Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Recordações de uma vida me perpassam pela mente, algumas trágicas, outras menos, também umas quantas trágico-cómicas em graus tolerados mas que residem no local que Deus preparou para que não esqueçamos nada que nos sirva como experiência para trilharmos os caminhos que nos surjam.
Corria o ano de 1978 e eu tinha deixado a Pastelaria Poças e fiz uma sociedade com o Senhor Marcelino e o seu cunhado que eram proprietários da antiga Pastelaria Ribeiro.
Ficámos no mesmo endereço, mas primeiramente houve que negociar com a proprietária que não se opôs a que fizéssemos as obras de modernização que acabaram por demorar uns meses, tendo nós combinado com o meu pai e meu irmão mais velho, para levar a cabo tal encargo. Ora aquilo foi obra quase para meio ano e mudamos a fábrica para o Campo Redondo onde o meu irmão tinha um tipo de armazém que era o ideal para podermos meter a maquinaria e o restante equipamento.
Tinha luz eléctrica e água da rede suficientemente para o nosso mester. Mudámos para o Campo Redondo e lá estivemos até Agosto desse ano tendo transitado do Campo Redondo para a Pastelaria Domus, que foi o nome que escolhemos para a nova Pastelaria que graças a Deus ainda funciona e que eu deixei em Oitenta e Um.
Eu mais dos dias ia a pé para o trabalho sendo que na Primavera era um prazer apanhar aquele sol maravilhoso que algumas vezes me enchia a Alma.
Foi esse tempo radioso que hoje ao ver de novo o Céu claro que combinava com a frescura da estrada que me fez recordar um episódio caricato do meu tempo de homem novo e todo o fascínio que eu colhia com a vida que então achava que com trabalho tudo o que ambicionamos de consegue. Não é bem assim, constatei, mas é de facto com trabalho e alguma sorte que a vida se faz mais tolerável.
Do ponto de vista físico era um desafio constante dada a precariedade dos tempos e um ponto de interrogação sobre que futuro seria o do país, estando o Dr. Mário Soares como Primeiro-ministro o Dr. Hernâni Lopes de Ministro das Finanças.
Havia falta de tudo o que era matéria prima para o fabrico da Pastelaria e era bastante difícil progredir pois os juros eram altíssimos (31%) e era necessário ter muitos conhecimentos para levar aquilo para a frente.
Mas eu era homem novo e crente de que tudo se arranjaria da melhor maneira. Ingenuidade, mas também uma fé inabalável de vencer.
Ora, quando ainda estávamos no Campo Redondo uma grande amiga resolveu casar-se. Ela não me encontrou facilmente pois foi ao Poças procurar-me e não lhe souberam dizer onde era o local da Fábrica até que ela foi à minha irmã Milú e assim me encontrou. Era uma encomenda jeitosa e deveria ser entregue sábado ao fim da tarde, no Liceu Novo até às 19:00. Caprichei particularmente no Bolo de Noiva, fiz uma base retangular com medida conciliável, com dois andares que decorei com bordado de açúcar em pó e clara de ovo e com "pasticella " fiz uma igreja com torre sineira que era muito agradável à vista.
Sábado as 18:00 chegou à fábrica o Sr. Marcelino com uma Citroen 2CV que tinha dois lugares apenas já que era usada no transporte de mercadorias. Carregámos a carrinha cuidadosamente e deixámos um espaço do lado esquerdo para podermos levar a Luísa que era a minha ajudante mais dedicada. Matávamos assim dois coelhos de um só tiro.
Chegámos assim à porta lateral do Liceu que é a que está de frente para o Centro de Saúde. O Senhor Marcelino não teve a devida atenção, fez a curva muito fechada e a Luísa foi projetada para o seu lado direito indo cair em cima do Bolo de Noiva que saltou por cima das outras encomendas de biscoitos, entremeios, tortas e toda uma parafernália de doçaria para um casamento de 100/120 pessoas.
A mim aquilo deixou-me estupefacto. Perguntou-me o Senhor Marcelino: - E agora? Respondi: -Tenho de voltar para trás e fazer outro. O Senhor leva-nos á fábrica, a Luísa lava-se e volta consigo, leva-a a casa por favor e eu fico a fazer outro Bolo de Noiva. Peguei no pão de ló que afortunadamente tinha feito com fartura fiz os cremes cobri-o e a igreja não terá ficado tão escorreita como a outra mas não dissemos à noiva o que havia acontecido, para não ocasionarmos possíveis atavismos ou especulações e depois da entrega fui dormir e já não fui ao casamento para o qual estava convidado…
Corria o ano de 1978 e eu tinha deixado a Pastelaria Poças e fiz uma sociedade com o Senhor Marcelino e o seu cunhado que eram proprietários da antiga Pastelaria Ribeiro.
