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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 1 de março de 2022

… quase poema… ou da carta para Deus

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Em março acordou a flor… e acordou o silêncio… e ficou somente o assombro na linha difusa do medo… à beira duma criatura infinitamente pequena… desconhecida.
Calaram-se as vozes… tarda o abraço...  e o adeus é somente uma curva no horizonte… 
…as ruas assustam na ausência dos passos… e perdeu-se o gesto das mãos que se dão…
Em março morreste-me e ficou esta perda… infinda… solitária… na quadratura do infinito… 
Guernica… tão perto… disforme no limite do desespero humano!
… e à beira da memória arrecadamos os sonhos não sonhados!
… os beijos que se perderam no limite do desejo.
… o amo-te tanto!... que não se disse!... e a casa tão perto!…
… meu filho! Repete-se o grito.
… e o silêncio dói… no apito do comboio vazio… numa estação qualquer… anónima… sem chegadas nem partidas…
… choramos todos os filhos sem pais…. todos os pais sem filhos, todas as casas sem dono… todas as cidades vilas e aldeias sem vozes… e choramos o espanto… o medo… a dor… e fico-me enfurecido com o Deus da guerra, dos dilúvios… de Sodoma e Gomorra… da matança dos primogénitos dos egípcios… das pragas de gafanhotos…  das infindas pandemias… 
… e fico-me mordendo  o arrependimento dos meus humanos pecados… e as crianças?!… porque castigas as crianças, Deus antiquíssimo?!...
… este não é o meu Deus… talvez reencontre outro Deus… humilhado numa cruz… o Deus da misericórdia e da compaixão… talvez reencontre o Deus da vida na cereja madura… na primeira rosa da primavera… na esperança para além da morte…. esse será o meu Deus… tudo o mais é dor… sofrimentos… e destruição… 
… e isso está para além da minha humana compreensão!
… não desistas já há boninas nos lameiros!

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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