Carmina González reconhece que é um risco que “foi bem pensado, bem estudado”, e está determinada em mostrar que, apesar de estar em Trás-os-Montes, onde tudo ainda é muito tradicional, não está no fim do mundo.
“Temos capacidade para receber as pessoas de fora e temos de cativar essas pessoas para virem cá. Portugal não é só Lisboa, não é só o Porto, não é só Algarve, nós temos que chamar as pessoas para verem o que temos”, defende.
A lusodescendente, de 36 anos, mudou-se há três anos com a família para o concelho de onde a mãe é natural e deu início aos trabalhos da construção do empreendimento turístico, na vila de Carrazeda de Ansiães, que abriu no final de dezembro de 2021.
O projeto teve apoio financeiro do Turismo de Portugal, criou 14 postos de trabalho e assenta num conceito com restaurante, sala de eventos para 150 pessoas, SPA, piscinas para adultos e crianças, nove quartos no edifício principal e as chamadas “vilas”, uma espécie de “míni casinhas”.
Trata-se de alojamento de tipologia T2 e T1 com todos os serviços do hotel, pensado para famílias maiores ou grupos de amigos, como explicou a empresária que nasceu e viveu sempre em França.
O nome do empreendimento remete os símbolos do concelho de Carrazeda de Ansiães - a uva e a maça -, e da junção dos dois nomes em inglês resultou “Grappel”.
O que Carmina pretende é que Carrazeda de Ansiães deixe de ser um local apenas de passagem.
“Até agora, quando uma pessoa vinha de fora, amigos, famílias, grupos, não tinham onde ficar, Carrazeda era sempre de passagem. Eles vinham do Porto, passavam por Alijó, faziam aquela volta toda por miradouros, passavam por Carrazeda e iam embora”, sustentou.
O empreendimento está a estabelecer parcerias com outras empresas para criar ofertas conjuntas como “piqueniques no meio do monte, nas vinhas, nas macieiras”.
“Estamos a apostar muito na natureza porque eu acho que a pessoa que vem de fora, vem claramente para a nossa gastronomia, o nosso vinho, mas também para as paisagens. Eles querem vir ver onde é que ficam as vinhas, como é que se faz o vinho, o azeite, então estamos a apostar mesmo em tudo que é tradicional”, concretizou.
O projeto enfrentou dificuldades como derrapagens, acesso a materiais que só se encontram fora da região e a abertura tem mostrado também alguns constrangimentos dos meios pequenos, como não haver pão ao domingo até às 09:30, o que obriga a seja feito no hotel.
“É complicado, mas em todo o sítio é complicado, não me venham dizer que em Lisboa é mais fácil, quando se quer uma coisa temos que lutar por ela”, sublinhou.
A empresária está satisfeita com o resultado dos poucos meses da abertura e confessa que nunca pensou que os locais, pessoas da região, aderissem “tão bem”.
“Estamos a ter um bom retorno e está-me a dar esse sentimento de que fiz bem”, afirmou, acrescentando que pretende, atualmente, atrair turistas locais nacionais.
Carmina González gostaria que mais pessoas fizessem como ela e investissem na terra, que começa a despertar o interesse de outros como Paulo Russo, que vive há 30 anos na zona do Porto e há dois anos que faz 150 quilómetros à sexta-feira e outros tantos ao domingo para se dedicar a um restaurante à beira do rio Tua.
Tem uma oficina de carros antigos onde trabalha durante a semana e decidiu, com o compadre, que está também na zona do Porto, pegar no restaurante dos tios que já não têm idade, nem saúde para o negócio.
“Nós não nos podemos queixar porque o Tua tem sido privilegiado nos últimos tempos com infraestruturas para trazer mais gente aqui”, contou, acrescentando que, “contra o que seria o expectável, a pandemia foi muito boa porque as pessoas dos grandes centros” foram à descoberta da região.
Paulo diz que só não se muda para Carrazeda de Ansiães por causa das filhas, que estão habituadas ao Porto, e porque o negócio dos carros antigos não é viável nestas terras.
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