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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Guerra Junqueiro: "Os cinco sonhos"

 Andando um dia Carlos Magno à caça com uma comitiva numerosa, perseguiu um veado, que dava tais saltos, e corria por tal forma, que, apesar da ligeireza do seu cavalo, o rei perdeu-lhe completamente a pista. Foi só então que viu que estava só, tendo a sua corte ficado muito para traz; sentindo-se fatigado, entrou ao cair da noite numa choupana solitária no meio da floresta. Em roda da lareira estavam deitados quatro ladrões. Os salteadores levantaram-se logo, como despertados pelo barulho da entrada do viajante; cada um deles tinha tido um sonho, que lhe quiseram logo contar.

O primeiro que tomou a palavra exprimiu-se desta maneira:

- No meu sonho, tirava eu o capacete de ouro à pessoa que acaba de entrar aqui, e punha-o na minha cabeça.

- Eu, disse o outro, sonhei que vestia a sua couraça.

- E eu que estava pondo o seu manto.

- E eu, disse o quarto ladrão, para lhe fazer favor, passava em roda do meu pescoço aquela pesada cadeia de ouro, da qual está pendurada a sua trompa de caça.

- Vejo bem, disse o imperador, que tem tenção de me roubar tudo, e mesmo a vida. Reconheço que estou em poder de vocês, e que toda e qualquer resistência seria inútil. Não lhes peço senão uma cousa, é que me deixem tocar pela ultima vez na minha trompa de caça.

Os salteadores responderam que consentiam, visto que o ultimo pedido de um moribundo deve ser respeitado.

Carlos Magno levou à boca a sua magnífica trompa de marfim, e tirou dela sons tão fortes e sonoros, que em menos de alguns minutos todos os seus companheiros de caça e a sua comitiva estavam ao pé dele.

- Agora, disse o imperador, dirigindo-se aos salteadores, agora também eu devo contar o sonho que tive. Sonhei que vocês todos iam ser enforcados diante deste casebre.

E o sonho realizou-se imediatamente.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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