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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Turismo Rural - «Impõe-se uma alteração urgente das estratégias de promoção externa de Portugal»

O presidente da Federação Portuguesa de Turismo Rural considera que há um longo trabalho a desenvolver na promoção do turismo rural e que são urgentes estratégias nesse sentido. Cândido Mendes apela à união do sector privado e público para potenciar o turismo rural que, defende, é muito mais do que o alojamento, «apenas um pequeno fragmento consequência do produto compósito». O Turismo rural é gastronomia, cultura, paisagem, aspectos que devem ser agregados.
Café Portugal - A Federação Portuguesa de Turismo Rural (FPTR) foi criada há um ano no sentido de «fortalecer e potenciar o desenvolvimento sustentável da actividade de Turismo em Espaço Rural (TER)». Como pretendem atingir esse objectivo?
Cândido Mendes - O sector estava necessitado de um interlocutor com capacidade de representatividade à escala nacional. O país desenvolveu esforços ao nível do investimento nas estruturas, recuperação de património, financiamento de novos projectos, valorização de espaços e recursos de utilização pública, mas infelizmente ficou de fora o investimento na organização do produto turístico compósito e na promoção dos territórios. A multiplicidade de pequenas organizações, que são de resto de uma enorme utilidade para a organização local e regional, contudo dificultava a relação com a tutela, por ser difícil a sua articulação. Com a criação da FPTR, criaram-se as condições para de uma forma articulada se encetar uma melhor e mais organizada intervenção aos mais variados níveis. 
C.P. - Pode dar-nos alguns exemplos?
C.M. - Em poucos meses a FPTR empreendeu um conjunto de acções que criam valor a posicionam o Turismo Rural num patamar nunca antes conseguido. A FPTR apresentou ao Secretário de Estado do Turismo, ao Turismo de Portugal à Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, a todos os Grupos Parlamentares da Assembleia da República, à Comissão de Turismo da Assembleia da República, à Presidente da Assembleia da República e ao Presidente da República, um documento que contem a nossa visão e as propostas de valor para o desenvolvimento sustentável deste segmento da nossa oferta turística. Isto com principal enfoque na valorização dos territórios de baixa densidade populacional, e na organização do produto turístico, na promoção na gestão e nacomercialização. Hoje é ainda maior a nossa convicção de que o caminho é este. Porque é o único caminho capaz de contribuir para esbater as imensas assimetrias que o nosso país apresenta entre os territórios mais «litoralizados» e os do mundo rural.
C.P. - Há um ano, no momento de constituição da Federação, dizia que «urge também uma mudança de mentalidades». Em que medida? 
C.M. - A mudança de mentalidades é urgente desde logo ao nível de quem detém o poder de decisão. O país tem necessariamente que ser repensado como um todo. Não podemos manter um país a duas ou mais velocidades. O ano de 2013 foi fantástico em termos de resultados provenientes da procura turística mas é necessário tornar os resultados transversais. É necessário que estes resultados cheguem de forma mais equitativa a todo o lado. Portugal tem produto de excelência que é completamente desconhecido nos mercados emissores. Mas, quando falamos de mudança de mentalidades falamos também ao nível dos agentes económicos e ao nível do poder local, que têm aqui um papel fundamental. Temos tido uma grande propensão para olharmos apenas para o nosso próprio «umbigo», para o nosso pequeno espaço. 
Cândido Mendes
C.P. - No fundo está aqui a salientar a questão das parcerias.
C.M. - Hoje, as parcerias assumem uma importância muito grande, porque estamos a competir a uma escala enorme. Os municípios, através das Comunidades Intermunicipais, devem projectar de forma ordenada a oferta turística numa perspectiva mais alargada e inovadora, criando «produto» através de eventos geradores de capacidade de mobilização da procura. Temos uma tendência para olhar apenas para o alojamento quando falamos de turismo. O alojamento é apenas um pequeno fragmento consequência do produto compósito. Longe vão os tempos que as pessoas saíam de suas casas para «dormir fora». As motivações de hoje são diferentes. O chamamento são os eventos, é a paisagem protegida e cuidada, é a experiência do contacto e usufruição que a genuinidade do mundo rural pode proporcionar. O alojamento é uma consequência, uma necessidade que resulta dessa motivação, assim como a viagem, as refeições, etc. Dizemos, por isso, que o turismo é uma actividade agregadora e com efeitos multiplicadores. Nesta óptica, consideramos necessária e urgente uma mudança de mentalidades de forma vertical, não só de quem dirige, opera, mas também ao nível dos próprios agentes económicos, porque tem de ser criada uma mentalidade de partilha aos mais variados níveis.