Ficámos no mesmo endereço, mas primeiramente houve que negociar com a proprietária que não se opôs a que fizéssemos as obras de modernização que acabaram por demorar uns meses, tendo nós combinado com o meu pai e meu irmão mais velho, para levar a cabo tal encargo. Ora aquilo foi obra quase para meio ano e mudamos a fábrica para o Campo Redondo onde o meu irmão tinha um tipo de armazém que era o ideal para podermos meter a maquinaria e o restante equipamento.
Tinha luz eléctrica e água da rede suficientemente para o nosso mester. Mudámos para o Campo Redondo e lá estivemos até Agosto desse ano tendo transitado do Campo Redondo para a Pastelaria Domus, que foi o nome que escolhemos para a nova Pastelaria que graças a Deus ainda funciona e que eu deixei em Oitenta e Um.
Eu mais dos dias ia a pé para o trabalho sendo que na Primavera era um prazer apanhar aquele sol maravilhoso que algumas vezes me enchia a Alma.
Foi esse tempo radioso que hoje ao ver de novo o Céu claro que combinava com a frescura da estrada que me fez recordar um episódio caricato do meu tempo de homem novo e todo o fascínio que eu colhia com a vida que então achava que com trabalho tudo o que ambicionamos de consegue. Não é bem assim, constatei, mas é de facto com trabalho e alguma sorte que a vida se faz mais tolerável.
Do ponto de vista físico era um desafio constante dada a precariedade dos tempos e um ponto de interrogação sobre que futuro seria o do país, estando o Dr. Mário Soares como Primeiro-ministro o Dr. Hernâni Lopes de Ministro das Finanças.
Havia falta de tudo o que era matéria prima para o fabrico da Pastelaria e era bastante difícil progredir pois os juros eram altíssimos (31%) e era necessário ter muitos conhecimentos para levar aquilo para a frente.
Mas eu era homem novo e crente de que tudo se arranjaria da melhor maneira. Ingenuidade, mas também uma fé inabalável de vencer.
Ora, quando ainda estávamos no Campo Redondo uma grande amiga resolveu casar-se. Ela não me encontrou facilmente pois foi ao Poças procurar-me e não lhe souberam dizer onde era o local da Fábrica até que ela foi à minha irmã Milú e assim me encontrou. Era uma encomenda jeitosa e deveria ser entregue sábado ao fim da tarde, no Liceu Novo até às 19:00. Caprichei particularmente no Bolo de Noiva, fiz uma base retangular com medida conciliável, com dois andares que decorei com bordado de açúcar em pó e clara de ovo e com "pasticella " fiz uma igreja com torre sineira que era muito agradável à vista.
Sábado as 18:00 chegou à fábrica o Sr. Marcelino com uma Citroen 2CV que tinha dois lugares apenas já que era usada no transporte de mercadorias. Carregámos a carrinha cuidadosamente e deixámos um espaço do lado esquerdo para podermos levar a Luísa que era a minha ajudante mais dedicada. Matávamos assim dois coelhos de um só tiro.
Chegámos assim à porta lateral do Liceu que é a que está de frente para o Centro de Saúde. O Senhor Marcelino não teve a devida atenção, fez a curva muito fechada e a Luísa foi projetada para o seu lado direito indo cair em cima do Bolo de Noiva que saltou por cima das outras encomendas de biscoitos, entremeios, tortas e toda uma parafernália de doçaria para um casamento de 100/120 pessoas.
A mim aquilo deixou-me estupefacto. Perguntou-me o Senhor Marcelino: - E agora? Respondi: -Tenho de voltar para trás e fazer outro. O Senhor leva-nos á fábrica, a Luísa lava-se e volta consigo, leva-a a casa por favor e eu fico a fazer outro Bolo de Noiva. Peguei no pão de ló que afortunadamente tinha feito com fartura fiz os cremes cobri-o e a igreja não terá ficado tão escorreita como a outra mas não dissemos à noiva o que havia acontecido, para não ocasionarmos possíveis atavismos ou especulações e depois da entrega fui dormir e já não fui ao casamento para o qual estava convidado…
Em memória do Senhor Marcelino, que Deus tenha na sua presença.
Bragança, 27 de Fevereiro de 2024
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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