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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Sonho (2003)

Por: Manuel Amaro Mendonça
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
 
Dormia calmamente quando senti o toque fresco da tua mão no meu rosto em total contraste com o calor que fazia no quarto.
Abri os olhos e vi-te de pé, frente a mim, sorrindo como só tu sabes sorrir. Teu cabelo solto criava uma aura na contraluz da luminosidade que se escoava pela janela atrás de ti.
Tocaste com o indicador nos meus lábios para impor silêncio. Fechei os olhos por segundos e quando os abri novamente tinhas desaparecido.
As cortinas da porta do terraço acenavam-me languidamente, ao sabor da brisa noturna.
Ergui-me e caminhei para a porta. A frescura da noite chegou ao meu corpo despido e envolveu-me lentamente.
E ali estavas de novo, de pé no meio do terraço, qual Eva renascida trazendo contigo o Pecado Original.
Sentaste-te e deitaste-te graciosamente enquanto eu me aproximava, de corpo tenso, ereto, em homenagem à tua beleza.
Ajoelhei junto ao Altar do teu corpo, sacerdote de uma qualquer religião esquecida adoradora de Vénus. Extasiado e reverente, perante tão radiosa aparição.
O veludo negro do céu e os diamantes que o ponteavam, eram as únicas testemunhas de tão irreal acontecimento, de tão imortal encontro.
Os Deuses, algures no Olimpo, congeminaram esta nossa união que tem tanto de sagrado como de herético. Divertem-se durante vidas inteiras aproximando-nos e afastando-nos a seu bel-prazer mas esta noite deram-nos tréguas.
Os meus lábios tocaram os teus e repousei o meu corpo suavemente sobre o teu. Fomos um abraço sem tempo, uma união única de corpos e mentes de sintonia total como só acontece uma vez em cada milhão de anos.
Vibramos silenciosamente, rodando, penetrando e sugando loucamente por uma eternidade. Explorei cada ponto da tua geografia, vagueei pelas tuas colinas, acariciei cada contorno das tuas planícies, deixei-me perder no teu mato aveludado e doce, convidativo e húmido.
O tempo deixou de existir e o cenário noturno esbateu-se lentamente até toda a realidade se projetar numa explosão de cores e sentidos desordenados, terminada numa lassidão cheia de doçura e saciedade.
Quando tornei a abrir os olhos, os primeiros laivos da madrugada rompiam sobre os telhados das casas e eu estava deitado no terraço, frio e sozinho.
Foi um sonho?
Eu acho que não.

Manuel Amaro Mendonça
nasceu em Janeiro de 1965, na cidade de São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos, a "Terra de Horizonte e Mar".
É autor dos livros "Terras de Xisto e Outras Histórias" (Agosto 2015), "Lágrimas no Rio" (Abril 2016), "Daqueles Além Marão" (Abril 2017) e "Entre o Preto e o Branco" (2020), todos editados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon.
Foi reconhecido em quatro concursos de escrita e os seus textos já foram selecionados para duas dezenas de antologias de contos, de diversas editoras.
Outros trabalhos estão em projeto e sairão em breve. Siga as últimas novidades AQUI.

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