C.P. - A Organização Mundial de Turismo (OMT) adianta que o turismo rural cresce, a nível mundial, a um ritmo de 6% ao ano. Esse crescimento reflecte-se em Portugal e no vosso nicho? 
C.M. - Neste momento essa tendência em Portugal não se sente ainda porque falta uma estratégia de promoção que dê a conhecer o mundo rural português. Repare que em qualquer evento internacional, feira, exposição, etc., o que aparece sobre Portugal é o segmento Sol e Mar. Existe um enorme sentimento de frustração e injustiça por parte dos agentes económicos que escolheram o mundo rural para os seus investimentos, quando sentem que o resultado dos seus impostos serve para promover tudo, menos o território onde estes têm os seus investimentos. Impõe-se uma alteração rápida, urgente, e imediata das estratégias de promoção externa de Portugal. Investir no mundo rural é uma aventura que apenas resulta da paixão de um conjunto muito significativo de empresários que agem por sentimento, por paixão e amor à natureza, aos usos e costumes, às tradições e ao genuíno. 
C.P. - Ou seja, vê um futuro promissor se houver aqui complementaridade entre os produtos.
C.M. - É preciso entender que para a própria sustentabilidade dos segmentos Sol e Mar, Golfe, Touring Cultural, são necessárias complementaridades para cuja sustentabilidade temos a genuinidade do mundo rural. Todos os países desenvolvidos perceberam isso. Portugal também tem de o entender, e vai entender. Todos desejamos o crescimento global do nosso turismo e temos todos consciência da importância dos ícones representados pelo Algarve, Lisboa, Porto e Madeira. Mas, para a sua própria sustentabilidade é preciso criar complementaridades para que os produtos não se esgotem e não se esvaziem. Deixemo-nos de visões curtas e pensemos à distância e no território numa perspectiva global. É perfeitamente compatível e desejável que o sol e mar do Algarve ajude e contribua para o desenvolvimento do barrocal algarvio, através de sua genuinidade, dos seus produtos autóctones que, numa massificação quanto aquela que caracteriza o litoral, não é possível dar ao turista. Temos que apostar mais nas características intrínsecas dos nossos territórios que são marcados pela história, pelas ocupações que deixaram marcas e tradições. Nessa perspectiva, Portugal não pode perder a tendência de crescimento do turismo no mundo rural, através de uma aposta mais profunda e mais consentânea com os valores e diversidade que o mundo rural Português tem para oferecer.
C.P. - Considera então que a aposta no turismo rural, englobando todas as suas potencialidades, é pouco valorizada?
C.M. - Está praticamente tudo para fazer no que toca à organização e promoção do turismo em ambiente rural. Quando refiro que é necessário organizar o produto, refiro-me à qualificação dos recursos, dos percursos pedestres, do cuidado da paisagem, da garantia de funcionamento dos circuitos, da garantia de funcionamento das rotas, dos museus, das adegas, de informação, da sinalética adequada, da garantia da genuinidade da nossa gastronomia, apostando e valorizando a dieta mediterrânica, através da atribuição de sistemas de certificação de qualidade, apostando numa formação aos empresários sobre padrões de qualidade, criando uma consciência nacional para as vertentes do turismo. O turismo está muito para além do alojamento. São necessários novos sistemas de animação turística que «prendam» o turista aos territórios, apostando no mercado das experiencias. Se não formos capazes de criar experiencias que o turista valorize, não seremos capazes de catapultar o turismo rural para a dimensão que precisamos. O mundo das experiencias deve ser o factor chave para o conseguir. As novas gerações precisam deste contacto com a natureza e com o mundo rural, para perceberem de onde vêm. Temos de lhe saber dar esse conhecimento com inteligência. A seguir a tudo isso, então aparecerá o alojamento como uma consequência, como uma necessidade complementar. 
C.P. - O turismo rural alia o alojamento, a gastronomia, a paisagem, os costumes locais. Pensa que é preciso trabalhar melhor a agregação destes vectores? Como se poderia fazer esse trabalho?
C.M. - A agregação não só é desejável como é no nosso entender a base da alteração que se pretende. É necessário envolver os vários actores nos territórios, desde as autarquias, as associações recreativas, os agentes económicos, os artesãos. Trata-se de um trabalho que tem de ser feito em cada um dos municípios. Consideramos importante e fundamental a acção das Comunidades Intermunicipais, no sentido de que possam articular a criação de eventos âncora, que tenham capacidade de gerar atractividade quer nacional quer internacional. Temos em Portugal vários exemplos bem-sucedidos nesse sentido. 
C.P. - Pretendem trabalhar em estreita parceria com o poder local e central no sentido de contribuir para a definição de políticas e estratégias. Que estratégia e políticas são necessárias implementar neste sector?
