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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A Quinta do Lima - de D. Sebastião ao Bisbaia, que é como quem diz

Por: Carlos Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quando, há tempos, o Estácio Araújo desencantou o despacho régio de D. Sebastião, 1571, concedendo aos Jesuítas a posse da Quinta da Rica-Fé nos arredores de Bragança, aos meus olhos de garoto, no falar de Meles, até lhes deu a risa. O que o Araújo veio lembrar, a Quinta da Rica-Fé! E dali a Sessenta - de 1571 a 1960 -, os meus olhos a bulir, foi um pulinho.
 D. Sebastião, que sei eu disto - a não ser ter lido, de Aquilino Ribeiro, "Aventura Maravilhosa de D. Sebastião Rei de Portugal, depois da Batalha com o Miramolim" -, pelos vistos também foi um mãos-largas com os Jesuítas. Bem lhes calhou, que dois séculos à frente, com o Marquês a servir daquela maneira D. José, não teriam tido a mesma sorte…  
A verdade é que, como documentou o Araújo, a Quinta da Rica-Fé lhes foi parar também ao poderoso património.
A Quinta da Rica-Fé…
Como a Política aos políticos e a História aos historiadores, não é de política, e muito menos de história, que a Quinta da Rica-Fé me afoga hoje em nostalgia. Não essa Quinta, que o mãos-largas do D. Sebastião concedeu aos Jesuítas, mas a Quinta do Lima, ou talvez mais a do Bisbaia, seu pastor, que tanto palmilhei de garoto na arte de bem-armar pescoceiras a tralhões, tanjasnos, pardinhas, picanços, rabo-ruços e outros desgraçados malucos por formiga-de-asa.
No tempo dos Jesuítas, não sei; agora da Quinta do Lima, da Quinta do nosso tempo e do Bisbaia, que também era nossa porque era a Quinta dos nossos pássaros, sei-o bem. 
Cedinho, princípios de Setembro, ainda o Sol mal se pusera a pino e já nós, cevadinhas em casa, tínhamos armado a dúzia e meia que compráramos no senhor Américo da Estacada. 
Depois, coração a bater, a espera naquela fonte monumental de 1700, onde os Jesuítas provavelmente nunca imaginaram que a garotada dia algum viesse ali matar a sede. Que água boa, aquela água!
Espreitava o Sol, o Sol é que mandava, terminava a primeira espera. E nós que nem mola, oh! que paixão, por ali acima, a vê-las. Regra geral, desarmadas, todas tinham. Os desgraçados caíam que nem tchinchos!
Isto a espera, o Sol, o Sol é que mandava, até meio da manhã. 
Quando o calor começava a apertar, terminava a faina. E lá vínhamos nós, cabaçote à cinta, pescoceiras à mostra, cordão ao pescoço, contchos que nem caçador de cinto recheado! Nós, o nosso mundo, tudo ali, da Quinta do Lima e não da Rica-Fé, nossa e do Bisbaia, que é como quem diz.
Aquele Bisbaia, nem quero que me lembre aquele Bisbaia, baixinho, risonho, cabelo que nunca vira pente, divertido, armando sombreiro à cara e a disparar pelo traseiro gritando “caiu! caiu!”, nem quero que me lembre aquele Bisbaia! Quem sabe se D. Serbastião em Alcácer-Quibir, que sei eu disto, como o Bisbaia na Quinta do Lima, meio agarotado como nós, não usara da mesma pólvora para tamanha desgraça em terra de tanjasnos…
Chegados à Cidade, todos os garotos, olhando para nós, nós uns heróis, sabiam de onde vínhamos. É que o mata-bicho na Quinta do Lima se fazia sempre nas fartas amoreiras, que nos deixavam sempre que nem índios!

Carlos Pires

Carlos Pires
é natural de Macedo de Cavaleiros, tendo adoptado a pequena aldeia de Meles, onde crestou à  solta nas férias grandes, como o seu verdadeiro berço. Como jornalista, fez parte das Redações do "Tempo", "Portugal Hoje", " Primeira Página", "Liberal", "Semanário" e da revista de economia "Exame" (de que foi editor). Em Bragança, colaborou no semanário "Mensageiro de Bragança" (1970-72), tendo sido co-fundador do semanário "ÈNÍÉ - uma voz do Nordeste Português" (1975) e da publicação  "Domus", da Casa de Cultura da Juventude de Bragança (1977-78).
Foi assessor de imprensa de Maldonado Gonelha, ministro da Saúde (1983-85).
Entrou para o Infarmed em fins de 2000, depois de ter sido assessor de imprensa da ministra Elisa Ferreira, nos dois governos de António Guterres, primeiro no Ministério do Ambiente, depois no Planeamento (1995-2000).
No Infarmed criou o Gabinete de Imprensa, tendo sido porta-voz da instituição durante mais de uma dúzia de anos.
Alguns aspetos marcantes: a iniciativa da realização de um curso para jornalistas (2001), ministrado por peritos do Infarmed, em que os principais órgãos de informação estiveram representados, sobre o ciclo de vida do medicamento; a elaboração do jornal da instituição, "Infarmed Notícias", trimestral (de que é coordenador/editor/redator), tendo publicado já 78 números; a edição especial de Janeiro de 2018, com 120 testemunhos sobre o INFARMED na altura conturbada da ideia controversa da sua deslocalização para o Porto (depois editada em livro); e ainda a publicação de um livro, editado pela Âncora, "Redondilhando", que nasce no seio da instituição e cujo prefácio foi assinado por Ernesto José Rodrigues.

1 comentário:

  1. A descrição que fazes desta, quase, "epopeia", levou-me "nas asas do tempo" até à Veiga de Gostei lá pelos idos de 60 do século passado. Tínhamos tanto com tão pouco.

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