- Olá Pe. Hérmino então como anda V.ª Rev.cia?
- Olá Sr. Prior! Não ando, estou parado!
- Continuamos a conversa sobre as “Benditas Almas”?
- Ok.
- Recuamos ao século XVI, ao Concílio de Trento [1545-1563], marco na reforma na Igreja Católica, convocado pelo Papa Paulo III [1468-1549] e, ao CR - “Catecismo Romano” [1566] de S. Pio V, onde se expõem as principais verdades da fé. Em 1905 S. Pio X resumi-lo-á. J. Ratzinger destacar-lhe-á a simplicidade de exposição e a profundidade dos conteúdos. O CR reafirma a doutrina tradicional sobre a existência do Purgatório e, defende que as almas que nele estão retidas são ajudadas pelos sufrágios dos vivos, especialmente pelo sacrifício do altar.
- Estevinho lembro-me dos concursos catequísticos promovidos por D. Abílio Vaz das Neves e, do pequeno catecismo diocesano.
- Os famosos que tinham como manual o, “Pequeno Devocionário, Elementos de Doutrina Cristã”, resumo do catecismo de S. Pio X. Cá está! Página 48: “O que é o Purgatório? O Purgatório é o sofrimento temporário da privação de Deus, e de outras penas que apagam na alma todos os restos de pecado”.
- Pequenas e poucas fórmulas, que sabíamos de cor, para entender e introduzir na vida prática! Em 1948, sendo o Cónego Valdemar o responsável da catequese a nível diocesano, o agora Cónego Doutor Samuel Saul Rodrigues, prof. de Direito Canónico e, Vigário Judicial da Diocese de Setúbal, sagrou-se vencedor de um desses concursos, cuja fase final foi disputada no Seminário de S. José, em Bragança, na fronteira do edifício, onde se reuniam centenas de crianças, párocos e, catequistas.
- Trento e o CR suscitaram um enorme dinamismo evangelizador, nas diferentes Igrejas locais. Por cá usaram-se de todos os recursos pedagógicos para incrementar a devoção e, suscitar a fé dos fiéis. Já falamos das “Alminhas”, algo exclusivamente nosso, pequenos cruzeiros à margem dos caminhos, a incentivar os viandantes a rezar pelos defuntos, das orações que se introduziram na piedade popular e, hoje referimos a “Encomendação das Almas”. Mais um esforço criativo que teatraliza, cortejos lúgubres, homens encapotados, mulheres de xailes negros pela cabeça, lanternas de azeite nas mãos, cânticos tristes e angustiosos em louvor e sufrágio pelos mortos.
- Estevinho fala com o Pe. Joaquim da Assunção Leite, de Lodões, Vila Flor, pois lá é que se encomendavam as Almas!
- Pe. Hérmino, Michel Giacometti, que fez recolha da tradição musical popular Portuguesa, gravou o canto das Almas em São Bento do Ameixial, no concelho de Estremoz, Alentejo e, refere que se trata, possivelmente, de um costume medieval e, uma prática religiosa especificamente Portuguesa, que se cantava por todo o país. De Portugal foi levado pelos Jesuítas para o Brasil, no séc. XVI,onde ainda perdura, dispersa em diferentes lugares.
“É necessário e urgente que se proceda entre nós, e por todos os meios, à recolha da nossa música regional” referia Giacometti [6]. Tiago Pereira, divulgador da música Portuguesa, alerta para a urgência de documentar, gravar e reutilizar fragmentos da memória do povo. A 50 anos do registo do canto das almas feito por Giacometti, já muito se perdeu na música, como na religiosidade, por isso sublinho a urgência de Tiago Pereira: “gravar e reutilizar fragmentos da memória de um povo”, para não perdermos a identidade.
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