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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Em nome de Deus

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

“Eu achava que religião não era para garantir o céu, 
depois da morte,
mas para tornar esse mundo melhor, 
enquanto estamos vivos”
- Rubem Alves -

Se existem momentos na vida das sociedades, que pressuponham a existência de Deus, esta época será um deles.
Chegados a esta altura do ano, imagino sempre, inevitavelmente, o que Deus quererá dizer-nos quando os homens afirmam o convite que Ele, um dia, nos dirigiu no sentido de olharmos e venerarmos a exaltação do Criador que ofereceu o Filho em sacrifício pelos nossos pecados (São João 3:16, Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna).
A reflexão, a humildade, o recolhimento, a procura efetiva sobre o sentido de existência… por onde andam? Acreditar-me-ei cega de fé porque não os vejo no meio de tamanha turbulência de festas e iluminações antecipadas?
Escreveu, certa vez, Marie von Ebner-Eschenbach, que “haveria muito menos mal no mundo, se o mal não pudesse ser feito sob a aparência do bem”. Sinto-me levada a concordar com cada letra da escritora.
Nada melhor do que esta quadra para confirmar como a relação tida com as palavras é tão diferente da relação tida com as ações.
A realidade espiritual adorna-se de rituais pouco vividos e ainda menos sentidos.
Os dias transformados em mais uma passagem que desgasta e satura. O encolher de ombros, a indiferença, a sensação aborrecida do dever cumprido, o cansaço da partilha fingida, a passividade na intenção de oferecer o que se possa ter de melhor. Talvez porque, lá dentro, residam somente sombras e névoas que impedem de ver outra luz que não seja a que se julga luz própria.
No fundo, um tempo e lugar estranhos onde do amor muito pouco se experimenta.
A bem de ver, presépios, palhinhas, manjedouras, cordeirinhos, não fazem milagres. O milagre acontece quando o fazemos acontecer, por nós e, muitas vezes também, em nós. O milagre acontece quando celebramos a fé que nos impele a caminhada, a esperança de tornar melhores os instantes simples, a ousadia de tocar o outro e por ele fazer a diferença num ato que poderá parecer insignificante mas que, apesar do pouco, se torna sublime.
Para quando abrir a alma a uma relação de intimidade connosco mesmos? Com frontalidade, sem o coração posto num protagonismo descabido e que muito pouco alimenta o que existe de verdadeiro bem no interior do peito?
Interessarmo-nos, verdadeiramente, mais por nós do que por aquilo em que desejamos encaixar-nos para mostrarmos aos outros um suposto ‘eu’ convencionado?
Perceber que nesta órbita onde queremos tanto acreditar não existirem impossíveis, só a consciência do quanto somos limitados, pode permitir-nos alcançar esse ponto de felicidade pelo qual tão desesperadamente ansiamos.
Sentimentos puros e autênticos: os únicos que podem e merecem ser oferecidos em nome de Deus, os únicos que nos podem transformar num presente exclusivo.


Paula Freire
- Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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