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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Manhã bonita de sol que nos aproxima da Primavera

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Recordações de uma vida me perpassam pela mente, algumas trágicas, outras menos, também umas quantas trágico-cómicas em graus tolerados mas que residem no local que Deus preparou para que não esqueçamos nada que nos sirva como experiência para trilharmos os caminhos que nos surjam.
Corria o ano de 1978 e eu tinha deixado a Pastelaria Poças e fiz uma sociedade com o Senhor Marcelino e o seu cunhado que eram proprietários da antiga Pastelaria Ribeiro.
Ficámos no mesmo endereço, mas primeiramente houve que negociar com a proprietária que não se opôs a que fizéssemos as obras de modernização que acabaram por demorar uns meses, tendo nós combinado com o meu pai e meu irmão mais velho, para levar a cabo tal encargo. Ora aquilo foi obra quase para meio ano e mudamos a fábrica para o Campo Redondo onde o meu irmão tinha um tipo de armazém que era o ideal para podermos meter a maquinaria e o restante equipamento.
Tinha luz eléctrica e água da rede suficientemente para o nosso mester. Mudámos para o Campo Redondo e lá estivemos até Agosto desse ano tendo transitado do Campo Redondo para a Pastelaria Domus, que foi o nome que escolhemos para a nova Pastelaria que graças a Deus ainda funciona e que eu deixei em Oitenta e Um.
Eu mais dos dias ia a pé para o trabalho sendo que na Primavera era um prazer apanhar aquele sol maravilhoso que algumas vezes me enchia a Alma.
Foi esse tempo radioso que hoje ao ver de novo o Céu claro que combinava com a frescura da estrada que me fez recordar um episódio caricato do meu tempo de homem novo e todo o fascínio que eu colhia com a vida que então achava que com trabalho tudo o que ambicionamos de consegue. Não é bem assim, constatei, mas é de facto com trabalho e alguma sorte que a vida se faz mais tolerável.
Do ponto de vista físico era um desafio constante dada a precariedade dos tempos e um ponto de interrogação sobre que futuro seria o do país, estando o Dr. Mário Soares como Primeiro-ministro o Dr. Hernâni Lopes de Ministro das Finanças.
Havia falta de tudo o que era matéria prima para o fabrico da Pastelaria e era bastante difícil progredir pois os juros eram altíssimos (31%) e era necessário ter muitos conhecimentos para levar aquilo para a frente.
Mas eu era homem novo e crente de que tudo se arranjaria da melhor maneira. Ingenuidade, mas também uma fé inabalável de vencer.
Ora, quando ainda estávamos no Campo Redondo uma grande amiga resolveu casar-se. Ela não me encontrou facilmente pois foi ao Poças procurar-me e não lhe souberam dizer onde era o local da Fábrica até que ela foi à minha irmã Milú e assim me encontrou. Era uma encomenda jeitosa e deveria ser entregue sábado ao fim da tarde, no Liceu Novo até às 19:00. Caprichei particularmente no Bolo de Noiva, fiz uma base retangular com medida conciliável, com    dois andares que decorei com bordado de açúcar em pó e clara de ovo e com "pasticella " fiz uma igreja com torre sineira que era muito agradável à vista.
Sábado as 18:00 chegou à fábrica o Sr. Marcelino com uma Citroen 2CV que tinha dois lugares apenas já que era usada no transporte de mercadorias. Carregámos a carrinha cuidadosamente e deixámos um espaço do lado esquerdo para podermos levar a Luísa que era a minha ajudante mais dedicada. Matávamos assim dois coelhos de um só tiro.
Chegámos assim à porta lateral do Liceu que é a que está de frente para o Centro de Saúde. O Senhor Marcelino não teve a devida atenção, fez a curva muito fechada e a Luísa foi projetada para o seu lado direito indo cair em cima do Bolo de Noiva  que saltou por cima das outras encomendas de biscoitos, entremeios, tortas e toda uma parafernália de doçaria para um casamento de 100/120 pessoas.
A mim aquilo deixou-me estupefacto. Perguntou-me o Senhor Marcelino: - E agora? Respondi: -Tenho de voltar para trás e fazer outro. O Senhor leva-nos á fábrica, a Luísa lava-se e volta consigo, leva-a a casa por favor e eu fico a fazer outro Bolo de Noiva. Peguei no pão de ló que afortunadamente tinha feito com fartura fiz os cremes cobri-o e a igreja não terá ficado tão escorreita como a outra mas não dissemos à noiva o que havia acontecido, para não ocasionarmos possíveis atavismos ou especulações e depois da entrega fui dormir e já não fui ao casamento para o qual estava convidado…

Em memória do Senhor Marcelino, que Deus tenha na sua presença.



Bragança, 27 de Fevereiro de 2024
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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