Este sábado, cerca de 150 pessoas rumaram à aldeia para prová-la e participar na jornada micológica que se realiza há sete anos.
“Além do segredo, é só preciso ter um pote de ferro, cogumelos, boa disposição e fome.”
A receita da Açorda de Boletos com Rabo de Boi, assim resumida pelo cozinheiro de serviço Rui Kotinha, é proeza da aldeia de Vale Pradinhos, que transforma o cogumelo, que por aquelas terras é abundante, numa iguaria que aguça o paladar a muitos.
E quem provou, gostou:
“Está muito boa, nunca tinha comido. Consigo sentir os cogumelos, o pão e a salsa. Está bem temperada, saborosa e macia.”
“Está maravilhosa e recomendo. A açorda de Vale Pradinhos é especial e eu venho de Lisboa de propósito para a comer.”
A já afamada açorda foi servida aos mais de 150 participantes das VII Jornada Micológica de Vale Pradinhos, que logo cedo foram para o campo procurar e reconhecer cogumelos, e à tarde participaram num workshop.
Por lá encontramos Ana Silva e Carlos Romão, dois caloiros nesta jornada, que por serem amantes de cogumelos, resolveram participar:
“A aldeia é linda, e só por ela já vale a pena a visita.
Adoro cogumelos e hoje já consegui aprender a diferenciá-los.
De manhã fomos para o campo, apanhar uma série de espécies de cogumelos, comestíveis e não comestíveis.”
“Decidi vir este ano porque os cogumelos atraem-me imenso e procurá-los é para mim um hobbie.
Sempre se aprende alguma coisa, estes encontros parecem-me interessantes e agora já me sinto mais confiante para procurar cogumelos.”
E há quem tenha aprendido bem a lição, como foi o caso de Patrícia Rocha:
Nos cogumelos conhecidos como “frades”, aprendi que os comestíveis não podem mudar de cor, o anel tem de ser móvel e tem de ter um bico na ponta, em forma de chapéu. São três características essenciais para a sua autenticidade. Os que não reunirem estes fatores, não se devem ingerir porque podem provocar sintomas gástricos e até levar à morte.
O encontro é organizado pela Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Vale Pradinhos que cada vez mais quer afirmar a aldeia como a Capital do Cogumelo.
O ano passado não se pôde realizar devido à pandemia, o que deu ainda mais força à edição de 2021:
“Veio mais gente ainda.
As pessoas estavam com fome de cogumelos e das nossas jornadas.
Veio gente de todos os pontos do país e até do estrangeiro houve inscrições.”
Já quanto à qualidade dos cogumelos, este parece estar a ser um bom ano.
Quem o diz é o biólogo Carlos Ventura:
“Foi um bom ano porque tivemos chuva em agosto e setembro, o que fez com que surgissem cogumelos em abundância e de espécies que nem eram frequentes, até finais do mês de outubro.
Entretanto, veio calor, vento e algumas geadas e, a partir daí, com a desidratação, desapareceram.
Neste momento, começou a chover e, provavelmente dentro de oito dias, deverão começar a ressurgir com força e pojantes. “
O que continua mal é a valorização que é dada aos cogumelos em Portugal, atesta o biólogo:
“Continuamos com a mesma situação de termos aquele complô de comercialização por parte dos espanhóis.
Sendo este um recurso perecível, é preferível apanhar-se para que se aproveite, em vez de apodrecer, mas com regras. Quem os apanha que o faça com regras, em lugares específicos, com zonas de apanha também especificadas, e, acima de tudo, que possam eventualmente pagar impostos, porque em Portugal há poucas empresas que vendem cogumelos e aqueles que se compram a Espanha por 20€, são comprados pelos espanhóis a 5/6€.
Há quatro ou cinco anos fizemos um encontro de técnicos e formadores nacionais de micologia em Aguiar da Beira e concluímos que há um sistema de inercia por parte das entidades estatais.”
Uma reivindicação antiga que, ao que parece, continua sem qualquer modificação.
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