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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

A Importância das Raízes

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

Recordo-me de há uns poucos anos atrás, uma certa pessoa me ter atirado em cara uma famosa frase, numa atitude de prepotência de quem se imagina com grandeza de caráter por acreditar que dizer aos outros aquilo que gostam de ouvir, é a melhor forma de amar alguém.

Isto, acreditei, ainda que não se sinta nem se pense o que é proferido da boca para fora. Porventura, amavelmente cuspido entre dentes e um sorriso amarelo, somente com o intuito de ficar bem visto perante terceiros.
Uma dessas frases batidas de que o mundo se apodera e às quais se batem palmas nas redes sociais e que, sendo de alguém, são de todos e não são de ninguém. Citações que, de tão repetitivas, vão acabando por desgastar quem tem vontade e aptidão para pensar um pouco mais além.
Dizia-me a dita pessoa, que “devemos construir pontes e não muros”…
Recordo-me de lhe ter respondido, na altura, que de construção de pontes e muros muito pouco ou nada sabia pois que, na verdade, não sendo mestre de obras nem tão pouco arquiteta, os meus conhecimentos e aprendizagem ao longo da vida têm versado mais sobre a construção de relações. Relações Humanas. E que a existir alguma ponte ali, é apenas aquela que permitimos ser percorrida por quem realmente desejamos presente no nosso percurso.
Ontem, sem querer, um amigo trouxe-me à memória este episódio, quando me falou em raízes. Disse-me ele que, ao olhar pela janela do local onde se encontrava a trabalhar, reparou numa árvore com os ramos a balouçar, fruto do vento que se fazia sentir lá fora e que isso o fez pensar na importância fundamental de nós, humanos, criarmos raízes.
O que têm estas duas situações a ver uma com a outra? Tudo.
Pergunto se teremos consciência, cada um de nós, de como criamos as nossas raízes. E que espécie de raízes nos prendem ao solo da vida. Que tipo de relações escolhemos estabelecer com os que nos rodeiam, para edificarmos essas raízes que nos firmam em terra e nos dão a certeza de não virmos a cair face às intempéries?
De repente, ao escutar a reflexão desse meu amigo, apercebi-me de algo que talvez seja fundamental repensar.
Dei-me conta de que muitas pessoas que fazem parte do meu pequeno universo de relações, as quais defino, inquestionavelmente, como sendo verdadeiramente humanas, estão presentes há quase duas décadas ou ainda mais.
Por entre obstáculos, vicissitudes, afastamentos, regressos, risos e lágrimas, o facto é que essas pessoas, distantes ou mais próximas, permanecem ao meu lado. E nos tempos de contratempos, infortúnios, transtornos, aborrecimentos, tribulações e atrapalhações, são elas as raízes da minha árvore que, do outro lado da ponte que lhes permiti atravessar, nunca deixaram de me segurar em chão firme.
Entretanto, outras foram transpondo igualmente a ponte a que lhes dei passagem e na árvore se foram instalando. Umas, como folhas que me abrigam o corpo das chuvas de inverno, algumas como flores delicadas que me perfumam os ramos como em instantes de primavera. Umas que me fazem sorrir com o seu canto sonoro em cada manhã, outras que, como pássaros livres, me encantam com o seu destemido voar.
Com elas me abraço, com elas aprendo, com elas me vou tornando na pessoa que gosto de ser.
Dizer o que se sente e o que efetivamente se pensa sem medo de ficar só, acreditar que não é preciso agradar a todos para se ser generoso e ter dignidade e que o amor-próprio não se constrói com pontes que, um dia mais tarde, facilmente desabarão, não se trata apenas de um ato de coragem. É também um desafio à honestidade interior de cada um. Um repto à capacidade de construção dessas raízes que nunca permitirão à árvore açoitada pelo vento, perder o seu equilíbrio e a sua solidez.
Direi, pois, com comprovada confiança e convicção: procuremos todos construir raízes e não pontes.


Paula Freire
- Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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