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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Guerra Junqueiro: "João Pateta"

 João era filho de uma pobre viúva, bom rapaz, mas um pouco simplório. A gente da aldeia chamava-lhe por brincadeira João Pateta. Um dia sua mãe mandou-o à feira comprar uma foice. À volta, começou a andar com a foice à roda, de maneira que a foice caiu em cima de uma ovelha, e matou-a.

- Pateta, disse-lhe sua mãe, o que deverias ter feito era pôr a foice em um dos carros de palha ou de feno de algum dos vizinhos.

- Perdão, mãe, respondeu humildemente João, para a outra vez serei mais esperto.

Na semana seguinte mandaram-no comprar agulhas, recomendando-lhe que as não perdesse.

- Fique descansada. E voltou todo orgulhoso.

- Então, João, onde estão as agulhas?

- Ah! estão em lugar seguro. Quando saí da loja em que as comprei, ia a passar o carro do vizinho carregado de palha; meti lá as agulhas, não podem estar em sítio melhor.

- De certo, estão em lugar de tal modo seguro, que não há meio de as tornar a ver. Devias tê-la espetado no chapéu.

- Perdão, respondeu João, para a outra vez, hei de ser mais esperto.

Na outra semana, por um dia de calor, João foi dali uma légua comprar uma pouca de manteiga. Lembrando-se do ultimo conselho de sua mãe, pôs a manteiga dentro do chapéu e o chapéu na cabeça. Imagine-se o estado em que voltou para casa, com a cara a escorrer manteiga derretida.

A mãe já tinha medo de o mandar fazer qualquer recado. No entanto um dia resolveu-se a mandá-lo à feira vender duas galinhas.

- Ouve bem, não vendas pelo primeiro preço. Espera que te ofereçam outro.

- Está entendido, respondeu João.

Foi para a feira. Um freguês chegou-se a ele.

- Queres seis tostões por essas galinhas?

- Ora adeus! minha mãe recomendou-me, que não aceitasse o primeiro preço, mas que esperasse o segundo.

- E tens muita razão. Dou-te um cruzado.

- Está bem. Parece-me que tinha feito melhor em aceitar o primeiro, mas, como cumpro as ordens de minha mãe, ela não tem que me ralhar.

Depois disto, João foi condenado a ficar em casa. Sua mãe sabia que mangavam com ele, e se riam dela. Uma manhã quis fazer uma experiência, e disse-lhe:

- Vai vender este carneiro à feira. Mas não te deixes enganar. Não o entregues senão a quem te der o preço mais elevado.

- Está bem, agora entendo, e sei o que hei de fazer.

- Quanto queres por esse carneiro?

- Minha mãe disse-me que o não vendesse senão pelo preço mais elevado.

- Quatro mil réis?

 É o preço mais elevado?

- Pouco mais ou menos.

- É minha a lã e o carneiro, disse um rapaz que trepara a uma escada.

- Quanto?

- Dez tostões.

- É menos, respondeu timidamente o João.

- Sim, mas vês até onde chega esta escada. Em toda a feira não há um preço mais elevado.

- Tem razão. É seu o carneiro.

Desde esse dia o João Pateta não tornou a ser encarregado de vender ou comprar cousa alguma.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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