O interesse por esta produção começou há mais de duas décadas, quando alguns casais, que faziam as campanhas da apanha do morango com contratos sazonais, em França, resolveram apostar nesta cultura, na sua terra, em São Pedro Velho, no concelho de Mirandela. Foi o caso de Manuel Pinto, que começou com um terreno de meio hectare e agora já produz cerca de 40 toneladas por ano, em mais de 2,5 hectares.
O microclima que existe na aldeia, propício ao cultivo do fruto, o solo rico em potássio, são fatores que conferem um aroma especial ao morango, mais doce do que o habitual. "Quem prova uma vez, não vai querer outra coisa", garante Manuel Pinto. "Isto parece mel puro e digo sempre às pessoas que compram morangos de São Pedro Velho que não adicionem açúcar, porque é um desperdício", adianta.
Mas, para obter esta qualidade, é preciso muito trabalho e dedicação durante todo o ano. "Eu e a minha mulher trabalhamos de janeiro a dezembro, não há sábados, domingos e feriados nem temos tempo para gozar férias, porque o morango é como uma criança que gosta de ter pessoas sempre perto dela, porque a planta apanha muita doença e se não andarmos sempre em cima, vai tudo embora", diz.
E a fama dos morangos de São Pedro Velho é tal que as 100 toneladas produzidas pelos cinco agricultores da terra têm escoamento garantido, mesmo em tempo de pandemia. "Se tivesse o dobro ou o triplo da produção iria conseguir escoar. Este ano, plantei mais 15 mil pés, mesmo assim já tive de recusar clientes do Porto, da Póvoa de Varzim, Viseu, Bragança e até de Mirandela", conclui.
Os cinco produtores dão emprego a 50 ou 60 pessoas nesta aldeia, com apenas 200 habitantes. "Isto é muito importante para a economia local, porque muitos já não vão para a França, às campanhas que habitualmente iam, ficam por cá, estão com a família e com os filhos e isso é extremamente importante, salienta o presidente da junta, Carlos Pires, que não tem dúvidas de que o morango de São Pedro Velho está igualmente a capitalizar a visibilidade de outros produtos de excelência da aldeia, como a framboesa, o vinho, o mel, o azeite e o pão.
Bruna Morais há 14 anos que faz da apanha a sua atividade profissional para viver, quer na sua terra, quer no estrangeiro, mas admite que é um trabalho difícil. "Temos de andar sempre amarrados e quem não aguenta tem de estar de joelhos, para quem não está habituado custa."
E Bruna antevê dificuldades para mão-de-obra no futuro. "Os mais novos não se mostram interessados nesta atividade, só pensam em jogos, em telemóveis e querem é empregos sentados num escritório", conta.
A apanha do morango começou esta semana e vai durar até ao mês de novembro.
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