Viola: Pormenor da viola de gamba durante a recuperação. O ciclo de concertos com instrumentos históricos, que vai até novembro, só é possível com a ajuda de músicos e técnicos |
Vários grupos musicais e empresários do setor no Nordeste Transmontano juntaram-se num movimento que ameaça manifestar-se na rua e boicotar as eleições autárquicas se se mantiver a proibição de festas durante o verão nesta região.
A "revolta", como disse esta sexta-feira à Lusa um dos dinamizadores, Paulo Fernandes, surgiu depois de a Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes ter anunciado, esta semana, que mantém a proibição de eventos ao ar livre, até 30 de setembro, para contenção da pandemia covid-19.
"A CIM está a ser muito carrasca para o setor, na medida em que apenas e só o Nordeste Transmontano é que não se mostra recetivo a fazer espetáculos com segurança", afirmou Paulo Fernandes, membro de um grupo (Chamamusical), que anima as festas de verão na região, proibidas desde o início da pandemia.
A revolta com a decisão ganhou forma num movimento a que chamam "núcleo de artistas e empresários de espetáculos do Nordeste Transmontano" e que reúne grupos musicais e folclóricos, como os pauliteiros, bandas filarmónicas e vendedores ambulantes, entre outros empresários que vivem das festas que animam as aldeias da região durante os meses de verão.
Os contestatários não encontram justificação para não autorizar estes eventos "num território de baixa densidade" e rejeitam "a desculpa, que não faz sentido, dos maiores ajuntamentos com a chegada dos emigrantes, uma vez que os turistas estrangeiros estão a chegar a Portugal", como vincou Paulo Fernandes.
"Se há zona do país onde é seguro fazer espetáculos é no Nordeste Transmontano, não falta espaço e é uma zona de baixa densidade populacional", considerou.
Segundo disse, o movimento já delineou um plano de ação que tem como primeiro passo chegar ao diálogo com a CIM Terras de Trás-os-Montes.
"Já tentámos contacto telefónico com a CIM e o que nos foi respondido é que este assunto só poderá ser falado novamente na próxima reunião, daqui a 15 dias", contou à Lusa.
Os contestatários vão continuar a insistir no contacto com a CIM e com os autarcas individualmente e, se não tiverem resultados, avançam que o próximo passo será uma manifestação em frente à sede da Comunidade Intermunicipal, em Bragança.
O núcleo programou uma terceira ação e, se não houver festas durante o verão, ameaçam "fazer boicote às eleições autárquicas", que devem ocorrer em setembro ou outubro e nas quais os candidatos/autarcas vão precisar de som e de outro equipamento normalmente disponibilizado por estes grupos.
Paulo Fernandes ressalva que o setor sabe que "são necessárias regras, mas não medidas estremadas, "e critica a CIM por nem sequer ter falado com os representantes e tentado encontrar uma solução ou elaborar um plano para autorizar os eventos em segurança.
"Há aqui falta de vontade política, pensar dá trabalho, mas é para isso que os autarcas lá estão", apontou.
Paulo Fernandes realçou ainda que o setor ficou mais revoltado por a CIM ter apertado mais as regras em relação ao verão anterior, não permitindo qualquer manifestação na via pública, mesmo as tradicionais arruadas com gaiteiros.
"O ano passado conseguimos trabalhar, pouco, mas conseguimos, durante o mês de agosto com um espetáculo em movimento com um camião que passava pelas localidades. Este ano a CIM proibiu qualquer manifestação folclórica na via pública", concretizou.
De acordo com Paulo Fernandes, no "núcleo de artistas e empresários de espetáculos do Nordeste Transmontano" estão representadas diretamente cerca de 600 pessoas" de grupos musicais, bandas filarmónicas e ranchos folclóricos.
Indiretamente, como salientou, o movimento representa também outros que vivem destes eventos, como a pirotecnia, os preparadores de andores para as procissões ou os vendedores ambulantes.
"Ninguém consegue perceber como é que é possível estarem 80 pessoas a beber numa esplanada e ali ao lado ser proibido fazer uma festa", enfatizou.
Contactado pela Lusa, o presidente da CIM Terras de Trás-os-Montes, Artur Nunes, afirmou que "se houver pedidos de audiência, obviamente" que estes empresários irão ser recebidos.
Em relação à decisão sobre as festas, Artur Nunes, justificou que ela resulta da conclusão de que "neste momento não há condições".
Porém, acrescentou, a CIM vai "acompanhando com as diferentes autoridades o evoluir da situação".
"Não queremos o prejuízo do setor, o que queremos é ir acompanhando (a situação sanitária) para conseguir o desconfinamento total e imunidade de grupo", afirmou à Lusa.
A CIM Terras de Trás-os-Montes abrange nove dos 12 concelhos do distrito de Bragança, concretamente Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso e Vinhais.
O distrito todo somava um total de 50 casos ativos de infeção pelo novo coronavírus, no boletim das autoridades de saúde divulgado na quinta-feira.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.419.488 mortos no mundo, resultantes de mais de 164,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 17.013 pessoas dos 843.278 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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