Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Não é fácil entender esta dualidade de uso dos dinheiros públicos que, como é sabido, se sustentam dos impostos dos cidadãos. Os impostos, para além da afirmação da soberania, servem para financiar obras e atividades comuns, de utilidade pública, que não seria possível levar a bom termo exclusivamente com a contribuição voluntária de cada um e sobretudo para permitirem a redistribuição de riqueza exigindo mais a quem mais tem, para benefício de quem tem menos e pode menos. Ora, o que acontece com estas duas empresas públicas, está nos antípodas desta função de correção das desigualdades da sociedade. Os utentes da CP são, efetivamente, os desfavorecidos e foram estes os mais prejudicados com o encerramento das várias linhas, no século passado. Como os impostos são progressivos, os investimentos na ferrovia cumprem a nobre missão de apoio aos mais necessitados com maior contributo dos mais abastados. Já a TAP transporta sobretudo os que têm mais recursos e, como apesar das contribuições estatais, apresenta prejuízos pagos com os impostos de todos, favorece quem mais tem com o suporte, mesmo que menor, de quem tem menos e nada beneficia com isso.
As justificações que são dadas para tão injusta discriminação, não convencem, por não resistirem a uma análise fria e racional. A TAP tem de ser uma empresa de bandeira. Não vejo porquê. A atividade exportadora passa, cada vez mais, pelos portos marítimos onde os barcos que aí operam o fazem sob os mais diversos estandartes sem que isso constitua qualquer óbice à sua atividade normal. É verdade que as aeronaves levam as cores nacionais na cauda mas são pouco visíveis pois o acesso aos aeroportos é limitado e, quando em voo, não se enxergam.
Mais visíveis são os camiões que cruzam as rodovias europeias e não se conhece nenhum empenho especial, do Governo, no apoio às rodoviárias. A TAP é uma grande empresa exportadora. Exporta porque vende muitos bilhetes a cidadãos estrangeiros. Mas também importa porque compra, nos locais para onde voa, muitas das matérias e serviços que suportam a sua atividade. Como dá prejuízo, é bem possível que o que compra fora de portas seja superior ao que vende. Não é líquido que tenha um contributo positivo para a balança de pagamentos. É preciso proteger os empregos da TAP. Mas a injeção de avultados recursos foi acompanhada por uma considerável redução do número de trabalhadores. Também aqui foram os mais humildes os mais fustigados. O que a TAP não fizer, outra empresa o fará e não pode, por razões económicas, dispensar funcionários e fornecedores lusitanos no que for competitivo.
O mesmo não se passa com a CP que, sendo mais ecológica, não se restringe a Porto, Lisboa e Faro, antes leva o desenvolvimento a todo o país, integrando o interior, desfavorecido, distante e desertificado.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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