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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

“Já fui abordado por elementos da proteção civil ou bombeiros que procuram informação pertinente em tempo real”

 Deu início a uma página nas redes sociais sobre os fenómenos meteorológicos que tem já alcance nacional.


Márcio Santos é mentor da página Meteo Trás-os-Montes e colaborador do Mensageiro de Bragança há dois anos.

Mensageiro de Bragança: Como surgiu o gosto pela meteorologia?

Mário Santos: Creio que é inato, não consigo indicar quando e como o gosto pela meteorologia surgiu. Desde tenra idade que me recordo de apreciar os fenómenos atmosféricos, nomeadamente os fenómenos extremos, que são os que dão motivos de interesse. Para qualquer apreciador desta temática o aborrecido são os dias de sol e de estabilidade, gosto muito mais de um dia de trovoada do que de um dia de calor abrasador e desde sempre que foi assim.

O facto de ter crescido na nossa região e termos um dos climas mais dinâmicos do país também ajudou. Lembro-me do fascínio que me causou quando vi o fenómeno da chuva gelada ou o sincelo pela primeira vez ou os grandes nevões de 1997. Quando trovejava no verão eu gostava de ver as nuvens a crescer no céu e questionava-me acerca daqueles processos atmosféricos, mais tarde procurei nos livros informação, nas antigas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian e comecei a ganhar noções básicas. Outro fator determinante foi, sem dúvida, os boletins meteorológicos que existiam antigamente na televisão, com excelentes comunicadores como o saudoso Anthímio de Azevedo ou a Teresa Abrantes, que não apenas davam as informações mas também as explicavam, qualidade que se perdeu nos dias que correm nos media nacionais. Mesmo com a presença de meteorologistas na RTP, os espaços continuam pobres e sem interesse.

MB.: Como e quando decidiu iniciar o projeto do Meteo Trás-os-Montes?

MS.: O Meteo Trás-os-Montes surgiu em 2013 e não era para ser nada do que se tornou hoje em dia, nem era esse o meu propósito.

Os meus amigos e familiares já sabiam deste meu hobbie, que fui cultivando aos longos dos anos, mesmo durante a minha formação académica, que nada tem de relacionada com a meteorologia. A ideia inicial era partilhar com eles as informações e curiosidades sobre este tema que achasse relevantes no nosso dia-a-dia, mas, rapidamente, a magia das redes sociais aconteceu, as partilhas foram-se multiplicando e a abordagem usada numa linguagem descomplicada e próxima das populações foi chave no crescimento e sucesso da página, até que se tornou referência no nosso país quando os seguidores se começaram a envolver no projeto participando ativamente nele, o fluxo de informação passou a fazer-se nos dois sentidos, não apenas da página para os seguidores mas também dos seguidores para a página e foi essa a grande “inovação” que o Meteo Trás-os-Montes trouxe ao panorama nacional.

MB.: Que repercussão sente que tem tido?

MS.: A repercussão tem sido imensa, a informação partilhada transmite qualidade e confiança e permite acompanhar tudo o que se passa em tempo real.

Embora de forma informal já fui abordado por elementos ligados à proteção civil ou bombeiros que procuram informação pertinente em tempo real em situações variadas desde cheias, nevadas ou até incêndios florestais. Sou muitas vezes abordado por jornalistas que procuram informações acerca de fenómenos que ocorrem no nosso país e procuram explicações simples que as pessoas consigam entender para os seus artigos. Percebe-se que as pessoas valorizam a informação quando enviam mensagens a agradecer o trabalho prestado e que, graças à nossa página, conseguiram, por exemplo, antecipar uma trovoada e tapar um telhado em obras e evitar estragos e até querem dar uma gratificação por isso.

MB.: Para os nossos leitores terem noção, profissionalmente não está ligado a nada nesta área. O que faz e como conjuga as duas atividades?

MS.: A minha atividade profissional nada tem a ver com meteorologia, embora tenha ponderado seguir esta área quando andava no Liceu. Trabalho na banca, o que, obviamente, limita o acompanhamento que poderia ser feito, mas o Meteo Trás-os-Montes é um hobbie e, como tal, nunca se sobrepôs sobre a minha atividade, nem tal faria sentido.

