Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Despachei-me cedo. Fui até ao Flórida. O tio Manuel perguntou logo: - Então que anda a armar?!
Antes que eu respondesse acrescentou logo: - Está novo... não passa um dia por si!...
Mas já há mais de quarenta anos que estou novo para o tio Manuel... meu amigo e dono do porto de abrigo que se chama Flórida...quase paredes meias com o velho Colégio dos Jesuítas.
Para celebrar o perene milagre de estar novo, pedi meia torrada e meia de leite... pão caseiro...o regresso a casa....o lume de novo se acendeu na pressa da torrada... e ouve-se a cabra leiteira balir nos lameiros frescos.
As luzes acendem-se na exuberância da cidade... vou-me até casa. A Estrelinha lá estará para montar a guarda da estrada até à garagem cumprindo todos os dias o seu rigoroso mister de guardadora..
- Então a torrada estava boa?!
Regresso a casa e a torrada estava boa... e o Café Florida lá está sempre.... último reduto duma cidade que morre paulatinamente.
... ficam as memórias!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Não sabe a miríade de sensações que este pequeno texto me causou... Foi para mim uma delícia lê-lo...
ResponderEliminarMais uma vez Parabéns, muitos mesmo, pelo incrível trabalho diário que tem com este cantinho que é sem dúvida local de passagem de muitos de nós. Obrigada por isso!
Agradeço as suas gentis palavras.
ResponderEliminarEste "projeto" só faz sentido porque tenho o privilégio de ter visitas como as suas.
Grato
Uma crônica, muitas imagens, profunda reflexão.
ResponderEliminarPena que o grande escritor estivesse melancólico quando fez a lavra......
Peço que imagine um sol dourado,um manto azul de mar e céu , com crepúsculo de néon! Esse é o espectrus brasilis! Entre, e sirva-se! Aqui, o equivalente à meia torrada e meia de leite, é o "pão na chapa e o pingado"; que, aliás está caríssimo por esses tempos de terceira fase de pandemia: custa o eqivalente a três Euros.
Caro escritor, eu também estou chocado, agora mais que estaria habitualmente.