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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Entrevista: «A marca “Aldeias de Portugal” é uma distinção que trouxe orgulho e responsabilidade a Algoso» – Cristina Miguel

 Desde 1 de outubro de 2023, Algoso passou a integrar a rede “Aldeias de Portugal”, uma distinção que segundo a presidente da União de Freguesias de Algoso, Campo de Víboras e Uva, Cristina Miguel, veio reconhecer a singularidade desta localidade, onde se destaca o património cultural, com o castelo construído nos inícios da nacionalidade (século XII) mas também a preservação de antigas tradições como o Sábado de Aleluia, que se celebra na Páscoa.


Terra de Miranda – Notícias: A 1 de outubro de 2023, Algoso assinou a carta de compromisso de adesão à rede “Aldeias de Portugal”. O principal objetivo desta rede é a promoção do desenvolvimento local. Que recursos existem e quais são as potencialidades de Algoso?

Cristina Miguel: A localidade de Algoso foi escolhida para integrar a marca “Aldeias de Portugal” porque apresenta um património material e imaterial distintivo, onde se destacam o castelo do século XII e o pelourinho do século XVI – dois imóveis de interesse público -, assim como igreja matriz, a fonte santa, as capelas de São João Batista, São Roque, Misericórdia, a antiga Câmara Municipal, as pontes românicas sobre os rios Maçãs e Angueira, entre outros edificados que fazem parte do património local.

T.M:N.: O castelo de Algoso é a principal atração turística da localidade. As visitas decorrem em que horário?

C.M.: As visitas ao centro de acolhimento do castelo e à torre do castelo decorrem de terça-feira (à tarde) a Domingo. As visitas podem ser acompanhadas por uma vigilante, que é contratada anualmente, ora pelo município de Vimioso, ora pela Freguesia de Algoso e pelo Instituto Público do Património Cultural.

T.M.N.: A rede “Aldeias de Portugal” visa apoiar as localidades na definição de estratégias de aproveitamento turístico do património cultural e natural. Concretamente em que consiste esse apoio?

C.M.: Juntamente com a Corane, a Associação do Turismo de Aldeia (ATA) e o Município de Vimioso, a freguesia de Algoso elaborou um plano de desenvolvimento e valorização da aldeia. Este plano envolve a conservação do património cultural edificado e no âmbito do património imaterial, o plano contempla a preservação das festas populares, a valorização do património religioso, os jogos tradicionais e tradições como o Ramo de São João e a segada tradicional.

T.M.N.: Portanto, é definido um plano anual de atividades?

C.M.: Sim, é um plano de atividades anual que começou em janeiro com a celebração da festa do padroeiro de Algoso, São Sebastião. Seguiu-se depois a Festa do Ramo de São João, uma antiga tradição que envolve a população da aldeia na confecção dos roscos, na ornamentação do andor do ramo, na arrematação e na corrida da rosca. No final de março, o Sábado de Aleluia e o Mercado Medieval vai animar a celebração da Páscoa. Em junho, vamos recriar a antiga ceifa ou segada comunitária, na festa de São João. Seguem-se as romarias de verão, o magusto de São Martinho e as oficinas de Natal.

T.M:N.: No que concerne ao património imaterial, Algoso integrou recentemente o projeto “Aldeias sem Fronteiras”. Que outro projeto é este?

C.M.: Este projeto visa quebrar o isolamento dos idosos, recolher os seus saberes e ao mesmo tempo promover o convívio com as crianças e jovens. Este projeto intergeracional visa aproveitar o conhecimento que as pessoas idosas têm de Algoso, como são as histórias, memórias, receitas, tradições, cantigas, danças, jogos tradicionais, lendas, toponímia dos lugares da aldeia, trabalhos comunitários, etc. e transmiti-los aos mais jovens.

T.M:N.: Na natureza, Algoso é circundada pelos vales dos rios Angueira e Maçãs. De que modo estão a promover o turismo ambiental?

C.M.: Em Algoso, uma das atrações ambientais é o percurso pedestre do Trilho do Castelo. Com uma distância de 6,2 quilómetros, esta caminhada tem início no centro da aldeia, passa pela antiga Câmara Municipal e o pelourinho e sobe em direção ao castelo. Depois desce em direção à ponte e a calçada medieval sobre o rio Angueira. De seguida, os caminhantes voltam a subir em direção à aldeia, passando por vinhas e olivais. À chegada a Algoso, está edificada a capela de São João Batista, com a fonte santa, onde os peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela costumavam repousar. O percurso pedestre termina junto à igreja matriz.

T.M:N.: Segundo a ATA, o desenvolvimento de uma aldeia deve envolver os atores locais na conceção de estratégias socioeconómicas e na sua implementação. Qual é a recetividade e participação da população de Algoso na preservação e promoção do seu património?