Felizmente consegui reunir uma equipa que faz um trabalho fundamental na gestão da página, o Miguel Carvalho e o Gonçalo Poço, dois excelentes fotógrafos que documentam o que se vai passando em Trás-os-Montes e na Serra da Estrela, o Miguel Moura da MeteoMontalegre e o Tiago Gonçalves da Meteo do Barroso que estão posicionados numa das regiões que mais interesse tem no inverno, a região de Barroso, e nos garantem em primeira mão as imagens das primeiras nevadas em Trás-os-Montes, todos eles têm projetos próprios muito válidos e interessantes.

MB.: Que importância considera que tem o fenómeno meteorológico nas nossas vidas?

MS.: Não é certamente uma pergunta consensual, depende muito das perceções que cada um tem.

Na minha opinião, tem uma importância fundamental, já que condiciona as nossas vidas, condiciona a natureza e até o ar que respiramos. Neste momento estamos com um padrão anómalo mas cada vez mais frequente de bloqueio anticiclónico, estamos sem as chuvas que antes eram habituais para o outono mas, se reparar, nem todos dão importância a isso nem entendem as implicações que isto tem. Não conseguem ver além do próprio quintal ou umbigo e o drama é este, é necessário haver mais consciência.

MB.: Acha que as pessoas, com a evolução de uma sociedade mais rural para uma sociedade mas metropolitana, deixaram de ter tanto interesse ou prestar tanta atenção à meteorologia?

MS.: Sem dúvida. Vivo numa grande cidade e sinto isso todos os dias nos meus amigos e colegas que me rodeiam.

Acredito que a meteorologia pode, e deve, ser mais do que uma conversa de elevador. Mas, para tal acontecer, é necessário que a comunicação se faça de forma simples e próxima da populações e isso, infelizmente, no nosso país não acontece. As pessoas olham para a informação meteorológica com desconfiança, muitos não se sentem representados em mapas de índole distrital sem qualquer detalhe.

Poderá um habitante de Mirandela guiar-se pela previsão dada no final do telejornal para Bragança? Claro que não! Deverá um habitante de Freixo de Espada à Cinta guiar-se pela emissão de avisos meteorológicos emitidos cegamente para todo o distrito tendo em conta critérios para uma estação meteorológica localizada em Bragança? Claro que não! Tudo isto contribui para a descredibilização e desinteresse das populações que procuram em páginas não oficiais informação mais fina com informações que lhe dizem respeito e próximas da sua realidade.

“Os invernos não são o que eram há apenas 30 ou 40 anos atrás”

MB.: Discutem-se muito as alterações climáticas. Pela sua análise, considera que são visíveis efeitos de mudança?

MS.: Este é um assunto fraturante mas, na minha opinião, sim, já são visíveis os efeitos da mudança climática. Os invernos não são o que eram há apenas 30 ou 40 anos atrás. Baseio-me em relatos que sempre fui ouvindo que falam em nevadas que duravam dias, semanas, grandes geadas e sincelos que derrubavam arvores e deixavam aldeias sem luz durante dias até aos anos 80.

Estes bloqueios anticiclónicos como os que estamos a assistir neste outono, longe de serem novidade, parecem, isso sim, cada vez mais frequentes e duradouros, criando um novo padrão de largos períodos sem precipitação intercalados por 2 ou 3 dias de precipitação intensa, fazendo médias mensais de precipitação em poucas horas quando, antigamente, as chuvas caíam de forma suave e gradual ao longo dos meses.

Nos últimos anos tem sido frequente sermos “salvos” por primaveras chuvosas, porque pouco chove no inverno. Se é um padrão para se impor nos próximos anos ou décadas, é cedo para se saber. O certo é que o país está às portas de dezembro e possivelmente boa parte do território entrará no inverno meteorológico em seca e tem sido muito difícil para o país deixar o cenário de seca persistente ao longo dos últimos anos.

AGR

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