Chocalheiro de Bemposta Cm Mogadouro |
É no concelho transmontano de Mogadouro, perto da fronteira com Espanha, que se encontra uma das mais estranhas e bizarras celebrações que atravessam o Natal. Celebram-se rituais pagãos milenares associados ao solstício de inverno marcados pela presença demoníaca dos chocalheiros, mais populares na época de Carnaval, mas que ao longo do inverno marcam as tradições desta região. “Assustadoras, misteriosas e fascinantes são as máscaras que andam à solta no inverno transmontano. A tradição tem raízes milenares e transforma pacatos rapazes em diabos, chocalheiros, zangarrões e caretos. Do Natal ao Carnaval, esta festa é muito nossa”, explica a autarquia de Mogadouro.
No caso específico da freguesia de Bemposta, o diabo sai à rua duas vezes por ano. O Chocalheiro, nome desta demoníaca figura, veste com fato de linho grosso de cor escura e esconde o rosto numa máscara em madeira, pintada de preto e vermelho, e dois cornos com duas laranjas espetadas nas extremidades. Cheia de simbolismo, esta máscara tem também uma serpente esculpida, do queixo sai-lhe uma barbicha de bode e, na parte da nuca, está pendurada uma bexiga de porco. O Chocalheiro sai à rua sempre no dia 26 de dezembro, dia de Santo Estevão, e depois a 1 de janeiro. Para acompanhar as novidades sobre as festividades fique atento à página da Maschocalheiro - Associação de Bemposta
Chocalheiro de Bemposta Rota Da Terra Fria
Sem meter grande medo nas ações, só mesmo na feia carantonha com que se apresenta, à passagem o Chocalheiro vai pedindo esmola, que depois doa à igreja, em leilão no dia 1 de janeiro. Conta a lenda que o diabo cumpre, assim, penitência por ter tentado a Nossa Senhora, e que foi, por isso, condenado a pedir, para lhe pagar, a ela, e ao filho, o Menino Jesus. A escolha de quem vai encarnar e vestir a pele do Chocalheiro de Bemposta é feita na noite de 25 de dezembro, na casa do mordomo da festa, ganhando quem mais “mandar”. As “mandas” são as ofertas feitas por cada um dos candidatos, que assim se digladiam para conseguir o direito ao fato de Chocalheiro. Sempre com uma tenaz na mão, a partir das 8h00 de dia 26, o diabo manso, que não fala para a identidade não ser descoberta, percorre as ruas para pedir a esmola, que funcionam como promessas pedidas ou pagas a Nossa Senhora das Neves. Antigamente, e à falta de dinheiro, cada um dava o que podia, desde fatias de pão, a ovos, fumeiro ou fruta. Perseguido pelas crianças e acossado pelos populares que se juntavam para tentar descobrir quem é o Chocalheiro de Bemposta, o diabo percorria os caminhos da aldeia. Só no final dos “festejos” é que cai a máscara e todos ficam a saber a identidade. No dia 1 de janeiro, repete-se o ritual, mas agora, o manso dá lugar ao diabo bravo, que faz novo peditório. Os dois dias de saída do Chocalheiro de Bemposta incluem celebrações religiosas, além de comida, bebida e muita animação.
“Enquanto elemento unificador e caracterizador de uma comunidade”, o Chocalheiro de Bemposta foi oficialmente reconhecido, em 2021, como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal. À entrada da aldeia existe uma estátua que imortaliza a figura do Chocalheiro. Esta é uma grande festa, que mistura o religioso e o pagão, e repleta de simbolismo, já que representa o início de um novo ciclo, com o final de um ano e início de um novo; a fertilidade na forma da serpente que o diabo leva ao pescoço ou à cintura, e a prosperidade das sementeiras, na forma das laranjas que leva penduradas nos cornos.
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