas contra a covid-19, além de emprestar alguns computadores do Politécnico.
Wanderley Antunes enaltece esta disponibilidade dos computadores, fundamentais para o ensino online, durante o qual foram detectadas dificuldades nos estudantes que levaram a AEAB a organizar acções de formação que serão realizadas no âmbito da Semana de África, em Maio. “Alguns alunos não têm conhecimento informático e vamos fornecer a estes alunos alguns minicursos de informática, como forma de colmatar essa falta de conhecimento”, disse.
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