Desta vez o Governo enquadrou-os na primeira fase de desconfinamento, depois de no ano passado os ter deixado para último. Por Bragança, os tatuadores já limparam o pó às agulhas e estão novamente a gravar tinta na pele de quem os procura.
Luís Gonçalves tem 33 anos e quando o Governo o mandou arrumar as agulhas estava a trabalhar há pouco mais de um mês num espaço novo, a barbearia Bôman.
O tatuador abriu a Stamp Tattoo Shop, em 2014, e depois de a fechar ainda trabalhou por Bragança algum tempo, mas saiu do país para se desafiar um pouco mais. Estava em França quando decidiu voltar às origens. Fechar portas passado uns dias de as abrir foi complicado por vários motivos.
“Para além da confusão psicológica de não poder tatuar, porque eu amo tatuar, mais me mete confusão o não conseguir viver da minha arte. Tenho ali as tintas, as telas e tentei adaptar-me à situação e vender quadros, desenhos e seguir pela arte”, contou.
Pedro Rodrigues também é tatuador. Tem 36 anos e abriu a Vida Loca Tattoo Shop, em 2011, que sobreviveu a esta segunda paragem imposta pelo Governo. As portas do estúdio, de onde se vê a grandeza do castelo de Bragança, voltaram a abrir-se para os apaixonados pela tinta, que não tardaram em chegar.
“Felizmente, sempre que reabrimos temos uma boa carga de clientes com muitas saudades de fazer as suas tatuagens e piercings. Vamos a um ritmo bom, mas não como era antes do primeiro confinamento”, disse.
O Governo exige regras apertadas no que toca à reabertura de espaços. Os estúdios de tatuagem não ficam à margem do controlo. Contudo, Luís Gonçalves garante que a maior parte dos cuidados já os tinham antes de se falar da pandemia.
Pedro Rodrigues assegura que têm aparecido muitas pessoas mais atentas mas que não há nada a temer porque o estúdio já tinha regras de higiene bastante fortes.
E quanto ao trabalho, em termos de tatuagem, Luís Gonçalves considera que, numa cidade em que não há largas dezenas de amantes de um só estilo, “é preciso saber fazer um pouco de tudo”.
“Nós somos poucos cá em Bragança e temos que nos adaptar ao que há. Eu penso que as cores em Bragança ainda não estão muito na moda. As pessoas ainda têm medo que a cor esbata e que crie infecções, isso é tudo mentira, pois hoje em dia já não há nada disso”, acrescentou.
Apaixonado pelo desenho desde pequeno, Pedro Rodrigues considera que ainda há muito preconceito em relação a pessoas tatuadas, mas que em Bragança se está a fazer um esforço.
“Se eu precisar de um trabalho ninguém mo vai dar, por causa da quantidade de tatuagens que tenho. Essa é uma realidade que muitos não querem saber, mas eu quero porque sou uma pessoa normalíssima como as outras. Mas já é muito bom ver as pessoas a fazer um esforço”, referiu.
Depois de dois meses de confinamento, desta vez, ao contrário do que aconteceu no ano passado, os tatuadores ficaram entre os ditos “sortudos” que já puderam regressar ao trabalho.
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