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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A árvore solitária

Era a única árvore no cimo do monte: grande, frondosa, magnífica, algo arrogante, enquanto acolhia de bom grado quantas aves a procuravam para nela fazerem os ninhos, criarem os filhos, entoarem alegres canções, acompanharem o balouçar dos ramos embalados pelo vento, enquanto davam a saber que ali havia vida e alegria. Debaixo dela, à sombra, descansavam coelhos, lebres, perdizes… e, de onde em onde, alguma estonteada e cambaleante raposa que, perseguida pelo sol abrasador, ali descansava e adormecia até retomar forças. Este acolhimento que a árvore concedia tinha, no entanto, uma contrapartida: em caso de alguma ameaça, todos haviam de estar prontos para a defender.
Muitos verões a foram cumprimentando e, ao mesmo tempo, ameaçando. E ela não deixava de agradecer, se bem que num misto de altivez e de desprezo, mesmo naquele verão que veio tão quente!
À volta da árvore, crescia um mato rasteiro e meia dúzia de arbustos que, com boa vontade, amizade, e tristeza que sentiam pelo seu isolamento, embora confiante em si, procuravam fazer-lhe ver o perigo em que vivia. Na verdade, sempre pensou que, num imprevisto incêndio, nunca as chamas a atingiriam, antes de consumirem a vegetação que a rodeava e a protegia. Quer dizer, antes que as ameaçadoras chamas começassem a importuná-la e a fizessem tremer de pânico, alguém as teria avistado, a tempo de avisar quem, decerto, havia de vir salvá-la. Por outro lado, bem sabiam, tanto eles como a árvore, que ficaria menos exposta ao perigo se, em vez do mato e dos arbustos, ela preferisse ter à sua volta uma boa extensão de terra lavrada.
Mas, como sempre acontece, entre todos os que a avistavam ou com ela lidavam, cresciam opiniões diversas que poderei agrupar em duas principais: havia uns que a admiravam, protegiam e respeitavam; e havia outros que simplesmente a invejavam. E invejavam-na porquê? Pela sua elegância, pelo recorte que formava – como que dependurada no horizonte – pela vida que acolhia, pela aparente felicidade que mostrava, pela temeridade que revelava, por verem nela a figura mandante sobre aquele monte.
Mas a árvore, desconhecendo quanto era invejada, e na crença de que seria, não só admirada pelo seu altruísmo, como digna de compaixão pelo isolamento em que se encontrava, ia gerindo de tal forma a situação que nunca pensou render-se a qualquer ofensiva.
E foi no gerir desta situação que tudo aconteceu!
Descansando na confiança que a acompanhava, inesperadamente foi surpreendida por umas pequenas labaredas que iam consumindo o mato que a rodeava. Tão traiçoeiras como humildes, as labaredas não foram vistas por alguém que viesse em seu socorro. E só foram alarmantes quando a árvore solitária se transformou num impressionante mar de fogo!
Antes desta catástrofe, quisera ela ter deixado aquele lugar. Sendo, contudo, impossível, ali teve de permanecer, acabando por sofrer a sua destruição, mesmo contando com as suas criadas, mas inverosímeis defesas.
Com grande pena e admiração, é verdade que estas coisas acontecem – mesmo a quem é dada a possibilidade de escolher o lugar para onde possa mudar-se, argumentando possuir as defesas necessárias, contudo inverosímeis, para ali poder permanecer.

Manuel António Gouveia

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