Situada na veiga de Alfaião, perto da ribeira do Penacal, no sopé de um castro com vestígios recentes de romanização, a origem da capela supõe-se seiscentista. Frei Agostinho de Santa Maria, na sua obra «Santuário Mariano …» (volume V, 1716, p. 651) anota a sua existência e a grande devoção a “Nossa Senhora das Veygas”, muito “frequentada de romagens”. Mas acrescenta: “não pude descobrir nada dos principios daquella sagrada Imagem, nem da origem daquelle seu Santuario”.
A tradição oral remete para a história do lavrador que certo dia trabalhava a terra com uma junta de bois em Sumidague, junto ao morro do castro. De repente, os animais espantam-se e correram desenfreados campo fora, arrastando o arado, rumo ao penhasco. Estarrecido face ao que significava a perda dos bens do seu sustento, o «pobre homem» dirigiu os olhos para o Céu e implorou à Virgem Santíssima que lhe acudisse em tamanha aflição. Quando voltou o olhar para os bois viu-os prodigiosamente salvos. Sentindo-se agraciado, afirmou a promessa de ser erguida no local uma ermida em honra de Nossa Senhora da Veiga. O espaço, polivalente e murado, contém a capela, o altar exterior e respectivas pinturas murais além de infraestruturas para apoio das festividades. Festividades que decorrem “in illo tempore” e se realizam actualmente no terceiro Domingo de Agosto, precedido na noite anterior pela procissão de velas da aldeia à veiga.
A capela, rebocada e pintada de branco, tem o frontispício rasgado por portal de moldura recta, encimado por imagem pintada da Senhora da Veiga com o Menino ao colo. A empena é interrompida por pequeno campanário de granito, com um sino inserto em vão de volta perfeita, encimado por cruz trevolada sobre acrotério. Tem dois pontos de entrada de luz quadrangulares emoldurados e gradeados. A fachada lateral esquerda tem janela em capialço e a da direita sacristia adossada.
Relativamente ao tríptico de painéis pintados em técnica de fresco a cores e cinza, datam de Agosto de 2021 e resultaram do labor do pároco, Estevinho Pires, dos mordomos e das mercês dos fiéis. Da autoria de Tânia Pires, coadjudada por Kim Barcenas, retratam os «Sete mistérios de Jesus Cristo e da Virgem Maria»: no da esquerda, realce para a Natividade de Belém, com a Sagrada Família afagados pelo burro e a vaca; no do centro, protegido por alpendre, Maria com o Menino e referência à graça alcançada pelo lavrador; o da direita é alusivo ao Calvário. No interior, onde se sente o contexto mariano que envolve o espaço sacro, a nave tem piso marmoreado, as paredes são rebocadas e pintadas de branco, ladeadas por landins de azulejos azuis e brancos de motivos florais, e o tecto forrado a madeira de pinho em tons azul celeste. Destaque para o púlpito adossado à parede do lado da epístola, uma raridade em capelas, com guarda quadrangular abalaustrada, em madeira, suportado por mísula de granito em pirâmide invertida, sem escada. Seis ex-votos expostos aduzem a agradecimentos à Senhora da Veiga pelas graças atendidas a crentes. A área do altar, sobrelevada, está separada da nave por robusto arco triunfal granítico abatido, com tecto em berço aparente. A mesa das celebrações, de talha policromada assente em duas colunas, apoia-se em plataforma de três degraus.
O retábulo, em talha policromada e dourada, é de três eixos, com quatro colunas salomónicas de capitel coríntio e base anelada, decoradas com pâmpanos, putti, fénices e acantos, de onde evoluem duas arquivoltas unidas por aduelas. Trata-se de um exemplar tardo-barroco, com intervenções no século XX. No eixo central, em arco de volta perfeita e costeira a floreados, está a bonita imagem da Senhora da Veiga com o Menino ao colo desnudado, assente em mísula com anjos no frontal. De vestes rosa e manto azul, dois anjos coroam-na, tendo uma lua aos pés, ou Maria que brilha no meio da escuridão. Está ladeada pelas imagens dos santos pastorinhos de Fátima Jacinta e Francisco Marto, sobre peanha. Quem visite o “santuário” é bafejado por um verdejante ambiente campestre em simbiose com a modernidade religiosa dos murais, testemunhos da «doce Virgem Maria» – Senhora da Veiga!
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