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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 30 de janeiro de 2021

O que procurar no Inverno: a campainha-amarela

 O frio do inverno já não é tão intenso e, apesar dos dias cinzentos e chuvosos, começam a surgir e a florescer livremente na natureza pequenas plantas que anunciam a proximidade da primavera.

Foto: Miguel Porto/Flora-On

A campainha-amarela (Narcissus bulbocodium), também conhecida como campainha-dos-montes ou cuco, é uma dessas pequenas plantas que começa agora a despertar e a florir, preenchendo de amarelo os nossos canteiros, campos e florestas.

A campainha-amarela

Foto: Miguel Porto/Flora-On

A campainha-amarela é uma das plantas mais belas que podemos ver durante o inverno. Pertence à família das Amaryllidaceae, que engloba outras espécies bem conhecidas, como o alho, o cebolinho, as beladonas ou os agapantos. 

As Amaryllidaceae são plantas monocotiledóneas perenes, herbáceas, bolbosas ou rizomatosas. A beleza destas espécies confere-lhes um grande valor ornamental e económico, além das muitas outras utilizações, como condimentares, hortícolas e medicinais.

Estas plantas caracterizam-se por possuir na semente apenas um cotilédone – os cotilédones são as folhas embrionárias que irrompem na germinação – e por se desenvolverem a partir de um caule subterrâneo. Se tiverem bolbo este tem forma arredondada ou globosa, enquanto que o rizoma é uma estrutura vegetal que cresce horizontalmente. 

Bolbos e rizomas funcionam como órgãos de reserva e permitem que a planta se mantenha “adormecida” durante a época do ano mais desfavorável, possibilitando a sua renovação assim que se verificarem as condições ambientais ideais. Quando surgem as primeiras chuvas estes deixam o estado de dormência e iniciam a sua atividade, ainda no outono, começando a surgir as primeiras folhas e flores no decorrer do inverno.

Foto: A.J.Pereira/Flora-On

A campainha-amarela é uma planta vivaz, bolbosa, herbácea, que pode atingir cerca de 40 cm de altura. O bolbo subterrâneo é de cor esbranquiçada ou ligeiramente acastanhado. 

As folhas surgem no final do outono ou durante o inverno, agrupadas em conjuntos de 2 a 4 folhas por bolbo. São quase erectas, lineares, verde-escuras, finas e compridas. 

Após a formação das folhas forma-se o caule florífero – o escapo – caule esverdeado, cilíndrico, que sustenta a flor, normalmente não ramificado e sem folhas, que surge diretamente do bolbo e mede um pouco menos que as folhas. 

As flores surgem solitárias na extremidade do escapo. São amarelas ou alaranjadas, grandes e vistosas. Com uma forma muito semelhante a uma corneta, ou a um cone invertido, surgem numa posição quase horizontal em relação ao solo.

É entre janeiro e abril que ocorre a floração, mas permanece poucos dias em flor. Quanto ao fruto, é uma cápsula esférica ou ligeiramente ovóide que contém inúmeras sementes pequenas, negras e brilhantes.

Espécie protegida

A campainha-amarela é uma planta nativa em Portugal, com uma distribuição alargada um pouco por todo o território continental. Surge junto a rochas, em prados, margens de linhas de água, charnecas, dunas, clareiras de bosques caducifólios, sobreirais, zimbrais ou pinhais. 

Pode também encontrar-se espontaneamente no sudoeste da Europa, nomeadamente no sul e oeste da França e Espanha e no norte de África, na Argélia e Marrocos.

Apresenta uma ecologia muito variável, preferindo locais com exposição solar intermédia, meia sombra e com temperatura média. Solos moderadamente secos a húmidos, calcários, arenosos ou argilosos, com pH ácido e pobres em azoto. Suporta solos temporariamente encharcados.

Foto: A.J.Pereira/Flora-On

Em Portugal Continental estão presentes duas subespécies de Narcissus bulbocodium. O Narcissus bulbocodium subsp. bulbocodium, espécie nativa que ocorre um pouco por todo o território preferindo solos arenosos ou argilosos, pode encontrar-se em prados húmidos, margens de linhas de água, clareiras de matos e pinhais, entre outros. A corola (conjunto das pétalas da flor) desta subespécie apresenta umas bandas verdes, evidentes ao longo de todo o tubo. 

Já o Narcissus bulbocodium subsp. obesus é uma espécie endémica da Península Ibérica. Em Portugal pode encontrar-se sobretudo no litoral centro e sul do país, em solos de origem calcária, em charnecas secas, arribas, zonas pedregosas, relvados e pastagens. A corola desta subespécie não apresenta bandas verdes, sendo a flor totalmente amarela.

Foto: Cristina Estima Ramalho/Flora-On

As duas subespécies encontram-se protegidas por legislação comunitária, nomeadamente pelo Anexo V da Diretiva Habitats – Directiva 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens. As espécies constantes neste anexo apresentam interesse comunitário, podendo a sua colheita na natureza e exploração ser objeto de medidas de gestão.

Histórias mitológicas

A designação científica desta espécie pode ter duas interpretações, sendo que uma surge associada à beleza desta flor e à mitologia grega. O nome do género Narcissus tem origem em Narciso, o filho do deus Cefiso, deus dos lagos.

Narciso era um jovem e belo rapaz, pelo qual todas as mulheres e homens se apaixonavam, e no entanto desprezava todas as propostas de amor. Por vingança, os deuses levaram-no a apaixonar-se pela sua própria imagem refletida na água de um lago. Completamente apaixonado pela imagem refletida e incapaz de se separar dela, acabou por cair e morrer afogado. Junto ao lago surgiu uma flor extremamente bela, a que deram o nome de Narciso.

Outros autores sugerem que o nome Narcissus se deve ao cheiro intenso e inebriante de algumas flores deste género e deriva do grego narkáo – que significa narcótico, planta tóxica. A designação bulbocodium, por sua vez, significa “bolbo lanoso”.

Esta planta é muitas vezes utilizada como planta ornamental em arranjos de jardins públicos e privados. Pelo aroma agradável que exala, é muito utilizada para perfumar armários e pequenas divisões e também em perfumaria. As flores são comestíveis, tanto cruas como caramelizadas, e muito utilizadas na confecção de doces. Alguns autores referem que apresenta algumas propriedades sedativas e hipnóticas.

São inúmeras as espécies do género Narcissus que florescem em Portugal, cerca de 20 espécies, nativas e endémicas, algumas das quais raras e em estado selvagem. A perda e destruição de habitat, a plantação de outras espécies e a colheita indiscriminada de bolbos na natureza têm sido dos maiores problemas para a sua conservação e das principais razões para o elevado risco de extinção de algumas espécies endémicas de Portugal. 

Deixo-vos esta sugestão: se viverem próximos de locais como os que aqui referi, no vosso próximo passeio, procurem estas pequenas e belas plantas. Não as colham. Aproveitem a natureza para relaxar e apreciar a cor que existe mesmo nos dias cinzentos de inverno.

Carine Azevedo

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