Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
…podia ter ido até Bragança conversar com os amigos… ver o Natal do nosso desassossego… entrar numa grande superfície onde tudo é barato… numa oferta desmesurada dum capitalismo sem rosto nem alma! Podia!
O velho Soto do meu pai ruiu pela força dos anos e Invernos muitos…já não sinto o cheiro a polvo de meia cura, nem a tia Angélica vem comprar uma quarta de pimento… uma bica de tripas e um quarteirão de petróleo… mas o Soto do meu pai tinha um rosto, uma alma e os vizinhos compravam como podiam e os papéis do fiado honravam o negócio.
Por isso, fico aqui… aprende-se a viver na aldeia… a ouvir os vizinhos, a recomendar-lhe paciência e chás de virtude para as maleitas do corpo e sobretudo para as incuráveis doenças da alma!
O filho há-de vir… claro que vem pelo Natal… é tão bom filho!
Claro que vem! Num Natal qualquer em que os anjos descerão de novo à Terra, na mais fria e estrelada noite dum Dezembro qualquer!
Eu disse-te que queria fazer o Natal contigo… espero-te como a flor espera a água e o mar espera o rio! Quem espera nunca está só… tem a companhia do sonho límpido da chegada!
Pronto… vou-me acender o lume… já ouço o Torga a dizer: ““na cidade és uma ficção entre ficções, na aldeia uma criatura entre criaturas”
… espero-te pelo Natal!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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