C.M. - A palavra-chave é efectivamente parcerias. Todos temos a ganhar com as parcerias. Para nós, é muito mais importante a organização e promoção dos territórios do que a promoção por exemplo dos alojamentos. Há muito tempo que o alojamento deixou de ser o produto âncora do turismo. A motivação para que as pessoas saiam dos seus locais de residência são outros. O alojamento é uma consequência da decisão que teve uma motivação. Nesse sentido, a grande aposta é na organização das mais-valias que cada região pode oferecer ao turista e promove-las de uma forma adequada e sistemática. 
C.P. - Propõe-se igualmente a aumentar a procura de turismo externo do turismo nacional em espaço rural. Como se pode promover o sector lá fora e atrair turistas estrangeiros?
C.M. - Em primeiro lugar temos de organizar todo o produto em torno das principais mais-valias que o mundo rural pode oferecer, tais como produtos de qualidade e genuínos; paisagem protegida e diversificada; percursos pedestres; diversas rotas; gastronomia diversificada e de qualidade; diversidade de vinhos de qualidade; história e cultura. Temos de trabalhar sobretudo o mercado das experiencias, criando experiencias únicas através da autenticidade, dos usos e costumes. Aliados à arte de bem receber tão característico dos portugueses e sobretudo do mundo rural. Retirar partido da especificidade intrínseca do facto de o turismo rural, nas suas mais variadas vertentes se constituir em ambientes de caracter familiar, imbuídos de um grande conteúdo emocional, e humano, situação que não é possível proporcionar através de outros segmentos mais massificados, onde o turista é mais um número.
C.P. - Em breve estará em pleno funcionamento um novo quadro comunitário, que ficará em vigor até 2020. De que forma vai o turismo em espaço rural beneficiar de apoios comunitários no âmbito novo quadro?
C.M. - Para a prossecução dos objectivos descritos, naturalmente que são necessárias verbas que pensamos encontrar eco no quadro que está a ser ultimado e com aplicação até 2020. Consideramos que os próximos anos devem ser de aproximação dos territórios e de um desenvolvimento mais harmonioso e de consolidação dos segmentos tradicionais do nosso turismo, através das complementaridades que lhe podem ser «emprestadas» pela autenticidade do mundo rural.
C.P. - No passado dia 15 de Maio, decorreu em Viana do Castelo um encontro regional de turismo rural, organizado pela FPTR. Quais as principais conclusões deste encontro?
C.M. - O Encontro Regional do Norte em Viana do Castelo, excedeu todas as expectativas que havíamos criado. Contou com a presença de cerca de 120 pessoas, entre autarquias Locais, associações de desenvolvimento local, empresários TER, agentes de viagens e operadores turísticos, associações do sector. As principais conclusões que se podem retirar são as seguintes: o sector está ávido por soluções que potenciem o aumento da procura turística em ambiente rural, sobretudo pelo lado da procura externa, e exige que a tutela altere a sua estratégia para que de um modo geral os territórios de baixa densidade populacional sejam vistos pelo poder central de uma forma mais cuidada, distribuindo de forma mais equitativa as verbas para a promoção externa, e sejam dados passos firmes no sentido de ser criada a submarca «Portugal rural». O sector propõe-se trabalhar de forma articulada com os municípios e demais agentes, para que se consiga uma melhor e mais adequada organização do produto turístico, e está disponível para iniciar um processo de partilha e entrega a novos paradigmas que confluam no sentido de dar mais e melhor visibilidade ao sector.
C.P. - O encontro regional de Viana do Castelo, juntamente com outro que decorrerá a 22 de Maio em Querença, Algarve, servem de preparação para o I Congresso de Turismo Rural, nos dias 20 e 21 de Junho, em Oleiros. O que se pode esperar deste congresso?
C.M. - É esperado deste congresso uma afirmação forte e a uma só voz deste segmento turístico. É nossa convicção que estão lançadas as sementes para que o turismo em ambiente rural seja encarado numa perspectiva enquadradora da oferta global de Portugal, e será objecto de inserção no Plano Estratégico Nacional do Turismo e no Plano Estratégico Nacional do Desenvolvimento Rural. Defendemos a criação de um grupo multidisciplinar que estude os constrangimentos e as estratégias de afirmação do sector no panorama internacional de uma forma articulada com o Turismo de Portugal, Ministério da Agricultura, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Entidades Regionais de Turismo e Associação Nacional de Municípios, sem prejuízo de outras entidades que sejam consideradas importantes e fundamentais.

Sara Pelicano
in:cafeportugal.pt

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