sábado, 9 de janeiro de 2021

Este fim-de-semana vão contar-se milhafres-reais por toda a Europa

 As contagens anuais das populações invernantes desta ave de rapina fazem-se em Janeiro, em vários países europeus e com ajuda de voluntários, incluindo Portugal.

Milhafre-real. Foto: Hansueli Krapf/Wiki Commons

Até agora, estas contagens paralelas em diferentes países têm sido coordenadas pela organização francesa Ligue por la Protection des Oiseaux (LPO). Mas este ano, pela primeira vez, a iniciativa realiza-se no âmbito do projecto LIFE Eurokite e é coordenada pela austríaca MEGEG – Central European Society for Raptor Protection, em conjunto com vários parceiros.

Esta é uma espécie de conservação prioritária na União Europeia, até porque 95% das suas populações habitam no espaço europeu. O censo internacional começou esta sexta-feira e realiza-se até domingo, dia 11 de Janeiro, e coincide com os censos que são feitos localmente em muitos países – incluindo Portugal.

Foto: Vnyyy/Wiki Commons

Centenas de voluntários vão contar milhafres-reais “em cerca de 212 dormitórios em 20 países europeus, que serão consistentemente contados nos próximos seis anos em Janeiro”, avança em comunicado a MEGEG. Além de Portugal, as contagens fazem-se em Espanha, França, Bélgica, Grã-Bretanha, Irlanda, Dinamarca, Suécia, Polónia e Alemanha, por exemplo.

As áreas mais importantes de invernada dos milhafres-reais situam-se em Espanha e no sul de França, mas cada vez mais milhafres passam os meses mais frios perto dos locais de nidificação no centro da Europa, “provavelmente também devido às alterações climáticas”, acrescenta a organização.

Em Janeiro de 2019, no âmbito deste censo europeu, foram contados mais de 55.000 milhafres-reais nos seus dormitórios. Destes, cerca de 35.000 estavam em Espanha, cerca de 12.000 em França e outros 3.500 na Suíça.

Foto: Frank Vasser/Wiki Commons

Em Portugal, onde se realizam censos de milhafres-reais invernantes desde 2015, as contagens incluem este fim-de-semana e prolongam-se até meados de Janeiro. São coordenadas pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e contam com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, de voluntários e ainda de membros de várias organizações não governamentais de ambiente.

“Sabemos que os milhafres-reais estão distribuídos essencialmente pelo Interior Norte e Centro – desde Montesinho, até ao Alentejo raiano e pontualmente no Algarve Interior e no Alentejo, até quase ao litoral, apanhando também a zona de protecção especial de Castro Verde”, explicou à Wilder Julieta Costa, da SPEA.

Quantos há em Portugal?
No melhor ano das contagens até agora realizadas, 2017, contabilizaram-se 2.200 milhafres-reais invernantes, um pouco abaixo dos 2.700 que são estimados pelo projecto LIFE Eurokite para o território português, indica a responsável da SPEA. Mas para já é difícil saber ao certo quantos são realmente, pois a capacidade de contagem é “muito limitada e com grandes variações anuais”, dependendo da disponibilidade dos parceiros.

Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Esta ave de rapina, muito ameaçada por envenenamentos, é considerada em risco de extinção em Portugal. A população invernante está classificada como Vulnerável, mas ainda pior estará a população reprodutora, que são aves que nidificam no país. Esta última “tem classificação de Criticamente em Perigo, a categoria mais elevada depois da Extinta, segundo o Livro Vermelho das Aves de Portugal.”

Todavia, lembra Julieta Costa, esta avaliação “já tem mais de 10 anos e em relação ao milhafre-real nidificante a sua situação nacional não tem sido seguida”.

Desta vez, tal como sucedeu em anos anteriores, o censo em Portugal concentra-se regiões onde já se sabe que a espécie está presente, “com base no conhecimento que cada organização tem da sua zona”. Além de voluntários e do ICNF, participam a SPEA, a Liga para a Protecção da Natureza, Palombar, Quercus e ATNatureza.

Inês Sequeira

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