O proprietário do restaurante recebeu uma chamada, enquanto estava a servir os almoços, cerca das 12h30, de “um homem, que se fez passar por um inspector da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE)”. “Disse- -me que iam entrar aqui dez inspectores para fazer uma fiscalização e iam por os clientes na rua e que iam fechar o restaurante”, contou. Entretanto, falaram-lhe de uma licença que estaria em falta e Joaquim Conde chegou a pedir para ir verificar qual era, porque “desconfiava que a tinha”, que “estava tudo absolutamente regularizado”. Contudo, o falso inspector disse-lhe que não, que iam entrar no espaço de imediato. Joaquim Conde acabou por ceder, pagando a quantia que lhe estavam a pedir, como sendo um acto de regularização, por “receio” que ali fossem e que pusessem os clientes na “rua”. “No calor do momento, com os nervos e a casa cheia, fiz o que me pediram. Eu achei estranho aquilo tudo até porque a pessoa me chamou pelo meu e a empresa pelo seu nome fiscal, coisa que não é fácil saber”, rematou. Após fazer o pagamento percebeu logo que “era uma burla”. Entrou em contacto com a GNR, que lhe disse que era uma “referência de burla”. “Foram incansáveis. Disseram que iam fazer o que pudessem e que iam apanhá-los. Estão a fazer tudo por tudo. Não acredito que seja possível recuperar o dinheiro. Só quero que os apanhem para que sejam castigados”, explicou, dizendo que a voz da pessoa que lhe telefonou lhe é minimamente conhecida e que estará “atento” nos próximos dias, pois acredita que aquele homem conhece o espaço, uma vez que até alegou, durante a chamada, que a casa estava cheia, o que era, de facto, verdade. Joaquim Conde também trabalhava na área da restauração em Lisboa. Contou que nunca lhe aconteceu nada semelhante. Por cá, apesar desta burla, mal acaba de abrir portas ao restaurante Galaxie, as pessoas “têm sido prestáveis e simpáticas”. “Há várias pessoas que me têm perguntado se está tudo bem e se precisamos de ajuda”, referiu, dizendo que esta burla não o desmotiva a continuar. “É preciso arregaçar as mangas e continuar a trabalhar para recuperar o que se perdeu”, terminou.
Entidades com mais associados sem nada a reportar
Conforme esclareceu o presidente da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Macedo de Cavaleiros, Paulo Moreira, não há conhecimento de situações semelhantes que tenham acontecido com outros comerciantes, sejam eles de que ramo. Diz até mesmo que “foi um acto isolado”. Ou seja, não tem acontecido, nem agora, nem nos últimos anos nada de semelhante. Mas, Tiago Moreira vinca que isto deve ficar como um alerta. “É bom que, sobretudo nos próximos dias, os comerciantes de todo o distrito estejam atentos”, assumiu. Em Bragança o cenário é o mesmo. Segundo a presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Bragança, Maria João Rodrigues, pelo menos, nos últimos anos, não foi reportada qualquer queixa deste género. Esta entidade conta com perto de 500 associados mas, de facto, conforme a presidente, não houve nenhuma denúncia que à entidade tenha chegado, dando conta de pessoas que se fizeram passar por entidades públicas e/ou privadas de inspecção. O mesmo cenário se verifica em Mirandela. Cristina Passas, técnica da Associação Comercial e Industrial de Mirandela, confirmou a este jornal que não registou queixa alguma.
Caso semelhante em Miranda do Douro
Ao que conseguimos apurar, um restaurante em Miranda do Douro também foi burlado de uma forma semelhante, em Novembro do ano passado. O proprietário foi abordado telefonicamente por alguém que se fez passar por uma autoridade, tendo-o levado a fazer um pagamento, acabando por ser burlado. Neste caso, o valor em questão foi inferior, não chegou aos mil euros. Para já não se sabe se há relação entre os dois casos, o de Macedo de Cavaleiros e o de Miranda do Douro.
GNR aconselha
Segundo o Comando Territorial da GNR de Bragança, “não há indícios” de que o número de burlas “aumentou”. No entanto, o Tenente-Coronel Eduardo Lima explicou que as tecnologias podem facilitar a que burlas deste género aconteçam. “Há situações deste tipo que ocorrem com alguma regularidade, quer por oportunismo, quer por facilidade dos fenómenos digitais que as pessoas vão tendo ao seu alcance e importa termos uma noção perfeita de qual é a dimensão do fenómeno e quais são os modus operandi para podermos tentar prevenir e reprimir esses elícitos”, disse. Por isso, o Oficial de Comunicação e Relações Públicas do Comando Territorial de Bragança pede que as pessoas desconfiem quando forem abordadas telefonicamente por pessoas que dizem fazer parte de uma entidade oficial. “As entidades oficiais do Estado não fazem contactos telefónicos a ameaçar que vão autuar ou a pedir pagamentos de coimas”, referiu, acrescentando que as pessoas podem pedir à GNR que se certifique se realmente existe alguma entidade que está a fazer esse contacto. Quanto ao método de pagamento, Eduardo Lima também explicou que não é o correcto. “Nunca efectuar pagamentos pedidos pelo telefone. As entidades oficiais do Estado emitem documentos fidedignos para que sejam feitos pagamentos nos casos em que há coimas e, na maior parte dos casos, as pessoas são sempre chamadas aos processos para se defenderem, antes da aplicação das coimas”, explicou. Assim, a GNR pede que as vítimas de burlas apresentem queixa, para que possa “o mais rapidamente possível atacar este fenómeno criminal, identificar os seus autores e, se possível, recuperar os bens que foram pedidos pelas pessoas”.
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