Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Pois não tem acontecido nada que permita a este humílimo recolector de memórias, afetos e sinais dar conta do devir da aldeia.
Há muito que se calou a voz do altifalante que assustou a estrada:
- Fiquem em casa!
Os vizinhos já andam na sua faina à volta do ano como quem cumpre um fadário. Os filhos hão de vir para a festa de São Lourenço em tempo de verão.
Felizmente o vírus que veio do fim do mundo quase não chegou à pacatez da aldeia…e cumpre-se o dever de todos os trabalhos do quotidiano… as hortas não podem esperar…
Choveu, as batatas já semeadas encheram-se de erva. O vizinho cisma nas longas tardes a cavar a horta.
- Não te agonies homem!… levas a minha burra e com o aradico… dás-lhe uma lavradela no suco e já ficam boas! Diz a vizinha. O vizinho concorda, coçando a cabeça.
Fui ver as cerejas. Amadurecem. Esperam que o sol lhe traga o doce. Os pardais regalam-se. Chegam para todos.
Aos meus pés rebentaram as dálias. Já me tinha esquecido das dálias, mas elas nunca se esquecem de mim. Ingrato. Todos os anos rebentam esplendorosas depois de repousarem durante o longo inverno no seio da terra mãe.
… obrigado por não se esquecerem… morremos um pouco quando se esquecem de nós!…
… bendita seja a natureza e São Sebastião e São Roque meus vizinhos que nos livraram desta doença que veio do fim do mundo!...
… coisas do céu!
Há muito que se calou a voz do altifalante que assustou a estrada:
- Fiquem em casa!
Os vizinhos já andam na sua faina à volta do ano como quem cumpre um fadário. Os filhos hão de vir para a festa de São Lourenço em tempo de verão.
Felizmente o vírus que veio do fim do mundo quase não chegou à pacatez da aldeia…e cumpre-se o dever de todos os trabalhos do quotidiano… as hortas não podem esperar…
Choveu, as batatas já semeadas encheram-se de erva. O vizinho cisma nas longas tardes a cavar a horta.
- Não te agonies homem!… levas a minha burra e com o aradico… dás-lhe uma lavradela no suco e já ficam boas! Diz a vizinha. O vizinho concorda, coçando a cabeça.
Fui ver as cerejas. Amadurecem. Esperam que o sol lhe traga o doce. Os pardais regalam-se. Chegam para todos.
Aos meus pés rebentaram as dálias. Já me tinha esquecido das dálias, mas elas nunca se esquecem de mim. Ingrato. Todos os anos rebentam esplendorosas depois de repousarem durante o longo inverno no seio da terra mãe.
… obrigado por não se esquecerem… morremos um pouco quando se esquecem de nós!…
… bendita seja a natureza e São Sebastião e São Roque meus vizinhos que nos livraram desta doença que veio do fim do mundo!...
… coisas do céu!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Sem comentários:
Enviar um comentário