C.M.: Felizmente, a população de Algoso é muito participativa e adere com facilidade aos desafios e atividades propostas. Em determinados períodos do ano, como a Páscoa e as férias de verão, a junta de freguesia conta com a vinda dos muitos emigrantes que vivem e trabalham maioritariamente em Espanha e em França, para recriar antigas tradições como é o caso do Sábado de Aleluia, na Páscoa ou a romaria de Nossa Senhora do Castelo, no mês de agosto.

T.M:N.: O que é o “Sábado de Aleluia”?

C.M.: Em Algoso, a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, inicia-se na noite do Sábado Santo, com a tradição da benção da água e aspersão do povo, na igreja matriz. De seguida, o povo ruma em procissão até à capela de Nossa Senhora da Assunção, edificada junto ao castelo. Esta procissão é acompanhada de estandartes e com cânticos de louvor ou das “alvíssaras”. Na chegada ao castelo é lançado fogo de artifício e canta-se o “Aleluia” ao som da gaita-de-foles. No regresso à aldeia, o povo entoa cânticos de aleluia e começam a repicar os sinos da igreja matriz, anunciando a Ressurreição de Jesus.

T.M:N.: Este ano, no fim-de-semana da Páscoa, que acontece nos dias 30 e 31 de março, vai realizar-se também o V Mercado Medieval. Com este evento pretendem valorizar o património histórico da aldeia?

C.M.: Sim, o Mercado Medieval é uma recriação dos usos e costumes da Idade Média, período da construção do castelo de Algoso. Com este evento pretende-se promover a história da localidade e simultaneamente comercializar produtos locais e regionais, como o folar, os dormidos, o fumeiro, o vinho, os licores, o artesanato, entre outros produtos. Nos dias 30 e 31 de março, a animação também vai ser uma constante com teatro de rua, dança, jogos tradicionais, arruadas de gaiteiros, tabernas e concertos medievais.

T.M:N.: Outra riqueza das aldeias são os produtos agrícolas. O que é se produz em Algoso?

C.M.: Em Algoso, produz-se azeite, amêndoas, figos, nozes, uvas, medronhos, fumeiro, caça, roscos, pão, folares, dormidos, bolo centeio, licores, compotas, vinho, cortiça e na gastronomia local destaca-se o “bulho com cascas”.

T.M:N.: Algoso dispõe de uma albergaria que oferece os serviços de restauração e alojamento, o que contribui para a estadia dos turistas. Quem são os turistas que visitam a localidade?

C.M.: No inverno, Algoso recebe a visita de muitos caçadores que vêm do litoral para as zonas de caça desta região. Nestas estadias, os caçadores e as suas famílias visitam os principais locais de interesse da aldeia e também aproveitam para comprar produtos locais como o azeite, a amêndoa e o fumeiro. Ao longo do ano, também se verifica um cada vez maior afluência de turistas estrangeiros, que apreciam muito as paisagens do nordeste transmontano e a tranquilidade desta região.

T.M:N.: Outro objetivo do projeto “Aldeias de Portugal” é dar a conhecer as mais valias de viver no mundo rural, como é o maior contato com a natureza, a alimentação feita com produtos biológicos, o ar puro, o menor custo de vida e assim agir contra o despovoamento. Que oportunidades há em Algoso, para a fixação de novas famílias e em particular dos jovens?

C.M.: Em Algoso, há jovens casais que estão a instalar-se na aldeia. Dou os exemplo de um casal que está a investir no cultivo de árvores de fruto, para depois confeccionar e comercializar compotas. Também na agropecuária, recentemente, regressou à aldeia outro casal de jovens para se dedicarem à criação de bovinos de raça mirandesa. Existe ainda uma cozinha regional que se dedica à criação de suínos bísaros e à produção de fumeiro. E no turismo, destaco a existência da albergaria, com serviços de alojamento e restaurante, o que atrai a vinda e a estadia dos turistas e visitantes.

T.M:N.: A adesão à rede “Aldeias de Portugal” que novo impulso pode dar a Algoso?

C.M.: A marca “Aldeias de Portugal” é uma distinção que enche de orgulho e responsabilidade a população de Algoso. Ao mesmo tempo, este prémio incentiva-nos a continuar a trabalhar na promoção das localidades que compõem a União de Freguesias. Para isso, quero agradecer o contributo de muitos casais de emigrantes, que após a reforma, regressam à terra natal e estão sempre disponíveis e entusiasmados para recuperar as tradições e participar nas atividades ao longo do ano.

Perfil

Cristina Maria de Oliveira Miguel nasceu em França, filha de pais emigrantes, naturais de Algoso. Regressou a Portugal, onde estudou do 2º ao 6º ano, em regime presencial e em tele-escola, na escola de Algoso. Prosseguiu os estudos no Liceu Nacional de Bragança.

Licenciou-se em Administração, no Instituto Superior de Administração e Gestão do Porto. E concluiu uma pós-graduação em Gestão Pública, no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Em outubro de 2017, assumiu o cargo de presidente da União de Freguesias de Algoso, Campo de Víboras e Uva, que compreende ainda as aldeias de Mora, Vale de Algoso e Vila Chã.

HA

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