Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Em março acordou a flor… e acordou o silêncio… e ficou somente o assombro na linha difusa do medo… à beira duma criatura infinitamente pequena… desconhecida.
Calaram-se as vozes… tarda o abraço... e o adeus é somente uma curva no horizonte…
…as ruas assustam na ausência dos passos… e perdeu-se o gesto das mãos que se dão…
Em março morreste-me e ficou esta perda… infinda… solitária… na quadratura do infinito…
Guernica… tão perto… disforme no limite do desespero humano!
… e à beira da memória arrecadamos os sonhos não sonhados!
… os beijos que se perderam no limite do desejo.
… o amo-te tanto!... que não se disse!... e a casa tão perto!…
… meu filho! Repete-se o grito.
… e o silêncio dói… no apito do comboio vazio… numa estação qualquer… anónima… sem chegadas nem partidas…
… choramos todos os filhos sem pais…. todos os pais sem filhos, todas as casas sem dono… todas as cidades vilas e aldeias sem vozes… e choramos o espanto… o medo… a dor… e fico-me enfurecido com o Deus da guerra, dos dilúvios… de Sodoma e Gomorra… da matança dos primogénitos dos egípcios… das pragas de gafanhotos… das infindas pandemias…
… e fico-me mordendo o arrependimento dos meus humanos pecados… e as crianças?!… porque castigas as crianças, Deus antiquíssimo?!...
… este não é o meu Deus… talvez reencontre outro Deus… humilhado numa cruz… o Deus da misericórdia e da compaixão… talvez reencontre o Deus da vida na cereja madura… na primeira rosa da primavera… na esperança para além da morte…. esse será o meu Deus… tudo o mais é dor… sofrimentos… e destruição…
… e isso está para além da minha humana compreensão!
… não desistas já há boninas nos lameiros!
Calaram-se as vozes… tarda o abraço... e o adeus é somente uma curva no horizonte…
…as ruas assustam na ausência dos passos… e perdeu-se o gesto das mãos que se dão…
Em março morreste-me e ficou esta perda… infinda… solitária… na quadratura do infinito…
Guernica… tão perto… disforme no limite do desespero humano!
… e à beira da memória arrecadamos os sonhos não sonhados!
… os beijos que se perderam no limite do desejo.
… o amo-te tanto!... que não se disse!... e a casa tão perto!…
… meu filho! Repete-se o grito.
… e o silêncio dói… no apito do comboio vazio… numa estação qualquer… anónima… sem chegadas nem partidas…
… choramos todos os filhos sem pais…. todos os pais sem filhos, todas as casas sem dono… todas as cidades vilas e aldeias sem vozes… e choramos o espanto… o medo… a dor… e fico-me enfurecido com o Deus da guerra, dos dilúvios… de Sodoma e Gomorra… da matança dos primogénitos dos egípcios… das pragas de gafanhotos… das infindas pandemias…
… e fico-me mordendo o arrependimento dos meus humanos pecados… e as crianças?!… porque castigas as crianças, Deus antiquíssimo?!...
… este não é o meu Deus… talvez reencontre outro Deus… humilhado numa cruz… o Deus da misericórdia e da compaixão… talvez reencontre o Deus da vida na cereja madura… na primeira rosa da primavera… na esperança para além da morte…. esse será o meu Deus… tudo o mais é dor… sofrimentos… e destruição…
… e isso está para além da minha humana compreensão!
… não desistas já há boninas nos lameiros!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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