Em Alimonde, no concelho de Bragança, há pouco mais de 50 habitantes. A falta de gente é notória, mas é mais evidente ainda que há muitos costumes que estão a acabar.
Na aldeia já só Maria da Luz Pires, de 62 anos, cria porcos. Apesar de o emprego que tem na cidade lhe roubar a maior parte do tempo útil do dia, ainda que com muito esforço, considera que “havendo vontade, dá para fazer tudo”, inclusive tratar dos animais, que dão muita despesa e trabalho.
“Levanto-me às cinco da manhã e dou-lhes de comer e venho às quatro da tarde e dou-lhes outra vez. Dá muito trabalho. É preciso dar-lhes comida, lavar-lhes a loja e fazer-lhes uma cama limpinha todos os dias”, contou Maria da Luz.
Em casa desta criadora a matança, este ano, já foi feita. No fim-de-semana passado, em tempos de pandemia, juntou apenas quatro ou cinco homens da família para lhe matarem os dois porcos, que criou, desde Junho, altura em que os comprou, ainda pequenos. Comprar os porcos já criados não é uma opção, até porque, em termos de qualidade, não há comparação.
“Dão trabalho, fica mais caro, mas é melhor a carne. Estes porcos devem ter 150 Kg, mas já os tive de 200 e 300kg”.
Maria Fernanda Pires, da mesma aldeia, também já criou porcos, mas desistiu de o fazer. O trabalho na cidade “rouba demasiado tempo”.
Perante o cenário, onde o tempo para fazer tudo escasseia, percebeu que a melhor solução seria começar a comprar carne, única e exclusivamente, para continuar a manter viva a tradição de fazer o fumeiro.
“Eu dar de comer até dava, mas para tratar da comida não tinha tempo. Quando deixei de ter porcos comecei logo a compra a carne, descobri-a num talho. É um bocado mais cara, vou buscá-la perto da Espanha e é de boa qualidade. Compro uns 30 Kg e dá para umas 90 chouriças”, disse Maria Fernanda.
A tradição de criar porcos está a perder-se, mas há também cada vez menos gente a comprar os animais já prontos para abate e até mesmo a carne para fazer o fumeiro. A continuidade de um dos costumes mais identitários da região parece ter os dias contados.
Bruno Fernandes é talhante, há mais de 20 anos, em Bragança e segundo conta “há cada vez menos procura”.
“A maior parte do pessoal novo não sabe e os idosos foram falecendo e já pouca gente mantém a tradição. Não estão para esse trabalho, compram já o fumeiro feito. E há 15 ou 20 anos vendia-se três vezes mais. Por acaso este ano as pessoas estão a optar por comprarem metades e porcos inteiros”, referiu o talhante.
Félix Garcia, tem um talho em Trabazos, na Espanha, onde boa parte dos clientes são da região de Bragança. O talhante também admite que “há cada vez menos gente a comprar”. As poucas pessoas que ainda vão alimentando este mercado fazem-no porque “o fumeiro feito em casa não se compara com o que se compra”.
“Lembro-me de que há 20 anos vendia cento e tal porcos, este ano foram para aí 38”, contou.
Noutros tempos, eram poucas as famílias, nas aldeias, que não criassem porcos. Os animais eram um sustento, sobretudo por causa do fumeiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário