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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O TIO MÁRIO MELO É MAIS UM ARTISTA DO NOSSO POVO

 Este mês é das almas, por isso tivemos no nosso programa a tia Maria Falcão de Caçarelhos, Vimioso e a tia Felisbina de Constantim, Miranda do Douro, a cantar a encomendação das almas, embora, na maior parte das aldeias, esta tradição só realize na Quaresma.


O tio João Santos, de Torre de Dª Chama, que é um apaixonado por cabaças, este ano teve dezenas delas de um só pé e de várias formas como se pode ver na foto.

Temos que continuar com as devidas precauções pois a pandemia continua. Como diz o tio António Guedes. “Ó tio João, estamos mal, o bicho mau está a fazer cada vez mais criação”

Vamos à lista dos aniversariantes dos últimos dias; Aldina Pinto (87) Lampaça (Valpaços); Manuel Rosa (84) Vilar Seco (Vimioso); António Lopes (83) e seu neto Moisés Lopes (18) Argemil (Valpaços); António Romão (76) São Julião (Bragança); Afonsa Pacheco (69) Sacoias (Bragança); Lucinda Merêncio (59) Pereiros (Valpaços); Vítor Moreira (51) Oleirinhos (Bragança); Sofia Sampaio (46) Agua Revés (Valpaços); Ariana Dias (45) Couto de Ervededo (Chaves); Marco Lopes (40) Esturãos (Valpaços); Simão dos Santos(5) Torre Dª Chama.

Saúde e muitos parabéns para todos!

Já vos tinha falado na edição anterior do tio Mário Melo, que começou por nos ouvir por intermédio de Augusto Machado, que vive em Águeda, mas é de Paçó de Rio Frio, Bragança. Já há alguns meses nos ouve e liga, deliciando a família com as suas melodias tocadas e cantadas. Já fez amizades e muitos admiradores. Na semana passada interpretou vários fados de Coimbra. É cego de nascença e hoje resolvemos dar-vos a conhecer um pouco da sua história de vida.

Mário Melo nasceu a 21 de Janeiro de 1957, em Frossos, concelho de Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro. Já tinha 14 meses quando a avó materna disse à sua mãe, “se calhar o menino é cego”. Como sabem nessa altura não havia diagnóstico precoce do teste do pezinho, pois os partos eram feitos em casa.

A seguir transcrevemos um excerto da nossa conversa.

“Eu sou cego, não gosto muito de ser tratado por invisual, porque invisual parece que é uma pessoa que não aparece, que é invisível. Sou cego! Não tenho que ter medo das palavras e aceito a minha deficiência. Às vezes, com ironia até digo, eu seja cego se não for assim! Estou sempre a brincar, com boa disposição.

Gosto muito de conhecer pessoas, gosto de falar com toda a gente. Fui para a escola com sete anos, mas foi muito difícil integrar-me, porque fiquei preso na escola de dia e noite. Estive no Porto, num colégio interno para cegos, onde aprendi braille, joguei à bola, claro, a bola era diferente pois tinha dentro umas arreias para nós sentirmos o rugido e ir em direcção à bola. Nunca encontrei na minha vida muito apoio familiar. Não tive o mesmo tratamento que as minhas irmãs, por ser cego. Uma vez perguntei ao meu pai: porque é que dá às minhas irmãs isto e aquilo e a mim não me dá nada? O meu pai respondeu: eu não te dou, porque quando eu precisar, é com elas que conto e não contigo. Isto dói tio João!

Estou no meu terceiro casamento, e nenhuma delas era cega. Nunca tive grande aptidão para cegas, embora saiba que a mulher cega faz o asseio da sua casa como ninguém, são muito arrumadas, sabem onde guardam tudo.

Eu conheço um rapaz, também cego, que trabalhou muito anos numa retrosaria, sempre a lidar com botões, agulhas, a cor das linhas e tudo. Tinha as gavetas identificadas em braile e apesar da sua deficiência fazia tudo direitinho.

Em 1983 trabalhei numa fábrica de papel e ganhava na altura 16 contos por mês. Estive lá 23 anos e não fui telefonista, estava numa linha de montagem. As pessoas pensam que os cegos no emprego só sabem ser telefonistas, mas isso é mentira, os cegos são mais capacitados. Não têm obrigatoriamente que ser telefonistas ou músicos, eu por acaso virei-me para a música, só pensava na música e agora é isto que eu faço.

Com as novas tecnologias, nós os cegos, tanto no telemóvel como no computador, tudo o que as pessoas que veem no ecrã, nós ouvimos.

Gosto muito de conviver. Trabalho aos fins de semana no hotel estalagem da Pateira de Fermentelos, sou o animador do hotel para vários grupos, isto para mim não é trabalho, é um passatempo, que ao mesmo tempo me dá alguns euros.

Durante a semana também ensino a tocar acordeão, tenho um método para ensinar a tocar com as duas mãos. Passo também muito tempo ao telefone numa linha de animação, convivendo assim com muitos mais cegos.

Aqueles que já viram, mas perderam a visão ao longo dos anos, custa-lhe mais a adaptação eu como nunca vi, sou feliz assim”.

Bem haja tio Mário Melo, pelo seu entusiasmo e alegria que dá à nossa gente, que Deus o beneficie com saúde para nos continuar a animar com as suas melodias!

Tio João

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