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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Nossa Senhora dos Remédios de Tuizelo

Local: Tuizelo, VINHAIS, BRAGANÇA

Para falar acêrca da lenda de N. Sr.a dos Remédios sirvo-me, além do que colhi do povo, do que escreveu o Frei Agostinho de S.ta Maria, corrigindo algumas informações toponímicas que andam misturadas com as de outras localidades. 
 Em dia de verão canicular andava uma rapariga, muda de nascença, a pastorear o gado no logar de Pereiros junto à ribeira de S.ta Maria, hoje de S. Cristo, quando viu baixar da encosta uma senhora que pela sua inexcedível beleza lhe pareceu mais do ceu que da terra; seu rosto resplandecente como um clarão boreal confundiu a menina de tal sorte que a fez cair por terra assustada; a senhora, porém, aproximando-se, disse-lhe: «não tenhas mêdo, eu sou a Virgem dos Remédios! Vem comigo que te hei-de dar água para matares a sêde.» Dali a alguns passos, a meio da encosta, uma fonte brotou do chão ressequido pelo verão ardente, e a Virgem, inclinando a fronte, colheu a água nas mãos, que deu à pastorinha, desaparecendo em seguida. À noite, no regresso com o rebanho ao redil, a menina ia pensando consigo como havia de contar ao mundo tão maravilhoso acontecimento; e, qual não foi o seu espanto, ao transpor o limiar da porta da cozinha, sentiu a língua desprender-se, correndo alegremente a dizer à família o que tinha visto, no meio da grande admiração dos circunstantes. A notícia correu veloz de terra em terra, o povo das cercanias afluía a admirar o milagre.
 No sítio da nascente, a que mais tarde chamaram a hortinha do Conde, existe uma fonte de granito, aonde, durante muitos anos, os fiéis iam beber a límpida água que dela mana levando-a em garrafas como antídoto de certas moléstias. 
 Decorreram alguns dias sem nova manifestação; e num sábado, estava a pastorinha a passar a sesta no sítio do Pinheirez, à Ribeira, quando a Virgem lhe apareceu; a qual a tomou pelo braço e levou até junto de um fio de água que nesse instante fez brotar da terra, dando-lhe de beber com as próprias mãos em forma de concha. Agora, sim, agora já podia agradecer-lhe; e na sua linguagem simples e rude entoou um hino de louvores, preguntando-lhe porque lhe fazia tamanho favor. — «É porque, disse, é grande a indiferença do povo para comigo! Vai, e dize-lhe que não trabalhem ao domingo e não faltem à missa.» E, de repente, a visão desapareceu. A terceira aparição foi novamente na ribeira de S.ta Maria, junto do velho templo da Virgem dos Remédios, de que nada resta a não ser o chão relvoso, vendo o povo em uma cova ali existente o logar dos alicerces, cova que, dizem, nunca mais criou herva para memória eterna. 
 Estava a menina a comer a merenda quando a Virgem lhe apareceu no meio de uma nuvem de côres polícromas como o arco iris; e ela, em transportes de júbilo, ajoelhou, oferecendo-lhe, num rasgo de inocência, da merenda; no final do repasto, a Mãe de Deus disse-lhe: «Diz ao povo que é meu desejo que o meu templo, aqui tão exposto às tormentas, seja mudado para o campo do cimo do povo, para o logar onde virem um circulo de neve, o qual também indicará o tamanho.» E foi-se, não sem deixar no regaço da pastorinha, atónita, algumas moedas de ouro para auxilio da construção do novo templo. 
 A menina foi recolhida por um nobre fidalgo da terra de nome Gonçalo de Morais Sarmento, a cujo solar correspondem hoje as casas da família do nosso amigo P.e João Gonçalves, pároco de Ervões, Valpassos, a quem agradeço o documento que vai copiado abaixo. 
 O templo foi construído a expensas de todos os povos da região. 
 Quando foi mudada a imagem de N. Sr.a dos Remédios da Ribeira de S.ta Maria para a nova igreja, conta o povo, que ao chegar a procissão ao cotovelo do outeiro próximo que esconde a vista do campo em que assentava o velho templo, Nossa Senhora olhou para trás e disse: « adeus filho! não chores por mim, que fico perto! » 
 Muitos milagres lhe são atribuidos pelo povo, vindo alguns já descritos no Santuário, de entre os quais apenas mencionaremos estes: Por ocasião do bicho que invadiu os castanheiros, fez-se, uma novena a N. Sr.a, a qual, sendo levada em procissão pelos soutos, fazia cair os malignos insectos no chão; acontecimento que durante muitos anos o povo comemorou, mandando cantar em Agôsto uma missa, e vindo de diferentes terras em procissão a Tuizelo. O Santuário diz: «isto jura em huma certidão Balthazar de Moraes Sarmento, cavalleiro do habito de Christo e fidalgo da casa de sua Magestade, descendente de Gonçalo de Moraes Sarmento de quem foi creada a pastorinha.»

Fonte:MARTINS, Pe. Firmino Folklore do Concelho de Vinhais. Vol. 1 s/l, Câmara Municipal de Vinhais, 1987 [1928] , p.114-117

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