sábado, 22 de maio de 2021

Uma Rua e uma Cidade

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

De vez em quando  passo na Avenida Sá Carneiro e logo depois do palácio do Tribunal de Trabalho e passado o edifício da antiga Torralta  dou de frente com a implantação de uma escada rolante que me parece ter sido  colocada ali para termos mais  coisas para deixarmos vandalizar.
O passado passou e não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Sendo assim continuo a imaginar o dito espaço onde agora implantaram a escada rolante, como era até à chegada da britadeira  que  iniciou os trabalhos que tornaram o local  um inferno e tornou a gente simples  que vivia  com alegria e em comunidade, nervosa e desesperada. Lembro as criança que se adaptaram ao "chinfrim" ocasionado por máquinas e homens que fizeram as fundações.
Depois foi o tempo da tomada da posse das casas existentes do lado ascendente por parte da empresa Torralta que as adquiriu sem apelo nem agravo, dispersando toda a gente, prometendo fazer do local um dos espaços mais aprazíveis da Cidade.
Acabaram-se os bombeiros de brincar, os jogos do pião "bulharacos" pingue, eixo e esconde-esconde. Terminaram os jogos de futebol na cortinha  da Albininha Guerra, que assistiu a tantos jogos  de futebol sem balizas e uma sombra foi crescendo até passados que foram dez anos, abriu ao público, um Hotel, uma sala de cinema e uma delegação do Montepio Geral. Foi lenta a construção e foi curto o tempo de vida da actividade comercial da Torralta.
Começou passando por cima dos direitos dos simples e pequenos  que não tiveram voz para se oporem, arrecadando a ajuda e compromisso da CMB que nem sequer foi zelosa na fiscalização dos acabamentos que o caderno de encargos exigia! Entretanto o edifício foi-se degradando e com ele toda a zona que já era velha em 1960 e por isso deviam ter acautelado a sua conservação. Não cuidaram disso e as casas foram-se arruinando e os moradores da parte ímpar que foi poupado  ao camartelo foram saindo pelas contingências da vida e por impossibilidade de melhorarem o estado do deserto que lhes calhou em sorte.
Ficou o Abílio Reis, que fez obra, o Professor Maximino, ele próprio um resistente e regressou e comprou espaço o Zé Santana. São estes os resistentes, o último bastião dos da Caleja.
Chegados aqui, gostaria de perguntar a quem saiba, o que se vai fazer ali? Não consigo vislumbrar qual a lógica de umas escadas com aquele luxo num lugar cuja envolvendo é no mínimo degradado. As entradas não sendo convidativas  levam-nos a uma Zona que à ilharga das escadas é uma desolação.
É de justiça dizer-se que a limpeza da área pedonal é boa ou minimamente boa já que nas ruas do Norte e na entrada pela 5 de Outubro vive gente que não deixaria de exigir tal.
Quanto ao largo que se formou daquela desordem nem é bom falar.
Quanto à escada rolante será uma obra à qual desejamos muita sorte pois nos parece que como outras coisas caras não deixará de haver alguém que queira escrever em parte bem visível uns hieróglifos que ninguém entende e conspurcam ainda  mais o espaço!

Porquê?



Bragança 21/05/2021
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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