Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 4 de março de 2022

“À saída do correio”: a poesia como arma contra a censura


– Donde vem a carta,
senhora Maria?
– Vem da capital
é da Companhia.

(A Maria Pêdra
tem um ar de pedra
onde nem deixaram
crescer uma erva).

– E que diz a carta,
senhora Maria?
– Que no Douro o sol
nasce ao meio-dia.

(A Maria Pêdra
fala como quem
entra numa igreja
e não vê ninguém).

– É sobre o seu filho,
senhora Maria?
– Tivesse eu dinheiro
que nada haveria.

(A Maria Pêdra
tem no pensamento
um velho estandarte
flutuando ao vento).

– Mas que diz a carta,
senhora Maria?
– Pudesse eu falar
contra a Companhia!…

(A Maria Pêdra
é como o poeta
que mete os poemas
dentro da gaveta).

O poema “À saída do correio” foi originalmente publicado em Os homens cantam a Nordeste (1967). Francisco Fanhais musicou-o e inclui-o no álbum Canções da cidade nova (1970), considerado um disco de combate à ditadura de Salazar. Poema e canção vieram mais tarde a ser incluídos na Antologia dos poemas durienses (1999) e no álbum de Fanhais ‘Dedicatória’ (1998).


Durante este período não eram só as palavras dos escritores e/ou dos opositores ao regime que eram violadas e esquartejadas. Mesmo em situações mais quotidianas, como a correspondência de cada português, era notória a interferência da censura já que havia uma primeira leitura que não era a do seu destinatário.

Paula Morais in Portugal sob a égide da ditadura (2005)

António Cabral (1931-2007) foi um poeta, ficcionista, cronista, ensaísta, dramaturgo, etnógrafo e divulgador da cultura popular portuguesa. Nascido em Castedo do Douro, Portugal, em pleno coração duriense, a 30 de Abril de 1931, iniciou a actividade literária aos 19 anos com a publicação do livro de poesia Sonhos do meu anjo. Ao longo de 56 anos de carreira dedicada à escrita, publicou mais de 50 livros em nome próprio, abraçando géneros tão diversos como a poesia, o teatro, a ficção e o ensaio, e dedicando-se em paralelo ao estudo apurado e divulgação das tradições populares portuguesas.

Sem comentários:

Enviar um comentário