Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Hoje vou apresentar-vos dois expendidos textos, que me pareceram excelentes, para demonstrar, o que é a vida: um é extracto do magnífico sermão do Padre Manuel Bernardes: “ Prática do Domingo da Sexagésima; outro, de Guerra Junqueiro, in: “ Musa em Férias” “ No Boulevard”.
A maioria de nós, tão atarefados anda envolvido, nos nossos problemas, nos nossos ensejos, que raras vezes paramos para meditar: o que é a vida.
Só quem observa o homem, sua vaidade, sua cobiça e inveja, a ânsia de ser importante, famoso, admirado pelos demais, é que pode compreender, verdadeiramente, o que é a vida.
Mas vamos ao admirável sermão de Manuel Bernardes:
“ (…) Aqueles cantam, dali a pouco choram; estoutros choram, daqui a pouco cantam; aqui se está enfeitando um vivo, paredes meia estão amortalhando um defunto; aqui contratam, acolá destratam; aqui conversam, acolá brigam; aqui estão à mesa rindo e fartando-se, acolá estão no leito gemendo o que riram, e sangrando-se do que comeram…
Lá vai um no seu coche com os pés sobre tela e veludo; atrás das rodas vai um pobre nu e descalço. Que turba-multa é aquela que vai cobrindo os campos de armas e carruagens? É um exercito que vai a uma de duas causas, ou a morrer ou a matar. E sobre que? Sobre que dois palmos de terra são de cá e não são de lá. E que árvores são aquelas que vão voando pelas ondas com asas de pano? São navios que vão buscar muito longe cousas que piquem a língua para comer mais, cousas que afaguem a pele, cousas que alegrem os olhos, isto é especiarias, sedas, ouro, etc.
Olhai o tráfego! Tudo ferve, tudo se muda por instantes. Se divertires os olhos, dali a nada tudo acharás virado. O rico já é pobre, o mecânico já é fidalgo, o moço já é velho, o são já é enfermo, e o homem já é cinzas.
Já são outras cidades, outras ruas, outra linguagem, outros trajes, outras leis, outros homens…tudo passará!”.
A maioria de nós, tão atarefados anda envolvido, nos nossos problemas, nos nossos ensejos, que raras vezes paramos para meditar: o que é a vida.
Só quem observa o homem, sua vaidade, sua cobiça e inveja, a ânsia de ser importante, famoso, admirado pelos demais, é que pode compreender, verdadeiramente, o que é a vida.
Mas vamos ao admirável sermão de Manuel Bernardes:
“ (…) Aqueles cantam, dali a pouco choram; estoutros choram, daqui a pouco cantam; aqui se está enfeitando um vivo, paredes meia estão amortalhando um defunto; aqui contratam, acolá destratam; aqui conversam, acolá brigam; aqui estão à mesa rindo e fartando-se, acolá estão no leito gemendo o que riram, e sangrando-se do que comeram…
Lá vai um no seu coche com os pés sobre tela e veludo; atrás das rodas vai um pobre nu e descalço. Que turba-multa é aquela que vai cobrindo os campos de armas e carruagens? É um exercito que vai a uma de duas causas, ou a morrer ou a matar. E sobre que? Sobre que dois palmos de terra são de cá e não são de lá. E que árvores são aquelas que vão voando pelas ondas com asas de pano? São navios que vão buscar muito longe cousas que piquem a língua para comer mais, cousas que afaguem a pele, cousas que alegrem os olhos, isto é especiarias, sedas, ouro, etc.
Olhai o tráfego! Tudo ferve, tudo se muda por instantes. Se divertires os olhos, dali a nada tudo acharás virado. O rico já é pobre, o mecânico já é fidalgo, o moço já é velho, o são já é enfermo, e o homem já é cinzas.
Já são outras cidades, outras ruas, outra linguagem, outros trajes, outras leis, outros homens…tudo passará!”.
E para terminar, o que escreveu Guerra Junqueiro sobre a vida e o comportamento humano:
“O ponto essencial é não trazer grilheta.
Uma camisa branca, uma consciência preta.
Um ar pouco sério, um nome, algum dinheiro,
Eis tudo que se exige a qualquer bandoleiro
Para apresentar a farsa desta vida.
A virtude consiste em ter folha corrida.
A moral é um blague; apenas se suporta
Num drama ou num sermão; de resto é letra morta.”
( No Boulevard) - in “ Musa em Férias”.
Infelizmente…a vida é isto! Uma comédia ou farsa, mutações de mascaras…Teatro. Vive-se a representar, a jogar com palavras e ilusões, mentiras, hipocrisia e meias verdades.
Assim rola a vida, como se não houvesse outra Vida…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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