Por: António Pires
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Não, a cusquice é um traço comportamental tuga, com carácter transversal, uma herança genética de Viriato, que remonta ao início da nacionalidade. É “património” da Estremadura, do Ribatejo, do Algarve, do Alentejo, das Beiras, do Minho, da Madeira, dos Açores, de Trás – os Montes…. Aliás, o que são as redes sociais, no pior que elas têm, senão palcos onde se cultiva o mexerico e a devassa da vida alheia?!
Se assim não fosse, ser-nos-ia legitimo perguntar se Inês Pereira, a personagem – tipo criada por Gil Vicente, na Farsa que lhe dá o nome, é uma alcoviteira inspirada no universo feminino bragançano. Como legítima seria, em tom irónico, a sua resposta: olha que é bem capaz de o ser!
Para demover o meu amigo da intenção de sair de Bragança (depois de largos anos por cá), por causa dos danos “reputacionais” causados à sua pessoa, e ainda que eu não seja diplomado em nenhuma área do comportamento humano, convidei-o a atentar no perfil psicológico e nos motivos dos seus autores:
O fofoqueiro/a, que motiva a verbalização da velha máxima do “é preciso ter lata!” e do “só fala quem tem que se lhe diga”, é alguém frustrado, doente, malparido, perigoso, infeliz, invejoso, que rejubila com o mal dos outros. O fofoqueiro/a maledicente, sendo a encarnação do Mal, tem como propósito arrastar para o lodaçal, onde ela/ele se encontra, todos quanto representam a antítese deles próprios, ou seja, gente recomendável nos valores e feliz com a vida.
O fofoqueiro/a, como, por culpa da sua personalidade doentia e da mente sem conteúdo, tem uma vida pouco empolgante, vive não a vida dele, mas a dos outros. E porque esta gente se alimenta do mal do próximo, o conselho a dar a quem já foi e é vítima destes “casos patológicos”, é que não devemos ligar ao “julgamento” dos desprezíveis e repugnantes, mas de quem gosta verdadeira e incondicionalmente de nós, e nos disponibiliza o ombro nos momentos que mais precisamos.
Ao longo da vida, directa ou indirectamente, convivi com o mexerico e com quem, com mestria, domina tal arte. Fruto dessas inevitáveis e “enriquecedoras” vivências, conheço algumas aves que, desde a eclosão do ovo, andaram sempre a saltar de ramo em ramo, mas que, pasme-se, perante a comunidade ornitóloga, de pluma levantada, quais passarecas de coro, apontam o bico, de forma covarde, através do abjecto expediente do boato e da calúnia, a quem é moralmente intocável.
Da mesma forma, conheço alguns passarões que, tendo sido “convidados” a desvincular-se das instituições laborais a que estavam ligados, porque o alheio vil metal se lhe colava às mãos, e com algumas surpresas desagradáveis no matrimónio, têm, imagine-se, como desporto favorito falar mal de toda a gente, como se o seu trajecto de vida fosse imaculado.
Em 2020, em resultado da pandemia, escrevi, num Semanário da região, um texto a contrariar a ideia, defendida pelos mais ingénuos, que vivem no encantado mundo dos Teletubbies, de que, depois da “tempestade” surgiria a bonança, um Homem Novo, um Homem de coração puro, imune ao pecado, mais tolerante e solidário. Dois anos depois, infelizmente, a minha “tese” impõem-se: os maus continuam maus, os bons permanecem bons.
Não sei se devido à minha formação católica, a verdade é que não consigo desejar mal a esta gente, porque eles/elas, ainda que não tenham consciência disso, estão em grande sofrimento.
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.
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