Inédito em Bragança era o ritual de roubar galinhas; uma transgressão nunca admitida: - “Eu nunca roubei galinhas”. Mais fácil era dizer que as tínhamos comido sem sabermos que tinham sido roubadas e que acreditasse quem quisesse.
Ao lado das manifestações nacionalistas, surgiam as práticas transgressoras dos estudantes que, de certo modo, eram aceites na sociedade bragançana, a ponto de haver pessoas que se consideravam desconsideradas se não lhes fossem roubar galinhas nessa noite. Também havia quem esperasse os estudantes de caçadeira ao ombro.
Por norma tudo começava com os ensaios de uma peça de teatro, que havia de ser representada depois no dia 1 de Dezembro.
As comemorações começavam no dia anterior, à noite, com as serenatas. Os “músicos” faziam serenatas às professoras ou professores que mais gostavam, em seguida, às raparigas, muitas das quais, não podiam aparecer. Essas, que não podiam abrir a janela sequer, para dizer que tinham gostado, acendiam e apagavam a luz dos quartos.
No dia um de manhã, tinha lugar um cortejo. A latada, que tinha lugar à tarde, onde “desfilavam estudantes que satirizavam alguns acontecimentos do ano, na vida do liceu, da cidade e do país”.
Depois dos desfiles, havia récita teatral. Era depois dessa récita que tinham lugar as grandes farras com as galinhas “compradas” sem autorização do dono.
Os jovens que frequentaram o Liceu Nacional de Bragança e que vinham das aldeias e de outros locais do distrito em busca da instrução, à qual só uma minoria tinha acesso, na sua generalidade, viviam com precárias condições, em pensões, quartos alugados e lares.
Mesmo para os filhos dos funcionários ou comerciantes da cidade, o dinheiro, para copos e farras, não abundava. Muito mais difícil ainda era ter dinheiro para ir ao baile de gala, outro dos pontos altos destas comemorações.
Optava-se então pelos bailaricos “não oficiais”.
Ainda hoje, existem pelo menos dois grupos em Bragança, de duas gerações diferentes, que comemoram o 1.º de Dezembro com uma grande e condimentada jantarada seguida de músicas e canções de intervenção e populares, que duram até de madrugada. Qualquer um dos dois grupos é quase hermético, isto porque a comemoração é uma oportunidade única de voltarem a ser os rapazolas que eram enquanto estudantes... e assim, fica tudo entre amigos.
HM
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