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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 31 de janeiro de 2021

A nova idade das trevas

 No esplendor da nossa modernidade, entrámos num túnel. Seguíamos o brilho das luzes da ribalta na espuma dos dias, mas num repente tudo se afunilou e escureceu.

Metidos em nós batíamos em todos, na procura do para nós, cada para si era detentor de muito saber, mesmo quase sem saber ler e muito menos saber escrever escorreitamente e muito menos bem, pois campeava o estreler.

O rápido e imediato, impunha-se ao ponderado e ao estudado, fazendo de cada qual um especialista em muita coisa. Íamos no tempo sem tempo e sem tempo para nada. A opinião instantânea e sem suporte na razão fazia fé sujeitando todo o contrário a contrafé.

Por dá cá aquela palha, para passar de mão em mão, surgia num ápice a indignação de fraca ignição pois logo se apagava à mais leve brisa de nova moda. Dava-se uma virtual sova e depois ao de leve, virava-se a atenção para qualquer outra emoção.

As entranhas ficavam ao rubro, com coisas estranhas, mas suscetíveis de logo serem remediadas com um mínimo de bom senso. Guerreiros de sofá escudados e escondidos no mundo infeto dos circuitos eletrónicos, pequenos deuses supostos que éramos, levianamente com meras teclas, julgávamos decidir a sorte da guerra.

Enquanto isso o mundo estremecia. Ou antes, estremece, pois neste ponto deste meu rendilhar de letras, onde coloca os seus olhos em instantes de leitura, vai sendo tempo de dizer que o aludido como ter sido, ainda é, pois ainda decorre a viagem túnel adentro.

Nas paredes reluzem os marcadores, mas sem que se note, estreita-se e envolve-se de breu. Olhando através da janela pode ver-se que a boçalidade fazendo par com o medo vai erguendo uma paisagem pintalgada pela ignorância fazendo periclitar e quase desaparecer a decência.

Esconjuram-se inimigos invisíveis apelidados de terríveis, fazendo-se mirrar a tolerância. Ululantes, as turbas com a barbárie na ponta da língua e a maldade à flor da pele, começam a ascender as fogueiras onde empilharão livros.

A sociedade com maior conhecimento académico, com maior formação específica em cada matéria, revela-se afinal ignorante em todos os saberes menos daqueles que decorou para deles fazer instrumento de ambição nem sempre com o necessário espírito de missão.

Quase trezentos anos depois do século das luzes, esboroa-se a razão com a preguiça no pensar. Cortam-se todas as raízes ao pensamento. Acendem-se as candeias e os archotes. A jornada parece um regresso ao mundo das trevas.

Manuel Igreja

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