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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 31 de dezembro de 2022

Comovo-me pela manifestação deste nosso apego bem trasmontano à terra que nos viu nascer.

 Não sei se os meus Amig@s são como eu na forma como se situam em relação aos agregados urbanos. Eu sigo uma regra que diz “Detesto geralmente as grandes cidades.” Dizer isso equivale a dizer que, ao abominar geralmente as terras grandes, aprecio e valorizo geralmente as terras pequenas, onde me sinto mais à vontade e de algum modo senhor de uma certa tranquilidade que contrasta com a permanente sensação de insegurança que sinto, por exemplo, em Lisboa. 
Escrevi um dia, num dos meus livros, estas frases definitivas: «Digamos que gosto da Lisboa de dois, o máximo três dias. Dormir uma terceira noite em Lisboa já começa a pesar-me, a trocar-me as voltas ao sono — e já começo a contar, às voltas com o travesseiro, não os carneiros da praxe, mas os aviões que pela noite fora fazem a sua aproximação ao aeroporto ou, na largada, puxam pelos cavalos todos para tomar altura. E esse é o limite: dormir mais vezes do que isso, é caminho seguro para aborrecer Lisboa.»
Acho que já aqui falei disto, mas ‘quod abundat non nocet’, isto é, usando o vernáculo, ‘por mais não peca’. Estou um pouco como aquele sujeito de Gache (pequena povoação do concelho de Vila Real), que um dia teve de ir a Lisboa fazer não sei o quê. No regresso, os vizinhos sempre quiseram saber quais eram as impressões dele sobre a capital do reino — impressões que ele resumiu lapidarmente nesta frase: “Olhai, rapazes: Lisboa é bonita, mas Gache disse”. O que equivalerá aproximadamente a dizer: Lisboa é bonita, mas não chega aos calcanhares de Gache.
Quando me vem à lembrança a bravata do aldeão, confesso que não sei se hei-de rir ou se me hei-de comover. E acabo por fazer as duas coisas. Rio-me pela desconformidade na avaliação da beleza dos dois termos em confronto, Lisboa e Gache. Comovo-me pela manifestação deste nosso apego bem trasmontano à terra que nos viu nascer. 
Agora, querem os meus Amig@s saber? Ao folhear o meu álbum de fotos, deparou-se-me esta de Miranda do Douro e planeava dizer duas larachas sobre essa pequena cidade de que tanto gosto, por ser pequena e por ter um não-sei-quê que me arrebata. E ia embalado nessa direcção, quando o encadeado das ideias me foi alterando a rota e me levou até Gache.
Não faz mal. Gostei de revisitar Gache. E Miranda fica para outro dia.

A. M. Pires Cabral

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