O primeiro que tomou a palavra exprimiu-se desta maneira:
- No meu sonho, tirava eu o capacete de ouro à pessoa que acaba de entrar aqui, e punha-o na minha cabeça.
- Eu, disse o outro, sonhei que vestia a sua couraça.
- E eu que estava pondo o seu manto.
- E eu, disse o quarto ladrão, para lhe fazer favor, passava em roda do meu pescoço aquela pesada cadeia de ouro, da qual está pendurada a sua trompa de caça.
- Vejo bem, disse o imperador, que tem tenção de me roubar tudo, e mesmo a vida. Reconheço que estou em poder de vocês, e que toda e qualquer resistência seria inútil. Não lhes peço senão uma cousa, é que me deixem tocar pela ultima vez na minha trompa de caça.
Os salteadores responderam que consentiam, visto que o ultimo pedido de um moribundo deve ser respeitado.
Carlos Magno levou à boca a sua magnífica trompa de marfim, e tirou dela sons tão fortes e sonoros, que em menos de alguns minutos todos os seus companheiros de caça e a sua comitiva estavam ao pé dele.
- Agora, disse o imperador, dirigindo-se aos salteadores, agora também eu devo contar o sonho que tive. Sonhei que vocês todos iam ser enforcados diante deste casebre.
E o sonho realizou-se imediatamente.
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.
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